segunda-feira, 18 set 2017
Pergunta direta: quanto vale um caminhoneiro sem
seu caminhão?
Enquanto você pensa intuitivamente na resposta,
façamos outras perguntas semelhantes.
Quanto vale um garçom sem
um restaurante?
Quanto vale um operário sem
as instalações e as máquinas da fábrica em que trabalha?
O que seria do
funcionário de uma loja sem a loja, sem um computador, e sem um scanner de
preços?
Ou ainda: de que vale um
eletricista sem a energia elétrica? Quanto vale um jogador de futebol sem a TV?
Vou até perguntar sobre mim mesmo: quanto valho sem um computador e a internet?
Sem capital não há criação de riqueza
Voltemos ao caminhoneiro. Sem um caminhão, seu valor econômico para os outros diminui para quase
zero. Já com um caminhão, ele se torna extremamente produtivo e útil para
terceiros.
Suponha um brutamontes capaz
de carregar toda a carga do caminhoneiro nas costas. Quem vale mais: um
caminhoneiro com seu caminhão ou o brutamontes? Ainda que o brutamontes seja
extremamente inteligente e culto, e ainda que o caminhoneiro não seja tão
esperto, tão educado e tão forte, o fato é que o caminhoneiro vale milhares de
vezes mais que o brutamontes. Por quê? Exato, por causa do caminhão.
Com isso, você começa a entender que o que
realmente permite salários maiores e um padrão de vida mais alto é o capital.
Capital é tudo aquilo que aumenta a produtividade
e, em última instância, o padrão de vida de uma sociedade. Capital são
todos os fatores de produção — como ferramentas, maquinários, edificações,
meios de transporte etc. — que tornam o trabalho humano mais eficiente e
produtivo. Trabalhar menos e produzir mais é o resultado direto da acumulação
e do uso do capital.
Agora, uma pergunta simples: quem pagou por aquele caminhão
da transportadora dirigido pelo caminhoneiro: um rico ou um pobre? Quem empregou
o caminhoneiro, e o mantém empregado: um rico ou um pobre?
Muito provavelmente um rico. Poucos caminhoneiros permaneceriam
empregados por pessoas pobres. Pelo menos, não por muito tempo.
Igualmente, quem pagou pela fábrica que construiu o
caminhão? Certamente algum rico. Ou então
vários indivíduos ricos. O mesmo pode ser dito sobre a fábrica que produz chips de
computador em volume suficiente para fazer seus preços caírem para centavos por
gigabyte, o que requer fábricas de custo bilionário.
Os pobres não as construíram; foram os ricos que o
fizeram. O mesmo vale para a iluminação e os estúdios de televisão onde o
eletricista trabalha; para as fábricas de televisores e de cabos que colocam o
jogador (bem como os atores e âncoras de notícias) na televisão; para o
restaurante e as indústrias que criam os bens que cada trabalhador usa diariamente
em seu trabalho; para a loja em que o funcionário trabalha, bem como o caixa e
os scanners que ele usa.
E vale para mim, também.
Eu valho muito menos sem um computador, o qual tornou as coisas incomensuravelmente
mais eficientes. Por isso, não tenho por que ter raiva daqueles que utilizaram
sua poupança para construir as fábricas e fabricar os chips e
os computadores que tornam meu trabalho muito mais eficiente e produtivo do que
seria sem estes chips e monitores.
Com efeito, eu gostaria
de facilitar as coisas para eles —
pois isso me tornaria ainda mais valioso para os consumidores dos meus serviços,
aumentando meus rendimentos. Eu gostaria que o governo diminuísse sua tributação,
de modo que estes ricos pudessem ficar com uma fatia muito maior de seus
ganhos. Aliás, eu gostaria que eles ficassem com 100% dos seus ganhos.
Três maneiras de criar riqueza
Há apenas três maneiras
de se criar riqueza real. E nenhuma delas envolve a coerção e as transferências
involuntárias — ou seja, o roubo.
A maneira mais óbvia é
por meio da produção de bens e serviços que são vendidos a compradores
voluntários. Se as pessoas não comprarem voluntariamente
estes bens e serviços, então é porque elas não lhes atribuem os valores cobrados.
Neste caso, riqueza não foi criada, mas sim destruída. Capital e recursos
escassos foram imobilizados em coisas que não geraram valor para ninguém.
