segunda-feira, 20 jan 2020
Tenha
o leitor a bondade de testar seu conhecimento sobre o mundo atual com as
seguintes questões de múltipla escolha:
1.
Nos últimos 20 anos, a proporção da população mundial vivendo na pobreza
extrema:
a)
praticamente dobrou
b)
permaneceu a mesma
c) caiu pela metade
2.
Quantas pessoas ao redor do mundo têm algum acesso à eletricidade?
a)
menos de 20%
b)
aproximadamente 50%
c)
mais de 80%
3.
Em 1820, aproximadamente 95% da população mundial vivia na pobreza, com uma
estimativa de que 85% viviam na pobreza "abjeta". Em 2015, qual
porcentagem da população mundial continuou a viver na pobreza extrema?
a)
Os mesmos 85%
b)
40%
c)
menos de 10%
4.
De 1950 até hoje, aqueles países que se abriram para a globalização apresentaram
qual dos seguintes desempenhos?
a)
crescimento econômico médio anual de 1,5
ponto percentual superior ao daqueles outros países que não o fizeram
b)
ficaram na mesma
c)
empobreceram em relação aos mais fechados
5.
Economistas encontraram uma forte correlação entre pobreza extrema e
intensidade da abertura à globalização de um país. Qual você acha que é essa correlação?
a)
mais abertura comercial, menos pobreza extrema
b)
mais abertura comercial, mais pobreza extrema
c)
mais abertura comercial, variação nula da pobreza extrema
6.
As taxas de mortalidade infantil estavam em 6,5% (65 mortes a cada 1.000
partos) em 1990. Em 2016, este percentual foi de:
a)
6,5%
b)
5%
c)
3,05%
7.
De todas as crianças com um ano de idade ao redor do mundo, quantas já foram
vacinadas contra alguma doença?
a) 20%
b) 50%
c) 80%
8.
Ao redor do mundo, homens de 30 anos de idade passaram 10 anos na escola, em média.
Quantos anos as mulheres da mesma idade passaram na escola?
a)
9 anos
b)
6 anos
c)
3 anos
9.
Em 1996, tigres, pandas gigantes e rinocerontes negros eram listados como
espécies em extinção. Quantas dessas espécies estão em perigo hoje?
a)
duas delas
b)
uma delas
c) nenhuma delas
10.
Atualmente, qual a taxa de redução da pobreza extrema?
a)
não há redução, a pobreza extrema está aumentando
b)
a pobreza extrema segue, na média, inalterada
c)
uma pessoa sai da pobreza extrema a cada segundo
Eis
as respostas:
1) c; 2) c; 3) c; 4) a; 5) a; 6) c; 7) c; 8) a; 9) c; 10) c
Surpreso? Se não está, então você
pertence a uma ínfima parcela da população mundial que está atipicamente bem
informada.
Um livro para levantar seu ânimo
Hans Rosling foi um
médico sueco que se tornou uma "celebridade da estatística". Ele ficou
famoso por sua mensagem endereçada ao mundo sobre o crescimento populacional:
"Não há motivo para pânico". Neste vídeo, ele mostra
que todos os países estão em uma tendência de maior expectativa de vida e maior
padrão de vida (o exato contrário do que havia previsto Malthus).
Por
que cito Rosling? Estou lendo seu livro — publicado postumamente
(infelizmente, Rosling faleceu em 2017) — intitulado Factfulness:
Ten Reasons We're Wrong About the World (Fatos Plenos: 10 motivos por que estamos errados sobre o mundo), o
qual, para minha grata surpresa, já se tornou um bestseller na Amazon. As questões acima foram baseadas neste livro.
Se
você quiser dar um tempo na enxurrada de notícias — veiculadas pela grande
mídia — sobre como o mundo está na iminência do colapso, não há recomendação mais
alvissareira do que este livro repleto de fatos e, acima de tudo, extremamente
divertido.
Aliás,
vou ainda mais adiante: sugiro este livro como ponto de partida para qualquer
tipo de discussão sobre economia, política e o estado geral do mundo.
Todo
o livro gira em torno da evolução do nosso padrão de vida. Seu objetivo é
provar, por meio de uma implacável série de fatos, que estamos vivendo mais,
melhor, com mais saúde, mais riqueza e em um ambiente mais limpo do que jamais
vivemos em toda a história da humanidade — e o aumento de todos estes fatores
é tão impressionante, que deveríamos fazer uma pausa para realmente meditar e,
acima de tudo, se impressionar com essa façanha.
