A "concorrência predatória" — também chamada de
prática de "preços predatórios" — ocorre quando uma determinada empresa começa
a vender seus produtos abaixo dos custos de produção. O objetivo é quebrar todas
as empresas concorrentes e, com isso, assumir o monopólio do mercado.
Ato contínuo, uma vez que todos os concorrentes
estiverem quebrados, essa empresa agora monopolista irá aumentar os preços a níveis
estratosféricos, prejudicando enormemente os consumidores. E essa situação permanecerá
assim praticamente até o fim dos dias.
Essa, ao menos, é a teoria.
Mas só há um problema: isso nunca ocorreu na prática.
Até seria possível ocorrer, porém as chances são as
mesmas de você descobrir a cura do câncer enquanto prepara uma sopa de
tartaruga. As razões são várias. Eis algumas.
A
realidade
O professor Thomas
DiLorenzo — um dos grandes especialistas mundiais do tema —, quando
dava aulas de MBA para executivos da Black & Decker, propôs a eles a
seguinte estratégia para conquistar mercado: "O que os senhores acham de
sugerir ao seu empregador que pegue uma furadeira que custa $ 10 para ser produzida
e comece a vendê-la por $ 1 durante um período indeterminado de tempo — pode ser
tanto 5 anos quanto 50 anos —, até que todos os demais fabricantes de
furadeira do mundo vão à falência, e então, após isso, ele possa cobrar $ 500
por essa furadeira?"
Os executivos, às gargalhadas, disseram que, se propusessem
isso, certamente seriam demitidos no ato.
Mesmo sendo risível para qualquer pessoa do ramo, vale
ressaltar que essa teoria é ensinada pela economia convencional, é aceita pelos
alunos que não refletem um segundo a respeito dela, e é colocada em prática por
governos, que a utilizam para proteger empresas ineficientes e prejudicar
empresas eficientes.
Comecemos pelo básico.
Para que uma empresa consiga expulsar suas
concorrentes do mercado praticando preços "excessivamente" baixos, ela não apenas
deve reduzir seus preços como também deve expandir
suas vendas. Lembre-se: o objetivo é exatamente capturar o máximo possível de
clientes de todos os concorrentes, pois só assim eles irão à falência.
Porém, quando uma empresa aumenta suas vendas a preços
abaixo do custo de produção, esta empresa necessariamente irá incorrer em
enormes prejuízos. A lógica é direta e puramente contábil: se você passa a ter
um prejuízo de $ 10 por produto vendido, quando mais produtos você vender,
maiores serão seus prejuízos.
Logo, quanto maior a escala de produção de uma
empresa, maiores e mais impactantes serão os prejuízos. (Daí as gargalhados dos
executivos da Black & Decker).
Pois bem
Enquanto esta empresa está incorrendo em vultosos prejuízos,
suas concorrentes, embora também tenham de reduzir seus preços para valores
abaixo do custo de produção, terão uma vantagem que a empresa predadora não possui:
elas poderão reduzir suas vendas durante a guerra de preços com o objetivo de
manter seus prejuízos em um mínimo.
A teoria econômica básica deixa claro que uma
empresa que tentar monopolizar um mercado cobrando preços abaixo dos custos de produção
irá infligir a si própria prejuízos maiores do que aqueles que eventualmente
conseguir infligir em qualquer um dos concorrentes que ela estiver tentando
quebrar. E, quanto maior o número de concorrentes esta "predadora" estiver
tentando quebrar, maiores serão os prejuízos auto-infligidos por ela.
Mas ainda há outros detalhes.
Auto-destruição
do capital
Como explicado, se uma empresa reduz seus preços
para um valor menor do que os custos de produção e aumenta suas vendas — sendo
este, afinal, seu objetivo — seus prejuízos serão tanto maiores quanto maior
for o volume de vendas.
Ao operar no vermelho, por definição, essa empresa
está destruindo seu capital. Seu patrimônio líquido está encolhendo. Ela está,
na melhor das hipóteses, queimando reservas que poderiam ser utilizadas para
investimentos futuros.
Pois bem. Suponha então que, após vários meses no
vermelho, esta empresa finalmente consiga quebrar todos os concorrentes
(lembrando que, em uma economia globalizada, a concorrência de uma empresa pode
estar em qualquer localização do planeta). Qual a situação agora?
