quinta-feira, 23 jun 2016
E se cada indivíduo deste planeta, independentemente
de sua classe social, idioma ou nacionalidade, pudesse abrir uma loja de
comércio varejista cujos produtos estejam disponíveis para todos?
Ainda mais importante: e se ele pudesse fazer isso
sem ter de pedir permissão para nenhum burocrata? Para completar: e se não houvesse nenhum
obstáculo artificialmente criado pelo estado no caminho dessa pessoa?
Isso não era possível há 12 meses. Mas
hoje já é.
E se esse empreendimento pudesse ofertar bens e serviços
em troca de pagamentos oriundos de qualquer parte do mundo, mas sem ter de
recorrer a bancos, a qualquer sistema de pagamento convencional, ou a qualquer
outro intermediário financeiro?
Isso não era possível antes da invenção das criptomoedas, mas
hoje já é.
E se esse empreendimento fosse tão descentralizado,
que nenhum governo no mundo pudesse fechá-lo?
Ninguém poderia imaginar isso há uma década, mas já é
a realidade hoje.
A tecnologia que tornou tudo isso possível não é
nenhum site de internet, mas sim um aplicativo que qualquer pessoa pode baixar
gratuitamente. Foi lançado recentemente
e já está sendo utilizado por milhares de pessoas ao redor do mundo.
Ele se chama OpenBazaar e seu endereço é OpenBazaar.org.
Seu slogan é "Livre mercado para todos. Sem taxas.
Sem restrições."
Como dito, qualquer pessoa pode baixar o aplicativo,
fazer compras e montar seu próprio empreendimento, sem taxas, sem ter de
recorrer a extensões, sem ter de instalar recursos adicionais (os famigerados plugins) e sem ser submetido a nenhuma
outra exigência irritante. O sistema de
pagamento é a moeda digital internacional, o Bitcoin, que não depende de nenhum
sistema financeiro e monetário nacional.
A plataforma do OpenBazaar, assim como a plataforma
do Bitcoin, não possui um ponto central de
falha, de modo que é impossível ele ser perseguido, fechado e destruído pelos
governos.
A plataforma opera sob o sistema peer-to-peer (arquitetura de redes de
computadores em que cada um dos pontos ou nós da rede funciona tanto como
cliente quanto como servidor, permitindo compartilhamentos de serviços e dados
sem a necessidade de um servidor central), de modo que não é necessário pedir
nenhuma permissão para terceiros.

E aí surge a pergunta: se não há uma supervisão central,
como é que o comprador e o vendedor poderão se certificar de que a outra parte
cumpriu o combinado? Como pode o
comprador ter a garantia de que o vendedor não irá simplesmente pegar o
dinheiro e sumiu? Como pode o vendedor
saber se o comprador realmente pagou pela mercadoria que já foi enviada?
A plataforma utiliza outra inovação, que foi criada há
apenas alguns anos: ela se chama multisig
ou multi-assinatura.
O OpenBazaar explica:
Se
ambos concordam com um preço, então o cliente cria um contrato entre vocês dois
com a sua assinatura digital, e envia esse contrato para um terceiro, que será
o moderador. Esses moderadores também são
pessoas que utilizam a rede do OpenBazaar — pode ser tanto o seu vizinho
quanto uma pessoa do outro lado do planeta —, nas quais o comprador e o
vendedor confiam caso algo dê errado. Esse
moderador visualiza o contrato e cria uma conta multisig para a qual o Bitcoin
deve ser enviado. Essa conta requer que
duas de três pessoas dêem o seu ciente para que o Bitcoin possa ser liberado.
O
comprador então envia a quantia mutuamente acordada para o endereço multisig. Você recebe uma notificação dizendo que
comprador enviou os fundos para o endereço, e então você envia a mercadoria e notifica
que ela foi enviada. O comprador a
recebe alguns dias depois e notifica que a recebeu. Isso irá liberar os fundos do endereço multisig
para você. Você recebeu seus Bitcoins e
o comprador recebeu a mercadoria. Nenhuma
taxa foi cobrada, ninguém impediu a sua transação comercial. Todos estão satisfeitos.