Considere
apenas este ponto: a porcentagem da população mundial vivendo na pobreza
extrema caiu pela metade nos últimos
20 anos. Isso é uma notícia absolutamente eletrizante, para não dizer
fascinante. Mas você realmente sabia disso?
Ainda
mais importante: você realmente entende o que isso implica para temas urgentes
como globalização, mercados e tecnologia?
E,
ainda assim, não estamos realmente prestando atenção. Com efeito, a maioria das
pessoas erra as respostas de boa parte das questões apresentadas acima. Eu mesmo
testei alguns conhecidos antes de escrever este artigo. O melhor resultado foi
uma pontuação de 40%. O pior resultado foi uma pontuação de 20%. Essencialmente,
não somos otimistas o bastante.
O
livro mostra adicionalmente que doenças, mortes, acidentes aéreos,
derramamentos de petróleo, infecções por HIV e inanição estão apresentando
quedas dramáticas. Colheitas, imunizações, acesso a água limpa e potável,
eletricidade, educação, acesso a telefones celulares, e novos filmes e músicas estão
aumentando. E substantivamente.
Por que tanto pessimismo?
O
propósito do livro não é apenas revelar fatos sobre o mundo ao nosso redor e as
tendências que estão impulsionando essas mudanças. Rosling busca também explicar
nossa relutância em aceitar — e até mesmo em incorporar em nossa mente — boas
notícias sobre o mundo.
Ele
lista um número de pré-conceitos e vieses, os quais ele chama de instintos. Temos um instinto de sermos atraídos
pela negatividade, pelo medo e pela tendência de generalizar casos isolados. Gostamos
de atribuir culpas a pessoas, coisas e fenômenos, e estamos sempre em busca de
problemas que alimentam esse desejo. Pensamos apenas nas notícias ruins que
acabamos de ler ou ouvir, e dificilmente fazemos uma abordagem de longo prazo.
Ainda segundo Rosling, a mídia gosta de alimentar esse nosso desejo porque está
em busca de audiência.
Tudo
isso parece fazer sentido, mas há também uma explicação mais simples. Nossa
mente é moldada pela narrativa de nossas próprias vidas. Vivemos o hoje e
pensamos no futuro, ao passo que o passado é uma abstração que ou não vivemos
ou já esquecemos.
Por
exemplo, sabemos que, mil anos atrás, estaríamos todos vivendo em choupanas,
dormindo sobre palhas, ameaçados diariamente de violência por terceiros
querendo a escassa comida que conseguimos coletar, presos em nossa própria comunidade,
morrendo jovens, sofrendo dores alucinantes causadas por todos os tipos de doenças,
incapazes de vivenciar qualquer coisa semelhante a progresso — isso se conseguíssemos
nos manter vivos.
Sabemos
disso, dizemos isso, e até nos esforçamos para imaginar como seria isso, mas
nunca realmente vivenciamos isso. Tudo o que vivenciamos é a nossa atual
prosperidade, a qual damos como certa e garantida ao mesmo tempo em que nos
queixamos dos vários problemas mundanos que temos em nossas vidas. E são esses
que realmente nos consomem. Mas ao menos há um ponto positivo nessa nossa
postura: ela torna a mente humana mais ambiciosa, o que nos impulsiona a tentar
construir um futuro mais do nosso agrado.
A motivação
E
qual o objetivo de se adotar uma visão de mundo baseada mais em fatos e menos
em impressões? Rosling afirma que ela é essencial, pois assim conseguimos
navegar melhor pela vida, da mesma maneira como um GPS nos ajuda a navegar por uma
cidade. Conhecer os fatos sobre a vida à nossa volta nos traz mais conforto. Ficamos
menos alarmados com as notícias. Ficamos menos propensos a ser manipulados por discursos
políticos terroristas e por promessas políticas demagógicas. Ficamos mais aptos
a enxergar através da neblina, nos tornando mais calmos, racionais e
perceptivos.
Acima
de tudo, perceber todo o progresso que nos foi concedido pela livre iniciativa,
pelos mercados, pelo comércio e pela cooperação humana nos deixa mais céticos quanto
a promessas grandiosas de que o progresso será implantado via coerção estatal e
planejamento centralizado.
Se
você observar com cuidado as fabulosas tendências e invenções de nossa
era, verá que nada foi resultado de imposição e decreto, mas sim de cooperação
humana, tecnologia, descentralização e dispersão do conhecimento.
É
assim que o mundo melhora.
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