terça-feira, 10 0aio 2016
As revoluções econômicas passadas — agrícola, industrial
e digital — alteraram profundamente os padrões de trabalho até então estabelecidos,
mas não eliminaram a necessidade de utilizar mão-de-obra humana. Já os robôs, ao reduzirem a necessidade de
utilizar não apenas as mãos humanas, mas também o cérebro humano, podem
realmente lograr tal façanha.
Porém, se a mão-de-obra humana se tornar obsoleta, o
que essa obsolescência irá significar para o tecido social e para a nossa percepção
do que somos?
A revolução da robótica não representa a primeira vez que a
humanidade tem de lidar com profundas mudanças econômicas. Dez milênios atrás, nossos ancestrais que
viviam da prática da caça e coleta, e que nada mais faziam senão procurar
alimentos diuturnamente, descobriram a agricultura. Antes da agricultura, pequenos grupos de Homo sapiens perambulavam pela terra à
procura de comida e abrigo. Qualquer animal
que eles matassem ou qualquer fruta, raiz ou planta que encontrassem tinham de
ser divididas entre eles. Isso levou ao
surgimento da mentalidade igualitária
de nossa natureza "humana".
Com a agricultura deixamos de ser nômades e adotamos
um estilo de vida mais estacionário. Fazer
um planejamento voltado para o longo prazo tornou-se uma prática comum, assim
como a noção de poupança e de investimento.
Adotamos uma compreensão mais ampla e sofisticada dos direitos de
propriedade. Passamos a acumular riqueza. Paralelamente, os humanos desenvolveram
hierarquias, desde monarcas que protegiam a vida e a propriedade,
passando por juízes que resolviam rixas e estipulavam punições, e chegando a
sacerdotes que tinham a tarefa de garantir que haveria chuvas e a colheita
seria farta.
A agricultura e o feudalismo substituíram a caça e a
coleta, e a humanidade se adaptou.
Avancemos agora para 250 anos atrás e chegamos à
Revolução Industrial, a qual começou na Grã-Bretanha e então se espalhou para
outras partes do mundo. A humanidade,
desde então, desenvolveu novos materiais, como o vidro e o aço; novas fontes de
energia, como a eletricidade e o petróleo; novos meios de transporte, como o
motor a vapor e o motor de combustão interna; e novas máquinas, como a máquina
de fiar e o tear mecânico.
O sistema fabril levou a um aumento da divisão do
trabalho e gerou a especialização. Aumentou
maciçamente a produção de bens manufaturados e o comércio internacional. O aumento da urbanização gerou melhorias
profundas nas condições sanitárias e na educação, além de despertar a consciência
política entre os cidadãos comuns, que não mais tolerariam viver sob déspotas
feudais. O concomitante colapso no
emprego agrícola — só nos EUA, no ano de 1900, 40% da população estava
empregada no campo; hoje, apenas 1,5% — gerou alertas catastrofistas, os quais
diziam que faltaria comida para o mundo e que não haveria empregos para todos.
No entanto, a renda real per capita mundial aumentou
de $ 3,50 por dia em 1820 para $ 33 em 2010.
A revolução agrícola e o feudalismo deram lugar ao
capitalismo, e a humanidade se adaptou.
A década de 1970 vivenciou o início da revolução digital,
a qual continua até os dias de hoje. Os rápidos
avanços na ciência e na tecnologia aumentaram sobremaneira a velocidade e
reduziram os custos dos microprocessadores e dos computadores. Computadores pessoais, celulares e a internet
— todos eles ferramentas de trabalho — se tornaram coisas ubíquas em nossos
lares, em nosso ambiente de trabalho e nas universidades. Computação analógica, fotografia analógica,
cinematografia analógica, televisão analógica e rádio analógico se converteram
em tecnologias digitais. Correios,
telex, telegramas, máquinas de escrever, telefones públicos (os "orelhões"),
fitas cassetes e VHS ou desapareceram ou estão prestes a desaparecer.
Assim como ocorreu com as revoluções agrícola e
industrial, a revolução digital também gerou grandes alterações econômicas, mas
não resultou em desemprego em massa. Com
efeito, e não obstante uma população global ainda em crescimento, o emprego
geral continua se expandindo. Em vez de ser substituídos pelos
computadores, os humanos passaram a fornecer a infraestrutura que dá sustentação
à computação digital. Apenas pense em quão
frustrante seria se você não pudesse "chamar alguém" para consertar o seu
computador.
Em outras palavras, a humanidade se adaptou.
Tendo em mente todo este panorama, é válido dizer
que os temores de economistas, políticos e trabalhadores de que os robôs irão
destruir os empregos não apenas são exagerados, como ainda revelam um desconhecimento
da história. A crescente robotização é propícia à criação de novos empregos. Uma abundante criação
de empregos sempre foi, em todo lugar e em qualquer período da história, o
resultado de avanços tecnológicos que tautologicamente levaram à destruição de
trabalhos obsoletos.
Uma automação agressiva liberta o ser humano do
fardo de ter de fazer trabalhos pesados — até então essenciais — e o libera
para se aventurar em novos empreendimentos. Isso é propício à criação de
novos empregos.
Houve uma época em que praticamente todos os seres
humanos tinham de trabalhar no campo — querendo ou não — apenas para
sobreviver. A tecnologia acabou com a necessidade de utilizar seres
humanos para fazer trabalhos agrícolas pesados, e os liberou para ir buscar
outras vocações fora do campo. Foi assim que começou nosso processo de
enriquecimento e de melhora no padrão de vida.
