segunda-feira, 7 fev 2022
Se você pedir a um cidadão comum para pensar nos
dois extremos do espectro político, são grandes as chances de que ele irá
imediatamente visualizar, de um lado, a suástica e, do outro, a foice e o
martelo.
Independentemente de quais sejam suas visões acerca
do paradigma esquerda-direita, ou mesmo se ele acredita na teoria da ferradura,
este indivíduo (corretamente) irá pensar no fascismo e no comunismo como sendo
as duas ideologias típicas dos extremos.
No entanto, e curiosamente, a rejeição a ambos os símbolos
não é a mesma.
Ao verem a suástica, as pessoas imediatamente são remetidas
aos horrores do regime nazista, com suas perseguições étnicas e seus homicídios
sistematizados, e corretamente sentem uma total repulsa. Em vários
países europeus, com efeito, ostentar publicamente uma suástica é crime. Dado
que os nazistas foram responsáveis pela chacina de cerca
de 20 milhões de pessoas, todos nós entendemos quão abominável é esta
ideologia e corretamente a tratamos com desrespeito e repugnância.
Porém, como estas mesmas pessoas reagem ao símbolo da
foice e do martelo? Em várias ocasiões, há aceitação. Na maioria das vezes, há apenas
indiferença. O que leva à inevitável pergunta: por que a ideologia responsável diretamente
por centenas de milhões de mortes não recebe o mesmo tratamento que a ideologia
nazista?
Um
histórico vermelho de sangue
Os atos inomináveis de Adolf Hitler empalidecem em
comparação aos horrores cometidos pelos comunistas na antiga URSS, na República
Popular da China e no Camboja, apenas para ficar entre os principais.
Entre 1917 e 1987, Vladimir Lênin, Josef Stalin e
seus sucessores assassinaram 62
milhões de pessoas do seu próprio povo. O ponto de partida foi a Ucrânia, onde, de acordo
com o historiador Robert Conquest, o regime comunista foi o responsável direto por 14,5 milhões de mortes.
Já entre 1949 e 1987, o comunismo da China, liderado
por Mao Tsé-Tung e seus sucessores, assassinou ou de
alguma maneira foi o responsável pela morte de 76 milhões de chineses (há
historiadores que dizem que o número total pode ser de 100 milhões ou mais.
Somente durante o Grande Salto para Frente, de 1959 a 1961, o número
de mortos varia entre 20 milhões e 75 milhões. No período anterior foi de 20
milhões. No período posterior, dezenas de milhões a mais.)
O próprio Mao Tsé-Tung famosamente se gaba de ter
"enterrado vivos 46.000 intelectuais",
o que significa que ele os enviou para campos de concentração, onde ficariam
calados e morreriam de fome.
No Camboja, o Khmer Vermelho exterminou
aproximadamente 3 milhões
de cambojanos, em uma população de 8 milhões. Este radical movimento
comunista comandado por
Pol Pot chegou ao ponto de ter como alvo qualquer
pessoa que usasse óculos. Crianças eram assassinadas a
baionetas.
No total, os regimes marxistas assassinaram
aproximadamente 110 milhões de
pessoas de 1917 a 1987. Destes, quase 55 milhões de pessoas morreram em
vários surtos de inanição e epidemias provocadas por marxistas — dentre estas,
mais de 10 milhões foram intencionalmente esfaimadas até a morte, e o resto
morreu como consequência não-premeditada da coletivização e das políticas
agrícolas marxistas.
Para se ter uma perspectiva deste número de vidas
humanas exterminadas, vale observar que as duas grandes guerras mundiais do século XX,
mais as Guerras da Coréia e do Vietnã, mataram aproximadamente 85 milhões
de civis. Ou seja, quando marxistas controlam estados, o marxismo é mais
letal que as principais guerras do século XX combinadas.
Os
aliados
Ou seja, não é exatamente por falta de conhecimento.
Afinal, assim como o Holocausto, os gulags da União Soviética, o Holodomor, os
campos de extermínio do Camboja e a Revolução Cultural da China também são bastante
conhecidos.
E, ainda assim, vários intelectuais, jornalistas e
membros do meio acadêmico seguem orgulhosamente defendendo — e até mesmo
fomentando abertamente — idéias comunistas. No Reino Unido, há jornalistas que
abertamente apóiam o
comunismo. Estátuas de Karl Marx foram
erigidas por ocasião de seu 200º aniversário. Mesmo nos EUA, que sempre foi
um dos países mais anti-comunistas da história, há hoje uma estátua de
Vladimir Lênin na cidade de Seattle.
Tornou-se aceitável em quase todos os países do
mundo (exceto
na Polônia, na Geórgia, na Hungria, na Letônia, na Lituânia, na Moldávia e na
Ucrânia) marchar sob a bandeira vermelha da ex-URSS, estampada com a foice
e o martelo.
Para completar, Mao Tse-Tung é amplamente admirado
por acadêmicos e esquerdistas de vários países, os quais cantam louvores a Mao
enquanto leem seu livrinho vermelho, "Citações
do Presidente Mao Tse-Tung".
