segunda-feira, 9 mar 2020
Nota do editor
Em um momento de pânico global nos mercados financeiros — e, por conseguinte, nas economias mundiais —, com vários efeitos deflacionárias nos preços e com várias empresas vivenciado apertos em suas margens de lucro, vale relembrar quem é que realmente sairá ganhando com essa turbulência (desde que tenha sido prudente e poupador na época da bonança).
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Nos EUA, Walmart e Amazon estão se engalfinhando, desde 2017, em
uma brutal guerra de preços. A história em detalhes está aqui.
A partir de 2018, a Target entrou no páreo.
Ao redor do mundo, Uber, Lyft e Cabify estão em
guerra não apenas contra o cartel dos táxis (mantido e protegido pelo estado),
mas também entre si.
O AirBnB está reduzindo os lucros das grandes redes
hoteleiras.
Nos mercados que têm um setor aéreo mais livre, como
na Europa, voar está cada vez mais barato.
No mercado de transportes terrestres, o efeito é ainda mais intenso.
E isso sem falar na contínua redução dos preços dos
produtos tecnológicos e eletroeletrônicos, bem como dos serviços fornecidos por
eles. A Amazon, por exemplo, passou a concorrer com a Netflix na área de streaming de filmes. Além das duas, há também HBO Go (que não necessita de TV a cabo) e a Hulu. Todas tiraram
clientes das TVs a cabo convencionais. E todas também sofrem a concorrência de vários sites
dos quais você pode fazer download de filmes.
A história do capitalismo de livre mercado é a
história da competição de preços. Isso foi explicado, e sempre de maneira muito
clara, por Ludwig von Mises ao longo de toda a sua vida.
Para ser bem-sucedido
O que é o capitalismo de livre mercado? É aquele
arranjo econômico em que não há subsídios (ou empréstimos subsidiados com
os impostos da população) governamentais para as empresas favoritas do
governo, não há protecionismo
via obstrução de importações, não há barreiras governamentais à
entrada de concorrentes em qualquer setor do mercado (como ocorre em
setores regulados por agências reguladoras), ninguém é impedido de empreender
em qualquer área da economia, e não há altos tributos que impedem que novas
empresas surjam e cresçam. Quanto mais próximo uma economia está deste arranjo,
mais genuinamente capitalista ela é.
Um capitalista bem-sucedido é aquele que não apenas
sabe como atender aos desejos da massa, como também está sempre tentando
aumentar a satisfação dela. A maneira como esse capitalista aumenta sua
presença no mercado — sua fatia de consumidores — é por meio da concorrência
de preços. Dado que seu objetivo é sempre aumentar seu público consumidor, o
que ele realmente tem de fazer é ir atrás de pessoas que até então não estavam
dispostas a, ou não tinham condições de, gastar dinheiro naquilo que ele está
tentando vender. Ao utilizar a concorrência de preços, ele adquire acesso a
esse grupo.
Isso é um ótimo negócio para todas aquelas pessoas
que queriam comprar o produto, mas não tinham condições. E aquelas que já
pagavam para adquirir o produto poderão agora pagar menos. A diferença entra o
preço (mais alto) que elas pagavam antes e o preço (mais baixo) que irão pagar
agora sob as novas condições é chamada pelos economistas de "excedente do consumidor".
É apenas um dos maravilhosos benefícios do capitalismo de massas.
Sempre haverá um mercado específico para produtos
prestigiosos, sofisticados e caros. Relógios Rolex são um exemplo. Eu jamais compraria um.
Estou muito bem servido por um relógio digital da Casio. Não preciso de mais do
que isso. No próprio Walmart, consigo relógios digitais por US$ 15, e são
excelentes em termos de marcar a hora. É isso o que me interessa. Tudo o que
quero de um relógio é que ele me mostre que horas são. Não ligo para prestígio. Mas há quem ligue. E
tais pessoas são servidas por mercados específicos.
Não faço a mais mínima ideia de como os fabricantes
que vendem produtos para a Amazon e para o Walmart conseguirão manter uma
margem de lucro sobre cada produto vendido. Também não sei como a Uber, a Lyft e a Cabify
— com sua guerra de preços cada vez mais acirrada entre si mesmas e contra os
táxis — conseguem se manter no mercado. Mas isso não é problema meu. Isso não
tem qualquer relevância para mim. Sou um mero consumidor. Na condição de
consumidor, estou olhando apenas para meus próprios interesses. Quando
varejistas que atendem às massas estão concorrendo ferozmente entre si e forçam
seus fornecedores (indústrias) a reduzir os preços, isso é ótima notícia para
mim.
O que muitos ainda não entenderam sobre o capitalismo
Por isso, é um total equívoco imaginar que o
capitalismo funciona primordialmente para beneficiar os produtores. Isso é uma
total incompreensão sobre os princípios deste sistema.
O capitalismo — ao
menos o genuíno — opera em benefício do consumidor. E há um motivo simples
para ser assim. Os consumidores possuem aquilo que os produtores querem: dinheiro. O dinheiro é a mercadoria de
mais fácil comercialização em uma economia. Por isso, todos estão atrás do
dinheiro. Quem tem dinheiro consegue trocá-lo pelos bens e serviços que quer.
Quem tem dinheiro sempre será servido. Quem tem dinheiro está no assento do
motorista em uma economia capitalista. E quem tem o grosso do dinheiro em uma
economia de mercado? A
massa dos consumidores.
