O sistema econômico adotado por
uma população será um reflexo dos interesses próprios dos seres humanos
que compõem esta população.
Porém, somente um capitalismo de livre mercado — em
que o governo não protege seus empresários favoritos com subsídios e tarifas
protecionistas, e não impõe barreiras à entrada de concorrentes em qualquer
setor do mercado — é capaz de criar um grupo de pessoas, conhecidos como
empreendedores, que não têm escolha senão se preocupar com as necessidades e desejos dos outros.
Estes outros são os seus consumidores.
São poucos os economistas, no entanto, que realmente
se propõem a estudar o comportamento desses empreendedores, os reais líderes criativos dos
negócios capitalistas. Caso houvesse
esse estudo aprofundado, os economistas iriam descobrir que os empreendedores,
pela própria natureza daquilo que fazem, têm necessariamente de evitar a ganância
e o egoísmo. Mais ainda: eles têm
necessariamente de se preocupar com a satisfação dos outros.
Primeiro e acima de tudo, atender aos desejos e
demandas de terceiros é o exato oposto da ganância e do egoísmo.
Segundo, a ganância, na esfera econômica, é
normalmente expressa como sendo o "imediato consumo de bens e serviços". Eu pego para mim qualquer coisa que
conseguir, sem qualquer consideração para com os outros. No entanto, empreendedores têm de poupar para
começar seus negócios. E a poupança é
definida como uma abstenção do consumo com o intuito de alcançar objetivos de
longo prazo. Frequentemente, levam-se
meses, e às vezes vários anos, para fazer com que um novo produto ou serviço seja
produzido e finalmente colocado à venda no mercado.
Isso não é exatamente uma demonstração de egoísmo e ganância.
Adicionalmente, empreendedores têm de trabalhar em
conjunto e colaborar com terceiros, construindo equipes com o intuito de alcançar
seus objetivos. Ao criar e colocar à
venda seus bens e serviços, eles têm — mais uma vez — de se concentrar não em
seus próprios desejos e necessidades, mas sim nos desejos e necessidades de
terceiros. Isso, também, é o exato
oposto de egoísmo e ganância.
Portanto, o que empreendedores fazem quando buscam o
lucro é algo muito maior do que demonstrar interesse próprio. Ao contrário, o lucro é uma medida de quão bons foram os serviços
prestados por uma empresa aos seus consumidores. Sob um capitalismo de livre mercado, uma
empresa irá ganhar dinheiro somente se os consumidores voluntariamente abrirem mão
de seu dinheiro em troca dos produtos e serviços ofertados por essa empresa.
É somente por meio da melhoria contínua de seus bens
e serviços que uma empresa pode crescer e prosperar. E isso irá ocorrer somente se ela se dedicar
o bastante para agradar a terceiros. Isso,
de novo, é o exato oposto de ganância e egoísmo.
Se um empreendedor colocar seus interesses próprios acima
de tudo, e deixar os interesses de seus consumidores em segundo lugar, seu
empreendimento irá fracassar. E, com o
tempo, um empreendedor mais altruísta, mais preocupado em agradar terceiros
fornecendo-lhes bens e serviços de qualidade, irá tomar o seu lugar.
Portanto, em sua essência, o capitalismo de livre
mercado é uma competição para ver quem fornece mais e melhor; quem mais se
preocupa em agradar aos outros. Sim, o
interesse próprio se faz presente. Mas a
genialidade do sistema capitalista, e que existe apenas no sistema capitalista,
é que ele é o único arranjo capaz de transformar o interesse próprio em altruísmo. Empreendedores só conseguem prosperar se
satisfizerem os desejos e necessidades de terceiros.
Por isso,
Um
dos mais belos aspectos de uma economia de mercado é que ela é capaz de domar
as pessoas mais egoístas, ambiciosas e talentosas da sociedade, fazendo com que
seja do interesse financeiro delas se preocuparem dia e noite com novas
maneiras de agradar terceiros. [...] No
livre mercado, as pessoas utilizam o melhor de suas habilidades para servirem
aos seus semelhantes e, com isso, moldarem seu próprio destino.
Esse é o milagre descrito na metáfora da mão
invisível de Adam Smith. Mesmo que alguém seja egoísta, essa
pessoa — para alcançar seus objetivos — terá inevitavelmente de beneficiar
terceiros no mercado, fornecendo-lhes bens e serviços de qualidade, e esperando
que estes, voluntariamente, consumam seus bens e serviços. E para que
elas consumam estes bens e serviços fornecidos pelo egoísta, estes têm de ser
de qualidade.
Desta forma, o egoísmo é domado e direcionado para a
cooperação com terceiros, fornecendo-lhes mais opções de consumo e
beneficiando-lhes como resultado desta interação.
Conclusão
Todos aqueles que já tiveram um negócio próprio, e
fizeram grandes sacrifícios para isso, sabem bem o drama do primeiro dia: será
que o mundo quer aquilo que tenho a oferecer?
Seja um imigrante abrindo um simples salão de beleza ou Steve Jobs
vendendo um computador da Apple, o sucesso está longe de ser garantido. Com efeito, a única coisa realmente garantida
é o fracasso, o qual inevitavelmente ocorrerá caso você não saiba agradar aos
outros.
Essas corajosas almas, os empreendedores que são a
alma do capitalismo, e que nos fornecem infindáveis benefícios materiais, desde
caixas eletrônicos a remédios que salvam vidas, deveriam ser venerados, e não malhados.
O altruísmo é a própria razão da existência do
capitalismo. E é por isso que o
capitalismo permanece sendo a esperança da civilização.