A massificação do uso de robôs como mão-de-obra
permitirá que descubramos novas aptidões e novos trabalhos, os quais, no
futuro, nos deixarão atônitos ao percebermos o tanto de energia que gastamos
com trabalhos monótonos e repetitivos no passado. Os "destruidores
de emprego" do passado — como o automóvel (que destruiu empregos no setor
de carroças), o computador (que destruiu empregos no setor de máquinas de
escrever), a luz elétrica (que destruiu empregos no setor de vela) — parecerão
ínfimos em comparação.
O automóvel, o computador, a luz elétrica, a
internet e a mecanização da agricultura tornaram várias formas de emprego
totalmente obsoletas. Não obstante, isso não apenas não empurrou a
humanidade para a pobreza endêmica e para a "fila do pão", como ainda
gerou a criação de maneiras totalmente novas de se ganhar a vida. A robotização
promete uma multiplicação de tudo isso.
Sempre tenhamos isso em mente: tudo o que é poupado
no processo de produção se transforma em mais capital disponível para novas
ideias. Se passamos a utilizar menos mão-de-obra e menos recursos em um
determinado processo produtivo, essa mão-de-obra liberada e esses recursos
poupados estarão livres para ser utilizados em outros processos de produção, em
novas ideias e em novos empreendimentos.
Quais as consequências disso? É simples: para que empreendedores possam
fazer grandes tentativas empreendedoriais, eles têm antes de ter capital e
mão-de-obra disponível para fazê-lo. A robótica gera eficiências que
aumentam os lucros, e isso permitirá um enorme surto de investimentos, os quais
nos brindarão com todos os tipos de novas empresas e de avanços tecnológicos
que criarão novos tipos de empregos hoje inimagináveis.
É impossível haver empresas e empregos sem que antes
tenha havido investimentos. E investidores cujo capital cria empresas e
empregos são atraídos por lucros. Se os processos produtivos atuais forem
automatizados, e com isso pouparem mão-de-obra e reduzirem custos operacionais,
essa automação irá gerar lucros maciços, os quais poderão ser direcionados e
investidos nas empresas e nas ideias do futuro.
Essa realidade é frequentemente ignorada por
economistas, políticas e comentaristas. Quase todos analisam o
crescimento econômico através do prisma da criação de empregos. Eles
acreditam que é a criação de empregos o que gera crescimento econômico.
Isso está exatamente ao contrário: se a criação de empregos gerasse crescimento
econômico, então a solução seria simples: abolir todos os tratores, carros,
lâmpadas, serviços bancários e a internet. Se isso fosse feito, todos nós
teríamos de trabalhar. Consequentemente, nossas vidas seriam muito mais
miseráveis.
A realidade é que o crescimento econômico é
resultado da produção. Crescimento ocorre quando se produz
mais com menos. Apenas pense nos países mais pobres e mais atrasados do
mundo. Ali,
praticamente todo mundo trabalha muito, o dia todo e todos os dias.
Já nos países mais ricos e avançados, e que adotaram as automações do passado,
as crianças são livres para usufruir sua infância, os mais velhos são mais saudáveis
e capazes de desfrutar sua aposentadoria, e os pais podem dedicar mais tempo à
criação de seus filhos. Tudo isso se deve aos avanços tecnológicos
ocorridos ao longo de décadas e que reduziram a necessidade de trabalho
braçal. Essa mecanização inundou o mundo com mais abundância em troca de
menos trabalho. A robótica fará o mesmo.
E, como também mostra a história, a inovação é, em
si mesma, a criadora de novas formas de trabalho. Se você duvida disso,
apenas pense na internet. Vinte anos atrás, a maioria de nós praticamente
desconsiderava essa invenção; hoje, em 2016, milhões de pessoas ao redor do
globo têm um emprego que está diretamente relacionado a isso que era
irrelevante em 1995. E milhões mais têm um emprego relacionado ao
crescimento da internet. Uma visita a Seattle e ao Vale do Silício
mostra bem isso.
A robotização criará vários tipos de empregos
direitos e indiretos, e a produção em abundância possibilitada pelo trabalho
mecanizado permitirá que os recursos poupados sejam direcionados e investidos
na medicina, nos sistemas de transporte e em novos conceitos empresariais,
gerando cruciais inovações. A tecnologia de hoje, que já é
impressionante, parecerá arcaica em comparação.
Conclusão
Hoje, estamos testemunhando a alvorada da revolução robótica. No futuro próximo, os robôs passarão por um
crescimento exponencial em termos de suas capacidades e aplicações.
A mudança que nos espera também nos oferece um incrível
conjunto de oportunidades. Iremos eliminar
trabalhos perigosos, sujos, insalubres e degradantes, ao mesmo tempo em que
poderemos explorar os dois terços da terra inóspitos aos seres humanos.
Os desejos do ser humano são, por definição,
ilimitados; e, enquanto o capitalismo ainda não houver encontrado uma maneira
de satisfazer todos os desejos e de curar todas as doenças — ou seja, nunca —,
sempre haverá capital buscando novas possibilidades de investimentos e
soluções.
Com a abolição das formas mais exaustivas de
trabalho possibilitada pela automação, a genialidade do ser humano será liberada
para se concentrar em uma infinidade de desejos e necessidades ainda não
atendidos pelo mercado. Entre as maiores enfermidades, aquele flagelo que
é o câncer será atacado por investimentos exponenciais, em conjunto com as
mentes bem-remuneradas por esses investimentos.
A solução para o nosso bem-estar passa pelo
aprofundamento da robótica.
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Leia também:
Automação versus empregos - como ter uma carreira para a vida inteira