Uma maneira menos óbvia
de criar riqueza é investindo em instalações, equipamentos, educação e
treinamento que aumentam a qualidade e a quantidade da produção de bens e
serviços que podem ser comercializados.
E uma maneira ainda menos
óbvia é por meio da proteção de tudo aquilo que foi produzido. Isso cria
riqueza indiretamente: as pessoas são mais propensas a produzir aquilo que
podem manter para si e transacionar por outros tipos de riqueza. Isso significa
que os direitos de propriedade e a garantia e cumprimento de contratos são
fundamentais para a criação de riqueza.
A maioria das pessoas consegue
ver que educação ou treinamento criam riqueza, direta ou indiretamente. No
entanto, por si sós, pouca ou nenhuma riqueza é criada apenas por meio disso.
Qual é o valor de um programador de computador sem um computador? Quanto valem
jornalistas, atores ou atletas profissionais sem a TV e os bilhões em
infraestrutura (privada) que lhes permitam exibir seus talentos? Qual a função de
um vendedor sem uma loja e de um operário sem uma fábrica? Quanta riqueza é
criada por um soldador habilidoso sem o equipamento de soldagem, ou sem máquinas
e ferramentas para soldar? Alguma riqueza é criada ao treinar um astronauta
quando não há uma cápsula espacial (construída por empreiteiros privados)? Que
tal um geólogo sem equipamento de perfuração ou sem os equipamentos necessários
para escavar, os quais custam milhões?
E um caminhoneiro sem um
caminhão?
O problema em tributar os ricos, sejam eles
empreendedores ou meros "rentistas"
Os efeitos da tributação sobre um rico
empreendedor são diretos. Com uma fatia maior de seus ganhos confiscada pelo
governo, ele terá menos capacidade para investir e ampliar sua capacidade
produtiva. Seu processo de formação de capital será diretamente afetado.
Com sua capacidade futura de investimento das
empresas reduzida, isso significa menor produção, menos contratação de
mão-de-obra e, consequentemente, menor oferta de bens e serviços no futuro.
Significa também menos compras de ferramentas, equipamentos e, principalmente,
do treinamento contínuo necessário para aumentar a produtividade — diminuindo
assim a oferta de bens e serviços que de outra forma seriam disponibilizados a
terceiros.
Quando o governo tributa a renda e os lucros,
ele apenas faz com que o dinheiro que seria utilizado para ampliar e aprimorar
os processos produtivos seja agora direcionado para o mero consumismo do
governo, ficando sob os caprichos de seus burocratas, obstruindo a formação de
capital.
Quanto aos ricos "rentistas", sempre é bom
repetir: ao contrário do
que muitos imaginam, o dinheiro dos ricos não
fica parado dentro de uma gaveta. Em nosso atual sistema monetário e financeiro, todo o dinheiro está
inevitavelmente em algum depósito bancário. Não importa se o rico comprou
ações, debêntures, títulos, CDBs, LCIs, LCAs ou LCs, aplicou em fundos de
investimento ou em fundos de ações: no final, este dinheiro caiu em alguma
conta bancária, e será emprestado pelos bancos para financiar
investimentos.
Se o governo tributar
esse dinheiro, fará apenas que o dinheiro que antes era direcionado para
determinados setores (garantindo emprego e renda) ou investido diretamente em
coisas produtivas seja direcionado para o mero consumismo do governo, ficando
sob os caprichos de seus burocratas e bancando toda a máquina estatal. Isso
seria uma simples e direta destruição de capital.
Por tudo isso, impostos sobre
os mais ricos são um grande obstáculo aos investimentos produtivos, à formação
de capital e ao simples bem-estar de terceiros. É deste dinheiro que vem a
poupança necessária para os investimentos produtivos.
Se, em vez disso, os empreendedores e investidores
pudessem manter seus ganhos e investir, todos nós estaríamos mais ricos —
incluindo aqueles de nós que ganhamos a vida usando caminhões e computadores.
