segunda-feira, 11 jan 2016
O atual governo grego, sob o comando do partido
de extrema-esquerda Syriza, deixou vazar um plano
de implantar um profundo corte das aposentadorias: em alguns casos, os
cortes chegam a 35%.
Os novos aposentados que iriam receber mais de 750
euros mensais terão uma redução de 15%. Pensões
acima de 2.000 euros serão reduzidas em 30%.
E quaisquer pensões acima de 3.000 euros serão reduzidas para 2.200
euros. Trata-se de uma notável tesourada que também irá afetar os atuais
aposentados que recebem uma pensão inferior a 1.000 euros mensais.
Até
o momento, o governo grego já elevou a idade de aposentadoria e já extinguiu
vários benefícios conseguidos por aposentadorias precoces.
Deixando de lado as várias críticas à incoerência entre o
discurso de Alexis Tsipras quando chegou ao poder há exatamente um ano e sua atuação
nos dias de hoje, o certo é que estes cortes de gastos tão impopulares apenas
ressaltam que, na política, nem tudo é possível.
Assim, e ao contrário do que gostam de afirmar as
mais variadas formações populistas, nem tudo é uma questão de "vontade política". Empregos não são criados por mera vontade política;
salários não aumentam por mera vontade política; a Previdência não se torna sustentável
por mera vontade política; o déficit orçamentário do governo não desaparece por
mera vontade política; e as crises não são superadas por mera vontade política.
Uma economia não é uma massa de modelagem que o
onipotente político do momento pode moldar de acordo com sua imaginação e seus
caprichos. Por isso, por maior e por
mais genuíno que fosse o desejo de Tsipras de interromper os cortes de gastos,
o fato é que ele acabou se convertendo no maior "cortador" de gastos dentre
todos os recentes governos gregos.
Eis uma lição: desconfie sempre de todos aqueles
que, com palavras emotivas e brilhos nos olhos, prometem reinventar a roda em matéria
econômica, quase sempre recorrendo a meras frases de efeito.
E o problema nem está no fato de que altas
expectativas acerca de promessas impossíveis acabarão se degenerando em
profundas frustrações — como ocorreu entre vários eleitores do Syriza [e do PT
no Brasil]; o real problema está no fato de que a políticos intervencionistas e
suas suicidas intenções de revogar as leis da gravidade econômica podem acabar
provocando um resultado exatamente oposto ao almejado — como também ocorreu
com o Syriza quando quebrou
o sistema bancário do país [e como também ocorreu no Brasil
com as reduções artificiais dos preços da eletricidade e com o congelamento do preço
da gasolina].
Como sempre afirmou Ludwig von Mises, "os políticos não
podem enriquecer as sociedades; mas podem, facilmente, empobrecê-las". Ou, dito de outra maneira, um político não consegue,
por meio de decretos e regulamentações, multiplicar os pães e os peixes; o que um
político de fato consegue, por meio de decretos e regulamentações, é paralisar a produção de pães e peixes
dentro de um país.
Por isso, em vez de aplaudir aqueles que querem
impor fanaticamente sua "vontade política" populista sobre a mais elementar
racionalidade econômica, deveríamos escarnecê-los em público. O próprio Tsipras acabou se rebelando contra
o seu antigo eu.
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