quarta-feira, 29 jun 2016
Uma das maiores façanhas da mente humana foi ter
encontrado uma solução para aquele que é o maior desafio da nossa vida aqui na
terra: ter o suficiente para comer.
Comparado a isso, ter um teto sob o qual viver e
roupas para cobrir o nosso corpo são coisas fáceis de serem obtidas: você encontra
uma caverna, mata um animal, arranca sua pele e você já tem abrigo e roupa.
Por outro lado, encontrar comida sempre foi um
problema diário para os seres humanos, e nunca foi resolvido
definitivamente. Mesmo no exemplo acima,
o animal morto lhe garantirá um estoque para apenas um dia de comida. Mas
você precisa de muito mais do que apenas um grande estoque; você precisa criar
um sistema que forneça um fluxo contínuo de alimentos.
Em 2016, pode-se dizer que finalmente já temos este
sistema em funcionamento. E ele é capaz
de sustentar 7,4 bilhões de pessoas. Ele
é hoje tão robusto, que os países desenvolvidos estão enfrentando um problema
oposto à fome: a obesidade, algo que, na história da evolução social, é um bom
problema para se ter.
A criação desse sistema — o qual você pode
vivenciar em qualquer mercearia ou quitanda do seu bairro — refutou todas as
pavorosas expectativas de legiões de céticos catastrofistas do século XIX. À época, o mundo vivenciava uma explosão demográfica. A população crescia a um ritmo até então inimaginável. Como essas pessoas seriam alimentadas? A maioria dos intelectuais da época não conseguia
imaginar como isso seria possível.
E, no entanto, foi possível. Tão complexo, desenvolvido e produtivo se
tornou o atual mercado global de alimentos, que a verdade é que é extremamente difícil
quebrar esse sistema. Criar uma inanição
em massa em pleno ano de 2016 é algo que requer um esforço extraordinário. É algo que requer a adoção de um abrangente
sistema de coerção que ataque exatamente todas aquelas instituições que
possibilitam a abundância de alimentos: a propriedade privada, a liberdade de
empreender, o comércio internacional, a moeda, o sistema de preços livres, e a inovação
comercial.
O
socialismo ataca novamente
Infelizmente, esse sistema coercivo e destruidor
existe. Ele atende pelo nome de "socialismo". Ele está sendo aplicado hoje em um país que
outrora era rico, confortável e civilizado; um
país que possui as maiores reservas de petróleo do mundo.
Sim, parece ficção.
Mas não é. Em um país específico,
ao longo de 16 anos de implacável destruição da propriedade privada, da moeda,
do sistema de preços, da liberdade de empreendimento, e do comércio, tudo isso
feito gradualmente em um sanguinolento passo a passo, o socialismo gerou inimagináveis
cenas de sofrimento humano.
Esse país, obviamente, é a Venezuela. Tudo começou sob o governo de Hugo Chávez e
agora continua sob a regência de seu sucessor, Nicolás Maduro. Por piores, corruptas e despóticas que fossem
suas intenções, não é crível imaginar que ambos quisessem criar propositalmente
o atual cenário de inanição que se vê no país.
Ao contrário, a dupla prometeu implantar todas aquelas promessas de
sempre do socialismo: justiça, igualdade, liberdade, e o fim da exploração.
No entanto, se você analisar o que está ocorrendo na
Venezuela, verá a abolição de tudo aquilo que podemos chamar de 'civilização'.
Jamais conseguiria colocar em melhores palavras do que
este
recente artigo do The New York Times:
CUMANÁ,
VENEZUELA - Com caminhões de entrega sujeitos a constantes ataques, os
alimentos na Venezuela agora são transportados sob proteção de guardas armados.
Soldados patrulham padarias. A polícia dispara balas de borracha em pessoas
desesperadas que invadem armazéns, farmácias e açougues. Uma menina de 4 anos
foi morta a tiros quando gangues lutavam por comida.
A
fome está convulsionando a Venezuela.
Em
Cumaná, berço de um dos heróis da independência, centenas de pessoas invadiram
dias atrás um supermercado, gritando que queriam comida. Elas quebraram uma grande porta metálica e
invadiram a loja. Roubaram água, farinha,
cereais, sal, açúcar, batatas e tudo mais que encontravam, deixando para trás
geladeiras quebradas e prateleiras reviradas.
E
mostraram que, mesmo em um país com a maior reserva petrolífera do mundo, as
pessoas podem se rebelar caso falte comida.
Só
nas duas últimas semanas, mais de 50 saques, protestos e revoltas por alimentos
eclodiram na Venezuela. Inúmeros estabelecimentos
foram saqueados ou destruídos. Ao menos cinco pessoas morreram. [...]
O
país busca desesperadamente ter o que comer. O colapso econômico dos anos
recentes deixou a Venezuela incapaz de produzir alimentos suficientes ou de
importar o que precisa. Cidades estão sob vigilância militar em consequência do
decreto de emergência do presidente Nicolás Maduro, o homem que Chávez escolheu
para dar prosseguimento à sua revolução antes de morrer, três anos atrás.
