Agora já ficou cristalino que os burocratas da União
Europeia estão fazendo tudo o que podem para punir o Reino Unido por ter votado
a favor de sua saída da UE.
Ainda antes do referendo, o ministro das finanças da
Alemanha, Wolfgang Schauble, ameaçou
abertamente o Reino Unido e afirmou que, em caso de saída, o país jamais
conseguiria livre acesso ao mercado da União Europeia. Em outras palavras, o burocrata disse que a União
Europeia iria revidar e jamais concederia o mesmo tipo de acesso que a Noruega e
a Suíça, dois não-membros da União Europeia, possuem.
Após o referendo, o presidente do parlamento da União
Europeia, Martin Schulz, direcionou toda a sua fúria para o Reino Unido e declarou
que ele queria o país fora o mais rápido possível, alegando que o Reino
Unido estava mantendo a União Europeia "refém".
Schulz, obviamente, foi o mesmo cidadão que condenou
abertamente os poloneses por terem a audácia de eleger alguém que Schulz não
aprova (a primeira-ministra Beata Szydlo, que retirou
a bandeira da União Europeia do gabinete e colocou um crucifixo no lugar do
relógio na sala de conferência dos ministros), chegando a dizer que essa livre
escolha dos poloneses "foi um golpe".
Logo
após as eleições polonesas, Bruxelas começou uma devassa contra os poloneses, e
outros políticos eurófilos pediram sanções contra a Polônia pelo fato de o país
não ter elegido as "pessoas certas", isto é, as marionetes pré-aprovadas por
Bruxelas.
Em decorrência do referendo do Reino Unido, partidos eurocéticos de mais
quatro países já anunciaram que também querem referendos para sair da União Europeia:
Holanda, Itália, França e Dinamarca. Já o
ministro das finanças alemão afirmou
que Áustria, Finlândia e Hungria podem se juntar à lista acima.
Foi exatamente para tentar conter essa debandada que
os burocratas da União Europeia passaram a fazer ameaças explícitas ao Reino
Unido, sugerindo a imposição de tarifas e a criação de barreiras para impedir o
acesso de seus bens à União Europeia.
E tão eficaz foi essa ameaça, que a libra esterlina
derreteu. Óbvio. A partir do momento em que há a possibilidade
de o livre comércio ser obstaculizado, a força de uma moeda se deteriora. Barreiras ao livre comércio equivalem a uma redução
no poder de compra da moeda. Se o comércio
deixa de ser livre e passa a ser restringido, o poder de compra da moeda vai
junto. Os mercados financeiros
simplesmente estão antecipando esta medida.
Em relação ao dólar, a libra esterlina afundou. No dia 22 de junho, um dia antes do
referendo, uma libra comprava US$ 1,475. Hoje, a mesma libra compra US$ 1,33, uma queda de 9,83% em dois dias.

A atual taxa de câmbio entre a libra e o dólar vigorou
pela
última vez em 1985.
Em relação ao euro, o mergulho foi semelhante. No dia 22 de junho, uma libra comprava 1,3054
euro. Hoje, compra 1,2084. Queda de 7,43% em dois dias.

Ao ameaçar impor maiores tarifas e dificultar o
acesso dos produtos do Reino Unido ao continente europeu em consequência de a população
ter votado por mais soberania, menos centralização e um sistema de governança menos
burocrático, a União Europeia demonstra exatamente aquela atitude tirânica
da qual os proponentes do Brexit queriam escapar.
Essa tática do medo utilizada pela UE se assemelha a
um ultimato dado por Darth Vader para que todos se unam ao Império Galáctico: "Você
pode até optar por ser independente, mas você sentirá a nossa fúria."
É esse medo que está gerando ainda mais incertezas
quanto ao futuro. E são essas incertezas
que estão gerando turbulência nos mercados financeiros e de câmbio. Há uma força governamental despótica atuando para
tentar manter uma grande economia como sua refém, ameaçando com tarifas e restrições
ao comércio. O problema, portanto, não foi
a "independência" do Reino Unido, mas sim o poder que a União Europeia possui para
determinar as políticas às quais os países da região devem se submeter.
