Meu pai era motorista de empilhadeira. E foi membro de um sindicato por 15
anos. Cresci em uma família de
proletários.
E posso dizer: não dá para acreditar na propaganda
sindical nem mesmo por um segundo.
"O fim de semana: criado para você pelos sindicatos",
diz o adesivo de pára-choque.
Entendo. Quer
dizer então que todos aqueles países do Terceiro Mundo, cuja população ainda
tem de trabalhar mais horas por semana, poderiam imediatamente ascender da
pobreza e usufruir mais horas de lazer caso simplesmente criassem mais
sindicatos?
Tudo o que é necessário para escapar da pobreza e
ter mais horas de lazer é ter mais sindicatos?
(Aliás, se é assim, por que essas mesmas pessoas
defendem mais ajudas internacionais?)
Eis um fato econômico inegável: enquanto uma
sociedade ainda não houver enriquecido, nem mesmo todos os sindicatos do mundo
conseguirão fazer com que absolutamente todas as pessoas possam se dar ao luxo
de tirar uma folga de dois dias por semana.
Tampouco poderiam os sindicatos criar feriados.
Apenas pense nas economias primitivas de 300 anos atrás. Você consegue imaginar, em meio a toda aquela
pobreza, sindicatos agitando para reduzir a jornada de trabalho semanal? Sindicatos pedindo mais feriados e dois dias
de folga por semana?
Qualquer um que fizesse isso seria imediatamente
visto como um lunático desconectado da realidade.
E o motivo é simples: sociedades pobres possuem poucos bens de capital. Ou seja, não há uma abundância de ferramentas
tecnológicas, de maquinários de alta produção, e de meios de transporte rápidos
e eficientes. Com poucos bens de
capital, a maioria dos bens e serviços tem de ser produzida e distribuída manualmente.
Sendo todo o trabalho necessariamente manual, será necessário
que toda a mão-de-obra disponível trabalhe
o máximo de horas humanamente possível para fazer com que a subsistência da população
seja minimamente viável.
Uma simples folga de um dia poderia fazer com que não
houvesse alimentos disponíveis para todos.
É por isso que, no passado, as pessoas tinham de
trabalhar em longas jornadas e sob condições terríveis. E é por isso que, em vários países pobres, a situação
ainda é esta.
Embora seja mais fácil e popular culpar homens
engravatados e pançudos, que fumam charutos e utilizam monóculos, e que têm
prazer em oprimir a classe trabalhadora, o fato é que o problema está na escassez
de bens de capital, que impede o aumento da produtividade dos
trabalhadores.
O que emancipou as pessoas dessas condições desumanas
foi a acumulação de capital. Com os trabalhadores se tornando
substantivamente mais produtivos do que antes, graças à assistência de
máquinas, ferramentas e meios de transporte, a produção física foi rapidamente multiplicada
em quantidade e em qualidade.
Essa maior abundância de bens e serviços gerou uma pressão
baixista nos preços em relação aos salários, permitindo que estes crescessem
mais do que aqueles. Consequentemente, o padrão de vida das pessoas
aumentou.
Foi então, e só então, que as pessoas finalmente
puderam se dar ao luxo de optar por mais lazer e por trabalhar sob condições mais
agradáveis e humanas. Foi só então que
as pessoas puderam optar por tudo isso em detrimento de trabalhar exaustivamente
apenas para sobreviver.
O que fez com que as jornadas de trabalho antigamente
fossem longas foi o mesmo fenômeno que obrigou
agricultores a colocar seus filhos para trabalhar: a produtividade era
baixa, e as pessoas simplesmente tinham de trabalhar 70-80 horas por semana se
quisessem produzir o suficiente para comer. Isso, obviamente, não pode
ser atribuído a "patrões exploradores", a menos que consideremos que
pais são exploradores. Tal fenômeno se devia ao fato de a economia ainda
ser subdesenvolvida.
[N. do E.: como explicado neste artigo:
Ainda há pessoas que realmente acreditam que no
século XVIII havia o mesmo tanto de riqueza que há hoje, de modo que, se os
salários eram baixos (comparado aos padrões de hoje), se a segurança no
trabalho era precária (de novo, comparado aos padrões de hoje) e se mulheres e
crianças trabalhavam, isso só ocorria porque os malditos e gananciosos
capitalistas se recusavam a prover segurança e salários altos, e obrigavam
mulheres e crianças a trabalhar.
Tais pessoas realmente acreditam que bastava apenas um
decreto governamental para que um trabalhador em 1750 gozasse dos mesmos
confortos, segurança no trabalho e níveis salariais vigentes hoje. É
inacreditável. Para quem está acostumado a todas as comodidades e
confortos do século XXI, é claro que as condições de vida do século XVIII
pareciam "sub-humanas".
Falar que a qualidade de vida era ruim nos séculos
XVIII e XIX tendo por base o século XXI, e daí tirar conclusões, é vigarice
intelectual. Tal postura ignora toda a acumulação de capital que ocorreu ao
logo dos séculos seguintes. Era simplesmente impossível ter nos séculos
XVIII e XIX a mesma qualidade de vida que usufruímos hoje no século XXI, a mesma
segurança no trabalho, e a mesma renda. Naquela época, não havia a mesma
acumulação de capital que temos hoje. A produtividade era menor, os
investimentos eram menores, a quantidade e a variedade de bens e serviços eram
menores. Era impossível ter naquela época a mesma quantidade de
comodidades que temos hoje.
Trabalhar muito e receber pouco não era uma decisão
de capitalistas maldosos. Era a necessidade da época. Quem
realmente acredita que era possível trabalhar 6 horas por dia nos séculos XVIII
e XIX e ainda assim viver bem não entende absolutamente nada de economia.
Tal raciocínio parte do princípio de que vivemos no Jardim do Éden, que a
riqueza já está dada, e que tudo é uma mera questão de redistribuição.]
À medida que a produtividade e, consequentemente, os
salários foram crescendo, os trabalhadores foram se tornando aptos a viver à
custa de menos horas de trabalho, o que deu a eles um incentivo para barganhar —
de maneira bem-sucedida, como podemos testemunhar — jornadas semanais menores.
Isso não é algo que meras exigências e imposições sindicais
poderiam conseguir. (Mesmo porque, até
onde se sabe, sindicatos não criam bens de capital).
Conclusão
Eis uma descoberta interessante: se você perguntar
às pessoas que trabalham em sweatshops (estabelecimentos, majoritariamente
chineses, com condições precárias e em que os funcionários têm longa jornada de
trabalho e baixo salário) se elas prefeririam ter condições mais agradáveis (ou
menos horas de trabalho) em troca de salários menores, elas preponderantemente dirão
'não'.
O economista Benjamin Powell, Texas Tech University,
de fato se deu ao trabalho de fazer essa pergunta. E
nada menos que 90% dessas pessoas disseram que preferiam o dinheiro em
detrimento das condições de trabalho e do lazer.
Nos EUA, os trabalhadores já usufruíam a jornada
diária de 8 horas de trabalho muito antes de seus congêneres europeus,
fortemente sindicalizados. E já ganhavam
salários muito maiores. Nos EUA, o
sindicalismo do setor privado nunca contou com mais do que um terço da força de
trabalho, e isso em seu ápice.
Portanto, seja lá o que os professores de seus
filhos estejam ensinando a eles, não deixe que essa doutrinação passe impune.
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pelo fim de semana e pela redução da jornada de trabalho