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Um status de ingovernabilidade se caracteriza pelo
afastamento contínuo e crescente das elites — políticas, militares,
empresariais, intelectuais e religiosas — em relação ao governo em questão.
Em meio a tantas notícias e ruídos, fica difícil perceber ou
mensurar a velocidade desse afastamento. No caso da expansão do universo,
mensura-se pelo grau de avermelhamento da luz das estrelas (efeito Doppler). No
caso da ingovernabilidade brasileira, há um doppler
ao contrário, todos fugindo do vermelho.
Um dos sinais reveladores da aceleração da ingovernabilidade
é que os argumentos — ainda que dotados de algum fundamento — daqueles que
ainda apoiam o regime não encontram eco algum; apenas servem como justificativa
para que tais defensores sejam associados a uma causa perdida, como a defesa de
um governante com pouca ética e sem futuro.
Ou seja, para os solitários apoiadores ainda corajosos o suficiente
para fazer uma defesa pública, qualquer discurso de apoio ao regime tem um
custo maior (e crescente) do que qualquer benefício. É a areia movediça da
ingovernabilidade. Mexer-se e debater-se é pior, levando à morte.
Por conta deste efeito, são cada vez mais raros os votos de
apoio públicos por membros de lideranças das diversas elites mencionadas acima
(os formadores de opinião). Aqueles que ainda apoiam o governo passam a se
calar. Só que isto também piora a sustentabilidade e governabilidade.
Usualmente, o governo tenta a cartada final de mobilizar os
simpatizantes remanescentes entre o povo para ir às ruas. Porém, sem o apoio e
intermediação dos formadores de opinião, e dada a baixa energia dos
simpatizantes remanescentes, não há o efeito esperado.
A areia movediça da ingovernabilidade não perdoa.