"Se
não houver comida, haverá mais rebeliões", disse Raibelis Henríquez, de 19
anos, após esperar todo o dia na fila do pão em Cumaná, onde pelo menos 22 estabelecimentos comerciais
foram atacados em um único dia na semana passada.
Mas
enquanto a convulsão e os tumultos se espalham pelo país alarmado, é a fome o que
permanece sendo a constante fonte de inquietação.
Um
assustador índice de 87% dos venezuelanos diz não ter dinheiro suficiente para
comprar comida, segundo o mais recente levantamento da Universidade Simón
Bolívar.
Em
média, 72% do salário da população vem sendo gasto na alimentação, de acordo
com o Centro de Documentação e Análise Social. Em abril, descobriu-se que uma
família precisaria do equivalente a 16 salários mínimos para se alimentar
adequadamente.
Pergunte
a pessoas em Cumaná quando foi a última vez que fizeram uma refeição e muitos
responderão que não foi naquele dia.
Entre
estes estão Leidy Cordova, de 37 anos, e seus cinco filhos — Abran, Deliannys,
Eliannys, Milianny e Javier Luis —, com idade entre 1 e 11 anos. Na noite de
quinta-feira, toda a família não comia desde o almoço do dia anterior, quando
Leidy fez uma sopa de pele de frango e gordura que conseguiu comprar mais
barato no açougue.
"Meus
filhos me dizem que estão com fome", disse Leidy, ante o olhar das crianças. "E
tudo que posso dizer é que sorriam e aguentem."
Outras
famílias se veem na situação de ter de escolher quem vai poder comer. Lucila
Fonseca, de 69 anos, sofre de câncer linfático; sua filha, Vanessa Furtado, tem
um tumor no cérebro. Apesar de também estar doente, Vanessa, em muitos dias,
abre mão da pouca comida que tem para que a mãe não fique sem as refeições.
"Eu
era muito gorda, não sou mais", disse Vanessa. "Estamos morrendo aos poucos." A
mãe acrescentou: "Estamos fazendo a dieta-Maduro: sem comida, sem nada". [...]
Campos
de cana-de-açúcar por todo o país estão sem cultivo por causa da falta de
fertilizantes. Sem uso, máquinas agrícolas enferrujam nas fábricas estatizadas.
Produtos básicos como milho e arroz, antes exportados, agora têm de ser
importados e chegam em quantidades que não suprem a demanda.
Em
resposta, Maduro apertou o cerco à rede de abastecimento. Usando os decretos de
emergência que assinou neste ano, o presidente pôs a maior parte da
distribuição sob o controle de brigadas de cidadãos leais à esquerda, medida
considerada pelos críticos como reminiscente do racionamento alimentar de Cuba.
"Isso
significa, em outras palavras, que se você for meu amigo, meu simpatizante,
você tem comida", disse Roberto Briceño-León, diretor do Observatório da
Violência Venezuelano, grupo de direitos humanos.
É
uma nova realidade para Gabriel Márquez, de 24 anos, que cresceu em anos
prósperos, quando a Venezuela era rica e prateleiras vazias, algo inimaginável.
Ele estava parado em frente a um supermercado destruído em Cunamá, com garrafas
quebradas, caixas e prateleiras espalhadas pelo chão. Algumas pessoas, entre
elas um policial, reviravam os destroços à procura de algo aproveitável.
"No
carnaval, fazíamos guerra de ovos", disse Gabriel. "Hoje, um ovo é como ouro."
Na
pequena cidade pesqueira de Boca de Uchire, centenas de pessoas se reuniram
numa ponte protestando contra a falta de alimentos. Queriam falar com o
prefeito. Como ele não apareceu, saquearam um bar de chineses, estourando a
porta com picaretas. Por trás da ação estava embutida a raiva à potência global
que nos últimos anos emprestou bilhões de dólares à Venezuela. "Os chineses não
quiseram nos vender", disse um taxista que olhava a multidão saquear. "Então,
queimaram seu negócio."
Nem
sempre fica claro o que provoca as rebeliões. Será apenas a fome? Ou é uma
raiva mais ampla surgida num país que está desmoronando?
Inés
Rodríguez não tinha certeza. Ela lembra que gritou para a multidão que queria
saquear seu restaurante na quarta-feira à noite e lhes ofereceu todo o frango e
o arroz que havia lá em troca de eles não quebrarem os móveis e a caixa
registradora. Eles recusaram a oferta e simplesmente a empurraram para o lado e
depredearam tudo, disse Rodríguez.
"Hoje
vivemos o encontro da fome com o crime", disse.
Enquanto
ela falava, três caminhões com guardas armados passaram, todos adornados com
fotos de Chávez e Maduro.
Os
caminhões carregavam comida.
"Finalmente
eles chegaram aqui", disse Rodríguez. "E veja o que foi preciso para
isso. Foi necessária essa revolta para conseguirmos alguma coisa para comer."
