Há
algo de engraçado nos caranguejos: quando um único caranguejo está sozinho
dentro de um balde, ele fará de tudo para tentar escalar e escapar. E normalmente
conseguirá.
Já
se você colocar vários caranguejos dentro do mesmo balde, nenhum conseguirá
escapar, pois todos os outros caranguejos sempre irão puxar para baixo aquele
que eventualmente estiver conseguindo fazer sua escalada rumo à liberdade. No final,
em decorrência disso, todos morrem.
Sociólogos
utilizam o termo "mentalidade de caranguejo" como uma referência metafórica a
um grupo de pessoas que, ao ver que um indivíduo está tentando melhorar sua
vida, tenta impedir que isso ocorra, fazendo de tudo para puxá-lo para baixo,
mantê-lo inerte e compartilhando o mesmo destino coletivo do grupo.
A
mentalidade do caranguejo segue a máxima do "se eu não consigo, você também não
pode conseguir". Não tenho a mínima ideia do motivo de os caranguejos fazerem
isso; mas sei por que seres humanos agem assim: inveja e ciúmes.
A
mentalidade de caranguejo pode ser observada nos humanos sempre que membros de
um grupo tentam negar, diminuir ou mesmo acabar com os feitos de qualquer outro
membro que consiga ser mais bem-sucedido que todos os outros. A motivação da
mentalidade de caranguejo é a inveja, o rancor e o ódio em relação a quem está
sendo bem-sucedido em meio a todos, e o objetivo é acabar com o progresso dessa
pessoa.
A
síndrome dos caranguejos em um balde é a atitude negativa que algumas pessoas
têm em relação ao sucesso das outras. Quantos de nós já tentamos abrir um negócio,
melhorar a própria educação, aprender um novo idioma, tentar um novo emprego,
ou mesmo começar uma dieta ou um programa de exercícios físicos, e fomos
prontamente dissuadidos por outros à nossa volta dizendo que não valia o
esforço e que estaríamos perdendo tempo?
Obviamente,
a mentalidade de caranguejo não está limitada a indivíduos. Ela é facilmente
observada no comportamento de grupos, comunidades e até mesmo nações inteiras. E,
embora a mentalidade de caranguejo seja universal, em algumas sociedades ela já
se tornou uma atividade genuinamente nacional, coordenada e implantada sob o disfarce
de políticas públicas que almejam a redistribuição de riqueza, a igualdade de
renda, a tributação progressiva, as reservas de mercado, as cotas raciais, sociais e sexuais em
empresas e universidades, e vários outros tipos inimagináveis de igualitarismo.
O
objetivo final é sempre puxar para baixo aqueles que estão conseguindo algum progresso.
A mentalidade de caranguejo ao
redor do mundo
Esta
é, obviamente, a política oficial de regimes comunistas, nos quais as
ideologias coletivistas apelam ao mais baixo sentimento de inveja dos indivíduos,
excitando a cobiça destes pela propriedade e pela renda alheia.
Na
China, em 1984, quando o líder comunista Deng Xiaoping introduziu reformas de mercado para
reverter o estrago de décadas
de comunismo sangrento, seu objetivo era conter o avanço dessa mentalidade
de caranguejo. Isso o levou a pronunciar sua famosa frase: "enriquecer é
glorioso". Por outro lado, em Cuba, o general Raul Castro disse
que não será permitido que eventuais atividades econômicas "não-estatais" levem
a uma "concentração de riqueza".
No
Leste Europeu, após décadas de experiência comunistas, as atuais sociedades
pós-comunistas ainda hoje sofrem de severos casos de síndrome da mentalidade do
caranguejo sempre que tentam estimular o empreendedorismo e elevar o progresso econômico.
Formas mais sutis e não-oficiais de mentalidade de caranguejo podem ser
observadas nas culturas latinas (inclusive européias), onde há um certo estigma
em relação a empreendedores e a pessoas bem-sucedidas em geral.
Historicamente,
na Europa — e, por legado cultural, na América Latina —, a boa vida almejada
pela maioria era uma vida de lazer, uma vida livre da necessidade de trabalhar,
simbolizada pelo aristocrata que não sujava suas mãos. Na América Latina, isso
se traduziu em políticas governamentais que, ao priorizarem o
igualitarismo e criminalizarem
o empreendedorismo e o sucesso, não criaram condições propícias para que os
indivíduos fossem livres para criar, empreender, comercializar, prosperar e,
com isso, escapar do seu balde da pobreza.
Sociedades
que condenam o individualismo, o empreendedorismo e a busca pelo lucro, e que fomentam
uma cultura de igualitarismo, vitimismo e inveja, enfatizando a necessidade de
todos serem cuidados dentro de um mesmo balde comunitário cheio de caranguejos,
estão condenadas ao declínio e à irrelevância. Os defensores desse arranjo
parecem não entender que, quando há políticos e burocratas cuidando de nós, são
eles também que estão decidindo por nós. A liberdade e a responsabilidade
individual são abolidas.
Conclusão
Ideologias
coletivistas, representadas pela mentalidade de caranguejo, se baseiam na ideia
de que a vida de um indivíduo não pertence ao indivíduo, mas sim à sociedade na
qual ele está inserido. O indivíduo não é reconhecido como um ser que
possui direitos inalienáveis — como o de não ter sua propriedade confiscada,
sua liberdade tolhida e sua vida retirada —, e que pode conquistar o sucesso,
mas sim como um ser amorfo que deve abrir mão de seus valores e interesses em
nome do "bem maior" da sociedade.
O
ideal coletivista identifica o coletivo como sendo a unidade central da
preocupação moral. Os únicos direitos que um indivíduo possui são aqueles
que a sociedade autorize que ele tenha.
Por
isso, escapar do balde e abolir a mentalidade de caranguejo só será possível quando
as pessoas adotarem atitudes sociais cujo foco seja a melhora da própria vida,
e não a inveja em relação às conquistas dos outros. Para escapar do balde é necessário
valorizar o sucesso, e não puni-lo. É de suma importância reconhecer que a acumulação de capital
(ou seja, a riqueza não consumida) daqueles que escaparam do balde da pobreza
antes de nós representam uma
capacidade de investimento que, quando colocada em prática, impulsionam o
crescimento econômico de uma nação.
Eis
a receita: buscar inspiração no sucesso daqueles que escaparam do balde, e incentivar
aqueles que estão tentando escalar as laterais do balde. Talvez, se todos nós
escalarmos juntos, podemos acabar virando o balde e nos libertando a todos.