Ela de fato está sozinha no mercado, porém bastante
descapitalizada, e sem capacidade de fazer novos investimentos. A intenção
desta empresa é voltar a subir os preços para tentar recuperar os lucros de
antes. Só que, ao subir os preços, ela estará automaticamente convidando novos
concorrentes para o mercado, que poderão vender a preços menores.
Pior ainda: estes novos concorrentes poderão
perfeitamente estar mais bem capitalizados, de modo que é esta "predadora" quem
agora estará correndo o risco de ser expulsa do mercado. Seus concorrentes
poderão vender a preços mais baixos e sem ter prejuízos, ao passo que a "predadora"
terá necessariamente de vender a preços altos apenas para recuperar seus
lucros.
Ou seja, ao expulsar os concorrentes do mercado, a "predadora"
debilitou seu capital a tal ponto, que ela inevitavelmente se tornou a próxima
vítima da mesma prática que aplicou sobre os outros.
Este é apenas mais um motivo por que tal prática não
é observada no mundo real. Ela é completamente irracional. Um empreendedor que
incorrer em tal prática estará destruindo o capital de sua empresa, correndo o
risco de quebrá-la completamente. Um CEO com esta "sabedoria" não duraria um
dia no livre mercado.
Só
o governo pode realmente distorcer
Por tudo o que foi dito acima, fica claro que, mesmo
que uma empresa de fato consiga quebrar todos os seus concorrentes (uma
impossibilidade prática, mas, pelo bem do debate, vamos considerá-la), ela só
será capaz de voltar a subir acentuadamente seus preços e ainda assim manter
uma posição monopolista se ela conseguir
impedir o surgimento de novos concorrentes.
Em uma economia globalizada, isso é impossível. Porém,
em termos puramente nacionais, tal arranjo muda. Se o governo fechar as
fronteiras para a importação (ou, o que praticamente dá no mesmo, impor exorbitantes
tarifas de importação), burocratizar tremendamente a economia nacional de modo
a impossibilitar o surgimento de novas empresas concorrentes, e ainda subsidiar
esta "predadora", aí de fato é realmente possível haver um exemplo de "concorrência
predatória".
Ou seja, a prática de "preços predatórios que gera
poderes monopolistas" pode sim ser muito viável em um mercado totalmente
regulado e protegido pelo governo, no qual não existe liberdade de entrada para
a concorrência, o governo concede subsídios à predadora, e a população é
proibida de importar produtos concorrentes.
Mas aí, neste caso, obviamente não temos uma falha
de mercado, mas sim uma catástrofe gerada pelo intervencionismo estatal. Em um
mercado assim, no qual o que vale é a amizade com políticos, qualquer incapaz
prospera.
A
ação do governo também gera outra consequência nefasta
Exatamente porque uma das principais características
de uma saudável concorrência de mercado é a pressão baixista que ela impõe aos preços
(ver aqui e aqui), se os governos
estiverem ávidos para atuar ao sinal de qualquer reclamação de "concorrência predatória",
então aquelas empresas mais ineficientes e incapazes de concorrer abertamente irão
recorrer ao governo em busca de ajuda e proteção, acusando seus concorrentes
mais capazes e mais empreendedoriais de estarem praticando "preços predatórios".
Adicionalmente, o temor de serem perseguidas e
processadas fará com que as empresas mais eficientes fiquem mais relutantes em
reduzir seus preços para valores abaixo dos da concorrência, pois sabem que, se
fizerem isso, poderão ser atacadas pelos departamentos, agências reguladoras e
ministérios do governo pela prática de "concorrência predatória".
A consequência é que a simples existência da
possibilidade deste ataque estatal é um dos fatores que impede uma redução de preços
que beneficie os consumidores. Assim, a competição econômica, em vez de ser
estimulada, é bloqueada.
Conclusão
Pesquise o histórico econômico o tanto que você quiser.
Faça isso da maneira mais cuidadosa e detalhada possível. E você verá que este
histórico confirma a conclusão das sólidas teorias econômicas: você não irá
encontrar um único exemplo claro de uma empresa adquirindo genuínos poderes
monopolísticos por meio da suposta prática de "preços predatórios".
Os governos e suas agências e ministérios, caso
estivessem sinceramente comprometidos em manter os mercados os mais
competitivos possíveis, deveriam anunciar, de maneira inequívoca e
incondicional, que jamais irão levar novamente a sério qualquer acusação de
prática de "concorrência predatória".
E, acima de tudo, irão abolir subsídios,
desregulamentar a economia e reduzir tarifas de importação — só para garantir.