Para que tal invenção fosse possível, era necessário
antes de tudo existir o Bitcoin, o qual surgiu em 2009 como resposta à urgente necessidade
de se ter uma moeda que pudesse ser transacionada pela internet, que operasse
fora das fronteiras determinadas pelos governos e que não fosse controlada por
nenhum Banco Central. A própria invenção
do Bitcoin baseou-se nas inovações ocorridas nos sistemas de processamento distribuído,
na criptografia, e em registros contábeis (armazenados nas nuvens) que mantêm
um registro histórico de quem é dono de quê.
(Veja um resumo
aqui).
Com o surgimento agora do OpenBazaar, podemos testemunhar
mais um tijolo sendo colocado na construção de uma infraestrutura comercial
globalmente aberta, expansível para toda a população humana e que funciona fora
das estrutura legais de qualquer país. Trata-se
de uma tremenda dádiva criada pela genialidade humana e um inequívoco sinal auspicioso
quanto às perspectivas para a nossa liberdade.
Tijolo
por tijolo
E, no entanto, cada inovação depende de várias inovações
anteriores. E é por isso que ninguém deveria
se esquecer do que realmente deu impulso a essa conquista. O Silk Road (fevereiro de 2011
a outubro de 2014) foi o primeiro e mais famoso mercado digital a aceitar o
Bitcoin. Ele foi fechado pelo governo americano
porque havia se tornado um meio para a distribuição de produtos como a maconha,
que hoje já se tornou lícita em vários locais.
Por estar à frente do seu tempo, o fundador e criador Ross Ulbricht foi condenado
a nada menos que duas sentenças de prisão perpétua.
A inovação varejista de Ross inspirou outros a verem
o extraordinário potencial da ideia. O Silk
Road errou exatamente em ser muito centralizado. Tão logo o FBI descobriu seu administrador,
os burocratas o capturaram com a janela do admin
aberta, e com isso conseguiram acesso a todos os dados.
Isso não é possível de acontecer com o OpenBazaar,
pois a própria plataforma é literalmente distribuída por todo o mundo; e, assim
como o Bitcoin, que se comporta como uma hidra, a plataforma do OpenBazaar se
aproveita da ordem espontânea e sem fronteiras do espaço digital de uma maneira
que maximiza a liberdade humana.
Sempre que falamos sobre essas inovações, é difícil resistir
à tentação de falar em detalhes sobre essa extraordinária tecnologia. Porém, em última instância, não estamos
realmente falando de tecnologia; não estamos realmente falando de criptografia,
redes distribuídas, sistemas de pagamento multisig e afins; estamos, isso sim,
falando da incessante busca de cada ser humano por sua autonomia universal, livre
de amarras artificiais criadas por burocratas.
É realmente disso que estamos falando.
Tenho em mente uma mulher simples em Moçambique,
desesperadoramente pobre, mas com um grande talento para a costura. Talvez ela seja boa em fazer belas gravatas-borboletas
artesanais. Ela possui um smartphone com
acesso à internet, cujo custo muito provavelmente chega a um quarto da sua
renda. Com essa rede, ela pode alcançar todo
o planeta com seu produto, e até mesmo construir um grande negócio. Com o desenvolvimento e difusão do Bitcoin,
ela pode auferir uma renda que irá se tornar um capital a ser investido na expansão
de seu empreendimento, o qual poderá agora se tornar muito próspero, com uma
clientela literalmente global.
Não foram as ajudas estrangeiras ou os governos que
fizeram isso. Foi o poder do empreendedorismo na era digital. Graças a tecnologias como o OpenBazaar, nosso
longo prazo está mais promissor.
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