Eis um desafio a todos aqueles que defendem o
intervencionismo estatal e que acreditam que um estado grande é o verdadeiro impulsionador
do desenvolvimento econômico.
Aqui vão duas perguntas simples. Ficarei muito feliz
se conseguir até mesmo uma resposta medianamente sensata a qualquer uma dessas
duas perguntas.
1.
Você consegue citar uma nação que tenha se tornado rica enquanto praticava
políticas estatizantes?
Antes que você diga Suécia, ou até mesmo
França, observe que a pergunta pede uma nação que era pobre e se tornou rica durante um período em que seu governo já
era grande e adotou políticas intervencionistas.
Tanto a Suécia quanto a França, bem como todos os
países da Europa ocidental, se tornaram ricos no século XIX e início do século XX
quando seus respectivos governos eram muito pequenos.
Especificamente sobre a Suécia, que é o exemplo
favorito de dez em cada dez social-democratas e socialistas, vale ressaltar que
o tamanho do governo sueco — mensurado pelo volume de seus gastos em relação
ao PIB — era, até 1960, menor até mesmo que o do governo da Suíça.
Veja este quadro que mostra a evolução dos gastos do
governo (todos os níveis de governo, incluindo gastos com a dívida pública) elaborado
pela revista The Economist. Toda a explosão dos gastos do governo
sueco (Sweden), bem como de todos os outros governos dos países ricos,
aconteceu entre as décadas de 1960 e 1980, quando estes países já eram os mais
ricos da Europa e do mundo. A social-democracia é uma consolidação da década de
1970.

Nenhum dos países do quadro acima era subdesenvolvido
antes de 1960 (quando tinham governos menores) e se tornou desenvolvido a
partir de 1960, quando seus estados incharam.
Especificamente a Suécia, esta enriqueceu exatamente
quando seu governo era pequeno. No período de tempo entre 1850 e 1950, a
população sueca dobrou e a renda real dos suecos decuplicou. A mortalidade
infantil caiu de 15% para 2%, e a expectativa de vida aumentou extraordinários
28 anos. Em
1950 a Suécia já era a quarta nação mais rica do mundo, não obstante a
não-existência de um estado assistencialista ou de qualquer grande controle
estatal sobre os setores da economia.
Como em qualquer outro país, o impressionante
estoque de capital da Suécia foi construído por empreendedores operando em um
sistema de livre mercado.
(Tudo isso foi relatado em detalhes neste
livro bem como neste excelente
tratado).
Sobre os países escandinavos em geral, seu ambiente
empreendedorial é extremamente
desregulamentado e os
países são um dos mais
abertos do mundo para o livre comércio. Você demora no máximo 6 dias para
abrir um negócio e as tarifas de importação estão na casa de 1,3%, na média. A dívida
pública é baixa, o que significa que o governo não estoura o orçamento. Não
há salário mínimo estipulado pelo governo. Há uma robusta
proteção dos direitos de propriedade. As alíquotas de
imposto de renda para pessoa jurídica são das mais baixas do mundo. Não
há impostos sobre
a herança.
Quanto aos outros países, a tabela acima mostra que,
na média, seus respectivos governos consumiam 10,4% do PIB antes da Primeira
Guerra Mundial e praticamente não havia nenhuma política desenvolvimentista ou
redistributivista.
E por que os gastos destes governos são crescentes
desde 1870? A resposta para esta pergunta é fácil: quanto menor é o estado, mais
produtivo se torna o mercado; quanto mais produtivo é o mercado, mais rapidamente
a economia cresce e mais riqueza ela gera; quanto mais riqueza ela gera, maior tributação
ela é capaz de suportar. Maior tributação suportável, maior o aumento do
governo.
Ou seja, quando se parte de governo pequeno, isso paradoxalmente
faz com que o governo tenha maior facilidade para crescer no futuro, pois
haverá muito mais riqueza para tributar e redistribuir. Infelizmente, este é um
desafio que ainda não foi solucionado: como conter o crescimento do estado em
uma economia livre.
No entanto, o que interessa na presente discussão é
que os países da tabela já eram considerados ricos quando seus governos eram
menores que os atuais de Hong
Kong e Cingapura.