Por fim, vale ressaltar algo óbvio: toda e qualquer
pessoa em posse de muito dinheiro investe. Tais pessoas, por definição, vezes vivem muito abaixo das suas condições
(afinal, elas não gastaram todo o seu dinheiro), o que significa que elas
investem "as sobras". Sendo assim, e como dito acima, será que são realmente
elas que se beneficiam de seu capital? Não. São as pessoas comuns que se
beneficiam com os bilhões que acabam sendo investidos em fábricas de microchip,
em fábricas que produzem carros, em meios de transporte, em instalações hoteleiras,
em parques temáticos, em hospitais, em siderúrgicas, em companhias aéreas, em pecuaristas
e no agronegócio, em fabricantes de alimentos, em empacotadoras de alimentos, em
cervejarias, em todas as fábricas e indústrias, em todo o setor atacadista,
varejista e provedor de serviços.
Os benefícios do capital —
de propriedade tanto de super-ricos como da classe média-alta que faz
investimentos — são fornecidos para nós, desde smartphones e notebooks, passando por viagens à Disney e
cruzeiros oceânicos, até coisas elementares como alimentação, roupas e
hospitais. Todos nós usufruímos tudo isto por uma pequena fração do custo total
desse capital.
Querer confiscar o dinheiro de quem financia tudo
isso significa simplesmente odiar os alicerces de sua própria existência.
Reduzam ou (melhor ainda) acabem com os
impostos
Baixas alíquotas de
impostos sobre aqueles de rendimento elevado são desejáveis não porque eles
precisam do dinheiro, mas sim porque nós precisamos — sob a
forma de capital, que inclui fundos investidos. É isso o que cria as
instalações e equipamentos que permitem nossa existência e também nosso
bem-estar, como nossos smartphones e aviões e navios de
cruzeiro que tornam possíveis nossas férias em lugares distantes — com os
quais, apenas um século atrás, nossos ancestrais não podiam sequer sonhar.
Este capital também é a fonte
da igualdade de renda: quando você
considera todas as "coisas" que temos hoje e que não existiam há cinquenta anos
— ou que até existiam mas
cujos custos desabaram —, percebe que o capital iguala o poder de renda
para os não-qualificados, fracos e enfermos.
Considere: quase qualquer
um pode operar máquinas que fazem a grande maioria do trabalho — a produção —
e ganhar uma renda decente. Uma pessoa com um QI de 120 não tem qualquer
vantagem sobre outra com um QI de 80 ao operar um grande equipamento; nem uma
pessoa de 110 quilos tem uma vantagem sobre outra que pesa 55 quilos. Um homem
não tem vantagem sobre uma mulher programando ou operando um computador. Os saudáveis
têm pouca ou nenhuma vantagem sobre os deficientes físicos na criação de
imagens de computador.
Pessoas de renda média a alta que não consomem
todos os seus ganhos investem suas economias e criam o capital necessário para
a indústria, bem como os equipamentos — as fábricas de microprocessadores e caminhões — que criam um padrão de vida mais alto para todos, incluindo os pobres, enfermos
e deficientes.
Se tais pessoas puderem reter uma maior fatia da sua renda para investir, todos nós seremos mais ricos — inclusive aqueles de nós que ganham a vida com computadores e caminhões.
E ninguém melhor que a própria Suécia —
aquele paradigma da social-democracia — para mostrar isso: lá, a alíquota
máxima do imposto de renda de pessoa jurídica é de apenas 22% (nos
EUA é de 35%; no Brasil chega a 34%). Mais: os ricos da Suécia usufruem várias vantagens
econômicas não oferecidas a seus compatriotas das classes mais baixas. A Suécia
sempre concedeu deduções fiscais bastante generosas para custos de capital. As
empresas suecas podem deduzir 50% de seus lucros para reinvesti-los no futuro,
o que os torna uma reserva
isenta de impostos. Quem realmente banca o estado de bem-estar sueco são os
pobres e a classe média, por meio dos cada vez maiores impostos indiretos.
Ao mesmo tempo em que o
imposto sobre a renda decresceu, o imposto sobre o consumo
aumentou na Suécia.
Conclusão
Por último, mas não menos
importante, algumas perguntas retóricas: o seu patrão é mais rico ou mais pobre
que você? Se o governo aumentar o confisco do dinheiro dele, seu emprego ficará
mais garantido ou menos garantido? Suas chances de aumentos salariais serão
maiores ou menores?
Enfim, você estará melhor em uma economia com vários ou com poucos ricos?
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