E, de novo, tão eficaz foi essa estratégia, que já um
movimento
conclamando um novo referendo, com o intuito de reverter o resultado
anterior.
A
coisa fica ainda mais ridícula
Ontem, a situação azedou ainda mais após Danuta
Hübner, a presidente do Comitê de Assuntos Constitucionais do Parlamento
Europeu, ter declarado
que o inglês deixará de ser um idioma utilizado pela União Europeia tão logo
o Reino Unido saia. Hübner deve ter
feito uma força sobre-humana para manter uma expressão séria quando anunciou
que "Temos uma regulamentação que diz que cada país da EU tem o direito de
notificar seu idioma oficial. […] Os irlandeses
já notificaram o gaélico, e os malteses já notificaram o maltês, de modo que
sobrou apenas o Reino Unido notificando o inglês".
E finalizou: "Se não temos o Reino Unido, então não temos
o inglês".
A ânsia da União Europeia por uma vingança contra o
Reino Unido já está clara o bastante, mas não deixa de ser hilária a suposição
de que todos os cidadãos da Irlanda e de Malta — países-membros da UE — irão repentinamente
preferir conduzir seus negócio em maltês e em gaélico. Aproximadamente 90% dos malteses falam o inglês
como uma segunda língua, e praticamente todos os irlandeses falam o inglês como
a primeira língua. A ideia de que os
irlandeses irão repentinamente preferir fazer negócios em gaélico apenas para dar
uma lição nos eleitores ingleses não é exatamente muito plausível.
Portanto, o fato de UE ainda ter dois países-membros
que majoritariamente falam o inglês e a ideia de que a UE pretende se isolar
linguisticamente dos países mais ricos do mundo ilustram bem o nível a que
chegou a insanidade de seus burocratas. Afinal,
quatro das dez maiores economias do mundo (EUA, Reino Unido, Canadá e Índia)
utilizam o inglês ou como idioma principal ou, no caso da Índia, como língua franca nas áreas
do comércio e das ciências.
Adicionalmente, o inglês aparentemente já é o idioma
utilizado cotidianamente nas conversações em Bruxelas. Supondo que o Reino Unido de fato saia da UE,
não há nenhum risco de o inglês de fato ser abolido.
Ainda resta a ser visto se esta última ameaça em relação
ao inglês será tão forte e eficaz quanto a ameaça de cortar o comércio com o
Reino Unido. Recentemente, até mesmo Barack
Obama reforçou o coro das ameaças dizendo que o Reino Unido, caso saísse, "iria
para o fim da fila" nas negociações comerciais. Por causa do mal-estar causado, um porta-voz
entrou em cena para amenizar e afirmou que os EUA continuam comprometidos em
manter relações estreitas com o Reino Unido.
Conclusão
Se há algo que a União Europeia aparenta estar
desejando ardentemente é uma completa catástrofe econômica em decorrência do
voto britânico. Ela quer que suas ameaças
e seu terrorismo econômico gerem conseqüências e se transformem em uma profecia
auto-realizável.
Burocratas adoram instilar o medo e criar tumultos,
pois isso torna as pessoas mais dispostas a cederem em troca de um pouco de paz
e estabilidade. E é assim que os poderes
governamentais crescem. Adicionalmente,
criar turbulências no Reino Unido teria o "benéfico" efeito colateral de
desestimular outros países a fazerem referendos e seguirem o mesmo caminho.
Por outro lado, se o Reino Unido provar que é possível
sair da UE, manter relações comerciais amigáveis e continuar sendo uma economia
global dominante, então isso significaria o início do fim da União Europeia. Se outras nações perceberem que é possível escapar
da Burocracia de Bruxelas sofrendo apenas complicações de curto prazo, isso
certamente levará a um êxodo daquela união política destinada ao fracasso.