Falando nos quais, e para finalizar esta primeira
pergunta, o que realmente estou pedindo aos intervencionistas e estatistas é
que me ofereçam versões "de esquerda" de Hong Kong e Cingapura. Estes dois países
eram literalmente favelas a céu aberto ao fim da Segunda Guerra Mundial, e hoje,
após a adoção de várias medidas em prol da liberdade econômica, da livre concorrência
e da redução do estado, têm uma das populações mais ricas do mundo. (Confira a história
de Hong Kong aqui e aqui; e a de Cingapura,
aqui).
Libertários, defensores do livre mercado e pessoas que
em geral defendem governos pequenos podem utilizar estes dois países como um
grande exemplo prático para as causas que defendem.
E os estatistas?
Qual modelo eles podem usar como exemplo? Qual país era pobre e,
apos adotar um governo inchado e intervencionista, se tornou rico? (Antes que você
grite "Coréia do Sul!", sugiro conferir a evolução
dos gastos do governo daquele país nas décadas de 1960 a 1980, que foi
quando ocorreu a explosão do crescimento. Você irá se surpreender).
Agora a outra
parte do desafio.
2.
Você consegue citar uma nação com um governo grande e intervencionista que
esteja superando economicamente uma nação similar
que tenha um governo pequeno e um livre mercado?
Antes que você se constranja em público afirmando
que, digamos, a Dinamarca
é mais rica que o Paraguai
por causa do estatismo, recomendo que você cheque os dados. A Dinamarca possui
um estado de bem-estar social bem mais amplo que o Paraguai, é fato, mas sua
economia é muito mais
livre e pró-mercado. Com efeito, a Dinamarca possui a 14ª economia mais
livre do mundo de acordo com o ranking da Heritage Foundation (ou a 13ª
de acordo com o Fraser
Institute). Já o Paraguai possui a 85ª economia mais livre do mundo de
acordo com a Heritage (ou a
84ª de acordo com o Fraser
Institute).
Você será mais esperto se perguntar por que, por
exemplo, a Bélgica, #48 é mais rica que Maurício, #25.
Mas é por isso que pedi uma comparação entre nações similares.
Em outras palavras, mostrar dois países que são, ou que eram, relativamente
iguais em termos de demografia, desenvolvimento econômico, recursos naturais e
outros fatores, e então mostrar que o país mais estatizante apresentou um
desenvolvimento econômico melhor que o outro país que adotou mercados mais
livres e um governo menor.
Aliás, as jurisdições nem precisam ser tão similares
assim. Apenas apresente uma nação estatista cuja população, ao longo de um
significativo período de tempo, passou a ter um padrão de vida melhor que a população
de uma jurisdição pró-mercado.
De uma perspectiva libertária, posso citar vários
exemplo, tais como Chile
vs. Argentina vs. Venezuela. Ou Coreia do Norte vs. Coreia do Sul.
Ou Ucrânia vs. Polônia. Ou Hong
Kong vs. Argentina. Ou Cingapura vs. Jamaica. Ou Estados Unidos vs. Hong Kong
e Cingapura. Ou mesmo Suécia vs. Grécia.
Eu poderia continuar, mas creio que o ponto já ficou claro.
Irei aguardar pacientemente pelas respostas, mas
creio que teias de aranha irão se formar em meu computador.
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Acréscimo
do editor
Há um problema de ordem econômica com a
social-democracia: ela é um arranjo que só consegue ter longa duração
em países ricos, cuja população é extremamente produtiva e possui alta
renda per capita. Apenas uma população que já alcançou este estágio de riqueza
e produtividade consegue suportar a alta carga tributária necessária para
bancar o estado de bem-estar social.
Em países pobres, de população pouco produtiva e de
baixa renda per capita, tal arranjo se torna inexequível. Motivo: para gastar
muito, o governo inicialmente terá de tributar. Mas como a população é pouco
produtiva e de baixa renda per capita, o tamanho desta tributação terá um
limite natural. Sendo a tributação insuficiente, o governo terá de se
endividar, pegando emprestados centenas de bilhões para poder efetuar todos
esses gastos. E ele só conseguirá pegar emprestados todos esses bilhões se
pagar caro por isso.
Endividamento crescente, juros altos e economia
estagnada serão as inevitáveis consequências.
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