[N. do E.: no Brasil, o PCdoB, que recentemente
disputou a presidência da república como vice na chapa do PT, é historicamente
maoísta].
Seja na comunidade acadêmica, na elite midiática, na
elite cultural e artística, em militantes de partidos políticos, em agremiações
estudantis, em movimentos ambientalistas etc., o fato é que há uma grande
tolerância para com as ideias comunistas/socialistas — um sistema (de governo)
que causou mais mortes e miséria humana do que todos os outros sistemas
combinados.
Logo, por que exatamente duas ideologias igualmente odiosas
e violentas são tratadas de maneiras tão explicitamente distintas?
"O
comunismo real nunca foi tentado!"
A resposta pode estar no erro de percepção das
virtudes.
Os nazistas, corretamente, são vistos como odiosos e
malignos porque toda a sua ideologia é construída em torno da ideia de que um
grupo é superior a todos os outros. Trata-se de uma ideologia inerentemente supremacista
e anti-indivíduo, uma violenta crença que foi colocada em prática apenas uma
vez por aqueles que a conceberam.
Sendo assim, simplesmente não há uma maneira justificável
e aceitável para um fascista argumentar que "Ah, mas aquilo não era o nazismo
verdadeiro...".
Já o mesmo, aparentemente, não vale para o comunismo.
Ao contrário, vemos esse argumento a todo o momento. Aqueles na
extrema-esquerda possuem um enorme guarda-chuvas sob o qual se abrigam todos os
tipos de estilos comunistas: do stalinismo ao anarco-sindicalismo, passando
pelo maoísmo, trotskismo, marxismo clássico ou mesmo pelo socialismo light.
E, dado que Karl Marx nunca implantou ele próprio suas
ideias, os líderes dos regimes comunistas sempre usufruíram uma espécie de
indulto para praticar suas atrocidades: quaisquer tragédias, descalabros ou crises
criadas por regimes comunistas sempre podem ser atribuídas a um "erro" nas aplicações
das idéias de Marx, as quais continuam sendo vistas como um mapa infalível para
a utopia.
Convenientemente, os defensores desta idelogia
sempre têm um passe livre para se descolarem completamente dos horrores do
passado. Eles, até hoje, continuam se apresentando como pioneiros e
desbravadores de uma ideologia humanitária que simplesmente ainda não teve a
oportunidade de desabrochar por completo. "O comunismo de verdade nunca foi
tentado!", gritam eles após cada novo fracasso do comunismo.
Agindo desta maneira, os defensores do comunismo
podem, após cada novo fracasso, continuar impavidamente se apresentando como humanitários.
Eles estão apenas lutando pela libertação da classe proletária e pela criação de
um paraíso dos trabalhadores, arranjo este que nada tem a ver com os fracassos
e falsos profetas anteriores. A atual geração de comunistas sempre será aquela
que, agora sim, irá implantar o comunismo real, e não as deturpações que foram
tentadas antes.
Na pior das hipóteses, tais pessoas são vistas
apenas como seres ingênuos, mas ainda assim muito bem-intencionados.
Onde estabelecer os limites?
Este é o cerne
da questão. Ao passo que o nazismo sempre esteve intrinsecamente
ligado aos crimes de seus adeptos, o comunismo sempre conseguiu se distanciar
de suas tragédias. Ninguém toleraria a presença de uma camiseta estampada com
Adolf Hitler ou Benito Mussolini, mas a foto do maníaco homicida Che
Guevara em camisetas e smartphones é amplamente vista como um símbolo de
descolamento e de uma pueril ideia de rebeldia juvenil.
Logo, como estabelecer os limites? A ideologia
comunista, em sua forma mais pura, sempre consegue se distanciar de suas
efetivas implantações, mas a partir de que ponto seu tenebroso histórico irá
conseguir desacreditar quaisquer novas tentativas de se implantá-la?
Como disse o economista
Murray Rothbard: "Não é nenhum crime ser ignorante em economia, a qual, afinal,
é uma disciplina específica e considerada pela maioria das pessoas uma
"ciência lúgubre". Porém, é algo totalmente irresponsável
vociferar opiniões estridentes sobre assuntos econômicos quando se está nesse
estado de ignorância."
Temos de dizer o mesmo sobre o comunismo. Continuar defendendo
idéias e bandeiras comunistas não obstante o pavoroso histórico desta ideologia
não é uma postura nem ingênua e nem muito menos bem-intencionada. A história do
comunismo é tão sanguinolenta quanto a do nazismo; aliás, é muito
mais sanguinolenta.
É hora de dispensarmos a seus símbolos e a seus
defensores o mesmo trato que já dispensamos aos nazistas.
De resto, um lembrete aos esquerdistas,
progressistas e socialistas de hoje que se arrepiam com a simples sugestão de
que sua agenda pouco difere da dos maníacos nazistas, soviéticos e maoístas: não
é necessário defender campos de concentração ou conquistas territoriais para
ser um tirano. O único requisito necessário é acreditar na primazia do
estado sobre os direitos individuais.
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Por que o comunismo não é tão odiado quanto o nazismo, embora tenha matado muito mais?