segunda-feira, 6 jun 2016
Estamos a menos de 3 semanas para o referendo do "
Brexit"
(quinta-feira, 23 de junho), que decidirá se a Grã-Bretanha sairá ou não da
União Europeia.
(O termo "Brexit" é uma conjunção de Britain, de Grã-Bretanha, com exit, que significa saída).
O Partido
da Independência do Reino Unido (UK
Independence Party), que tem 13% do eleitorado, defende a saída. Cerca de metade dos parlamentares do Partido
Conservador também defende a saída (embora o Partido tenha se mantido
oficialmente neutro na campanha).
Já o Partido Trabalhista, o Partido Nacional
Escocês, o Plaid Cymru
(do País de Gales) e os Liberal-Democratas estão contra a saída.
Há algumas vantagens em estar na UE, como, por
exemplo, o livre comércio
(em grande medida) e o livre movimento de pessoas, em que não são exigidos passaportes
(exceto países que não estão na área de Schengen,
como a Grã-Bretanha) dos cidadãos dos países-membros.
Porém, o que está em jogo é o conceito e o
funcionamento da centralização de poderes. Os pontos negativos da União Europeia
são numerosos e estão demonstrados neste imperdível documentário
A UE foi formalmente criada em 1992, por meio do Tratado de Maastricht,
que determinou também a introdução gradual da nova moeda, o Euro. O documento
foi costurado pelo socialista francês Jacques Delors,
presidente da Comissão Europeia. Delors, Mitterrand (presidente da França),
Helmut Kohl (chanceler alemão) e seus amigos socialistas eram oponentes das
políticas econômicas de Reagan e Thatcher, que reduziram a inflação e geraram
crescimento por meio de menos impostos, desregulamentação de alguns setores,
políticas monetárias restritivas, e combate aos sindicatos (o oposto do que os
socialistas europeus pregavam).
Estes socialistas — que em muitos governos europeus
eram aliados dos partidos comunistas — ainda estavam chocados com o júbilo dos
europeus orientais em derrubar estátuas, símbolos e sistemas socialistas após a
queda do muro. Queriam um poder europeu que pudesse enfrentar os Estados
Unidos, em termos de comércio e finanças.
A Grã-Bretanha assinou o Tratado, mas John Major (Primeiro
Ministro que sucedeu Margaret Thatcher) exigiu que tivesse a opção de lidar com
a adoção do euro mais à frente (a Dinamarca também foi agraciada com esta regra
de exceção). Thatcher dizia que a adoção do euro seria "socialism through the
back-Delors". (Um trocadilho entre "porta
dos fundos" (back door) e o sobrenome do francês Delors. Com isso, ela quis dizer que seria uma maneira furtiva de se adotar o socialismo).
Já Helmut Kohl queria ser conhecido não apenas como
o chanceler mais longevo, mas também como o que reunificou a Alemanha e que
uniu a Europa por meio da UE. Por conta disso, impediu que os alemães votassem
diretamente em referendo sobre a entrada na UE e a adoção do euro,
desrespeitando acima de tudo aquela instituição por quem os alemães tinham
profundo orgulho e respeito: o marco alemão. Essa manobra
fez com que Kohl perdesse a eleição.
(Leia aqui para entender
por que os alemães abriram mão do seu venerado marco alemão).
A expectativa dos europeus era que o euro se
tornaria a nova moeda de reserva do mundo, suplantando o dólar. Ledo engano. O
dólar estava em boa fase, e ainda é, depois de 15 anos da adoção definitiva do
euro, de longe, a moeda mais líquida do mundo.
A Grã-Bretanha percebeu que nada perdeu por não ter
se unido ao euro, e agora se pergunta se perderia algo não estando na UE. Os
ingleses sempre recearam um Estados Unidos da Europa. Como mostra o
documentário acima — intitulado 'Brexit, the Movie' —, as vantagens da saída
são enormes.
Pelas últimas pesquisas, a despeito da campanha do Remain (permanecer) liderada por
Cameron, é possível que a Grã-Bretanha tome o caminho da saída.