Produtores e empreendedores estão no mercado para
ganhar acesso ao dinheiro dos consumidores. Os bens e serviços que eles
produzem não podem ser utilizados como dinheiro. Não importa quão popular seja
um produto específico, ele nunca será tão popular quanto dinheiro.
Consequentemente, produtores e empreendedores têm de vender esses bens e
serviços aos consumidores para conseguir dinheiro; eles não podem ir ao mercado
e simplesmente tentar trocar, como num escambo, seus bens e serviços por outros
bens e serviços. Para conseguir o que querem, eles têm de ter dinheiro. Para
conseguir dinheiro, eles têm de vender para muitos consumidores. Eles ganharão
dinheiro no volume, e não nos preços altos.
Guerra de preços entre empresas sempre beneficia
dezenas de milhões de consumidores. Consumidores não têm de negociar descontos
com fabricantes ou implorar por preços menores; eles deixam esse serviço por
conta das empresas. Na prática, eles terceirizam essa atividade, deixando que as
empresas em concorrência façam essa negociação por eles.
Na condição de
vendedores de bens e provedores de serviços, Amazon, Walmart, Hulu, HBO, Uber, Cabify,
Lyft, Netflix, AirBnB e todas as grandes redes varejistas têm de agir em prol
dos consumidores. E é assim porque elas estão visando às massas. Elas querem
vender para as massas. Elas querem o dinheiro das massas. Sua estratégia é
fazer com que mais pessoas comprem seus bens e serviços.
O homem mais rico do mundo hoje é Jeff Bezos.
Ele criou a Amazon. Se Sam Walton ainda estivesse vivo, ele seria a pessoa mais
rica do mundo, pelo menos se não considerarmos Vladimir Putin. Bezos seria
então o terceiro. Esses dois homens incrivelmente ricos se tornaram ricos porque
compreenderam como funciona a concorrência de preços.
Os críticos do capitalismo, que são muitos,
simplesmente não entendem que capitalismo significa concorrência de preços, e
que o mercado de consumo em massa criado pela concorrência de preços
representou o maior benefício econômico para a humanidade nos últimos 200 anos.
[N. do E.: sim, os preços das coisas estão sempre
aumentando, principalmente no Brasil. Mas isso se deve às distorções criadas
pelo governo, como a
inflação da oferta monetária. Ainda assim, o custo real das coisas — isto é, a quantidade de horas de trabalho
necessária para se conseguir comprar um bem básico — só faz cair].
As pessoas que criticam essas empresas que se esforçam para
reduzir seus custos — como a Amazon, a Walmart e a Uber — sempre as atacam
"em nome dos trabalhadores". Elas sempre vêm a público denunciar os
baixos salários pagos aos empregados. Mas a função do capitalismo é melhorar a
vida dos consumidores, e não dos
produtores, empreendedores e dos empregados.
Produtores, empreendedores e
empregados só irão se dar bem em uma economia de mercado se souberem satisfazer
os consumidores. Eles só terão lucros se souberam agradar aos consumidores.
Quanto aos empregados, sempre vale ressaltar que
eles também são consumidores. Consequentemente, na condição de consumidores,
empregados também são beneficiados. Agora, se eles não são bem pagos em termos
salariais, então é porque os consumidores não querem pagar bem para eles.
Consumidores sempre estão interessados apenas em conseguir as melhores
barganhas para si próprios, e não os melhores negócios para os produtores,
empreendedores e empregados do setor industrial, atacadista e varejista. Quem determina a sobrevivência
de empregos, salários e lucros são os consumidores, e não os
capitalistas. Os críticos do capitalismo jamais entenderam isso.
Tais críticos são guiados essencialmente pela
inveja, e sempre quiseram atacar e destruir capitalistas e empreendedores. Eles
odeiam empreendedores. Só que, ao atacar empreendedores e exigir que o governo
confisque grandes fatias de seu lucro, eles estão apenas reduzindo os
benefícios que acabariam sendo ofertados aos consumidores (ver aqui e aqui).
Mas eles não
ligam. Eles são motivados pela inveja. Eles querem dar uma
lição nos ricos. Eles preferem destruir um rico, e com isso sofrer preços mais
altos em decorrência desta redução na concorrência, a permitir que o
empreendedor continue rico, e com isso se beneficiar de preços menores.
É por isso que a inveja é um pecado horrendo, e os
críticos do capitalismo são conduzidos por ela. O indivíduo invejoso jamais
poderá ser apaziguado pelo rico. Somente a destruição do rico irá satisfazer o
crítico motivado pela inveja.
Conclusão
Para mim, na condição de consumidor, só me resta
recostar e apreciar toda a guerra de preços feita por empreendedores que querem
o meu dinheiro.
E com um adendo magistral: eu não compro muito no Walmart, mas
compro muito na Amazon. Não uso muito a Lyft (nem Cabify), mas uso bastante a
Uber. Não tenho TV a Cabo, mas tenho Netflix. Se a concorrência de preços do
Walmart obrigar a Amazon a reduzir seus preços, se a concorrência de preços da
Lyft (e da Cabify) forçar a Uber a reduzir seus preços (ou a não aumentá-los), e
se a concorrência de outros serviços de streaming obrigar a Netflix e manter
seus preços baixos, isso será um grande benefício para mim.
Isso é o capitalismo em ação.
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