Comecemos com uma pergunta aparentemente simples:
qual é o mais essencial ingrediente para a criação de riqueza e o crescimento econômico?
Os keynesianos responderiam que é a expansão do
crédito a juros baixos. Os mais leigos
diriam que é a posse de vários recursos naturais.
Ambos errados.
A resposta correta é: conhecimento.
E isso é fácil de provar.
Qual é a diferença entre nós e um homem das
cavernas? Sim, a única diferença é que
nós, hoje, temos mais conhecimento do
que eles.
Biologicamente, somos os mesmos. Os neurônios em nossos cérebros são os
mesmos. O mundo físico à nossa volta é o
mesmo (todos os recursos físicos necessários para se fazer celulares, tablets,
computadores, carros e aviões já existiam naquela época).
Mas a nossa vida hoje é infinitamente melhor e mais confortável.
Por quê?
Por causa do conhecimento.
Não é necessário voltar à era do homem das cavernas
para provar esse ponto. Escolha qualquer época e você comprovará sempre o mesmo
fenômeno: um novo conhecimento — por exemplo, a descoberta da penicilina ou um
novo algoritmo que gera melhores ferramentas de busca na internet — sempre
surge como uma surpresa.
Chamamos essas surpresas de "inovações", pois elas são
inerentemente imprevisíveis. Novos produtos
surgem aparentemente do nada. Repentinamente,
há luz elétrica. Há um automóvel. Ou há um iPhone. Nada disso havia sido previsto
antecipadamente.
Agora, é claro que esses produtos não realmente
vieram do nada; eles surgiram da síntese de todo um conhecimento acumulado, o
qual levou a essas inovações; a essas surpresas.
Por definição, portanto, a inovação não pode ser planejada; ela envolve uma perturbação no equilíbrio. Os fabricantes de charrete, até então uma
indústria estável e já estabelecida durante séculos, não mais tinham um grande
futuro pela frente quando Henry Ford introduziu o primeiro Modelo T.
O surgimento de uma criação sempre leva ou a
aprimoramentos ou a novas criações. A inovação
— novo conhecimento — gera não apenas novos produtos, mas também novas
empresas e várias novas indústrias. E a inovação
cria riqueza; riqueza essa que, em última instância, será distribuída por toda
a economia.
Eis como funciona: mais liberdade gera mais
conhecimento; mais conhecimento gera mais inovação; e mais inovação leva a um
crescimento econômico dinâmico. Por outro
lado, menos liberdade gera menos conhecimento; menos conhecimento gera menos inovação;
e menos inovação gera menos crescimento econômico.
Sendo assim, já que a liberdade promove o
conhecimento e a inovação, o que gera crescimento econômico, por que então todas
as pessoas e governos não abraçam esse arranjo?
Para entender isso é necessário voltar ao ponto dito
inicialmente, sobre a inovação ser uma surpresa, algo imprevisível. Essa imprevisibilidade deixa as pessoas desconfortáveis. O objetivo delas é eliminar esse fator surpresa. Isso é perfeitamente observável tanto nas visões
utópicas — como no
comunismo e no socialismo — quanto no mundo real, em que pessoas temerosas
da inovação e do fator surpresa pedem que o governo proteja mercados e
indústrias nacionais contra a concorrência de produtos estrangeiros. O que seria o protecionismo e as reservas de mercado senão
a exata manifestação desse temor em relação às surpresas e inovações?
Ao redor do mundo, estamos testemunhando esse desejo
de se eliminar as surpresas. Grupos de
interesse fazem lobby junto ao governo para que este tolha o surgimento de todo
e qualquer tipo de concorrência, principalmente daquela concorrência não-premeditada,
como a Uber e o AirBnb. E esse
tolhimento é feito por meio da expansão contínua do governo, de suas burocracias,
de suas regras e regulamentações anti-empreendedorismo.
Há várias maneiras de se tolher o surgimento de inovações
que trazem concorrência, sendo as mais tradicionais as regulamentações que
impõem barreiras à entrada da concorrência (como as agências reguladoras), os
subsídios às empresas favoritas que o governo quer manter no mercado a todo
custo, a obstrução de importações para proteger as indústrias ineficientes, e
altos tributos que impedem que novas empresas surjam e cresçam, protegendo
assim as indústrias já estabelecidas.
Todas essas regulamentações simplesmente obstruem a
liberdade e, consequentemente, impedem o crescimento econômico e a distribuição
de conhecimento. Elas retiram recursos e
energia da inovação e os direcionam para a burocracia e para a obediência às regulamentações. Elas criam incerteza quanto ao futuro. E criam barreiras à entrada de novos empreendedores.
Ironicamente, os mais beneficiados por essas
regulamentações e protecionismos são exatamente as grandes corporações e seu
exército de advogados, lobistas e contadores. As grandes corporações são as únicas que possuem recursos para cumprir
com todas as regulamentações e ainda sobreviver. Os gastos jurídicos, contábeis, burocráticos
e de auditoria são mais facilmente diluídos pelo faturamento de uma grande
empresa do que por uma pequena que está entrando agora no mercado. A mesma
alíquota de imposto que incide sobre os lucros de uma grande empresa,
tirando-lhe parte de seu resultado, inviabiliza a continuidade de uma pequena.
Mas esse distanciamento da liberdade pode ser
revertido, e bem rapidamente. Com efeito,
pode acontecer em apenas alguns anos. Há
vários exemplos práticos recentes: os EUA e o Chile começando ao final da década
de 1970, o Leste
Europeu após queda
do comunismo, a Nova
Zelândia na década de 1980, a China e a Índia na década
de 1990, e o Canadá na primeira década do século XXI.
Dado que vivemos em uma economia que é transformada
pela mente e pela inteligência, o futuro pode mudar tão rapidamente quanto a
mentalidade. Sempre que governos
intrusivos retrocedem, o conhecimento se expande e a prosperidade ocorre.
O crescimento econômico, portanto, não advém
majoritariamente de "incentivos e punições". Essa "teoria dos incentivos" permite que os críticos do capitalismo o
caricaturem como um desumano esquema de manipulação das necessidades humanas,
sendo apenas ligeiramente superior às formas mais benignas de escravidão.
A riqueza advém, isso sim, da expansão da informação,
do conhecimento, dos lucros e da criatividade. Essa expansão aprimora as qualidades humanas de seus beneficiários ao
mesmo tempo em que os enriquece. O aprendizado
dos trabalhadores crescentemente os recompensa por sua mão-de-obra; o
aprendizado transmite sabedoria em troca do trabalho extraído. Ao unir conhecimento e poder, o capitalismo
traz ordem à entropia das mentes humanas e explicita os benefícios da
liberdade. Sendo assim, ele é o mais
humano de todos os sistemas econômicos.
A oportunidade para o crescimento dinâmico existe hoje
ao redor de todo o mundo. Mas é necessário
sermos corajosos e livres o bastante para não perdê-la.