Eis alguns depoimentos contidos na reportagem:
"Tenho
que sair de casa às 5 da madrugada, sob risco de ser morto, para enfrentar
filas o dia inteiro e só voltar com dois ou três itens de comida", relata
Jhonny Mendez. Mendez vive em Caracas
com a mulher Leida Bolivar e os filhos Yoelver Barreto, Yorver Barreto,
Yoalvier Barreto.
"Estamos
comendo menos porque não encontramos comida nos mercados e, quando elas estão
disponíveis, as filas são infernais e não conseguimos comprar. Atualmente, não
fazemos três refeições. Com sorte, conseguimos comer duas vezes ao dia",
diz Victoria Mata.
"Estamos
há cerca de 15 dias comendo pão com queijo ou arepa — prato típico venezuelano
— com queijo. Hoje, nos alimentamos pior do que antigamente porque não se acha
comida e, quando há disponibilidade, não podemos pagar", reclama Lender Perez
ao lado da mulher Isamar Ramirez e dos filhos Lismar e Lucia
"Estamos
nos alimentando muito mal. Por exemplo, se temos farinha de milho, comemos
arepas o dia todo. Mesmo quando temos dinheiro não encontramos comida para
comprar. E quando encontramos, eles são caro demais", relata Rosa Elaisa
Landaez ao lado de seus filhos Albert Perez, Yeiderlin Gomez e Abel Perez
"Antes,
conseguíamos comprar comida para até 15 dias. Hoje, só cobrimos nossas
necessidades diárias", diz Romulo Bonalde. Ele e a mulher Maria de Bonalde
têm 9 itens alimentícios na despensa de casa
"Comer
se transformou em algo de luxo na Venezuela. Antes, nosso dinheiro comprava
roupas e outros itens. Hoje, vai tudo em comida", aponta Yaneidy Guzman ao
lado das filhas Steffany Perez, Fabiana Perez e Esneidy Ramirez.
"Somos
uma família grande e está cada vez mais difícil para conseguirmos comer",
diz Ricardo Mendez.
A seguir, um vídeo que faz uma compilação das
rotineiras cenas de violência e de saques a estabelecimentos comerciais e a caminhões
que transportam comida.
E, após a morte de um ente, as famílias enfrentam
outro tormento. Segundo essa
reportagem do The Washington Post:
"Meu
irmão era um homem decente", disse com tristeza Julio Andrade, enquanto
esperava no necrotério de Caracas a chegada do corpo do irmão mais velho. O
cadáver de Rubén Dario, de 55 anos, fora encontrado dois dias antes numa
rodovia perto da cidade. Havia sido sequestrado e morto. O sofrimento da
família, porém, não acabava ali. "Além da dor desta situação terrível, temos de
enfrentar o preço do funeral", queixou-se Andrade.
Na
Venezuela, a vida vale pouco, e morrer sai caro. Segundo o Observatório
Venezuelano da Violência, houve quase 28 mil homicídios no país em 2015, dos
quais 5.250 na capital. Caracas é a mais violenta das grandes cidades do mundo,
segundo levantamento anual da ONG mexicana Conselho de Cidadãos para Segurança
Pública e Justiça Criminal.
Num
país em que a inflação galopou para 700% e a economia encolheu 10% em 2015, a
população luta para pagar por comida, remédio e outras necessidades. Com a
escassez de muitos produtos e uma moeda desvalorizada, tudo ficou mais caro.
Enterros não são exceção.
Para
organizar um funeral e sepultamento decentes, uma família precisa de pelo menos
400 mil bolívares — cerca de US$ 400 no mercado paralelo, que determina o preço
de quase tudo para a maioria dos venezuelanos. A quantia é astronômica para a
Venezuela, onde o salário mínimo é de 15 mil bolívares — ou US$ 15. As
funerárias também enfrentam dificuldades, pois as pessoas nunca conseguem pagar
a conta.
Conclusão
Algumas pessoas com frequência me perguntam por que eu
sou tão passional quando o assunto é liberdade de empreendimento e livre
mercado. Veja aí a resposta
prática. Em última instância, a defesa da
liberdade e do livre mercado é uma defesa da qualidade de vida na terra. Vamos prosperar ou vamos morrer de fome?
É
disso que se trata a economia. E não é
um problema abstrato.
Qualquer país do planeta é capaz de criar a fome em
massa. Tudo o que é necessário fazer é
seguir o caminho da Venezuela. Ataque a
propriedade privada, persiga os empreendedores e comerciantes, destrua a moeda, extinga
o sistema de preços, acabe com o comércio internacional, estatize empresas, mande
para a cadeia os seus opositores, e desmantele aquele sistema de liberdade
natural que alimenta o mundo.
Isso é o socialismo.
É o caminho garantido para o inferno na terra.
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Artigos
indispensáveis para entender as medidas econômicas adotadas pelo governo
venezuelano que geraram esse colapso:
A espiral decadente da
Venezuela
Milhões, bilhões, trilhões:
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O socialismo venezuelano:
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O que a "justiça social"
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O colapso da Venezuela não
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Na Venezuela, a
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