quarta-feira, 10 jun 2015
Passei
há alguns dias por uma experiência única, inesperada, dramática:
um
terremoto no Japão, no décimo nono andar de um hotel.
A
caminho do Brasil, considero as lições que podemos tirar disso para nossa
realidade: somos um país livre de devastadores desastres naturais, mas repleto
de cataclismos perpetrados pelo homo
politicus.
Jack Goldstone,
professor de sociologia da George Mason University, afirma que revoluções são
como terremotos: geólogos podem conhecer os locais das grandes falhas onde o
próximo tremor tem mais chance de ocorrer; mas apenas o conhecimento dos
mecanismos que geram os terremotos não nos permite prevê-los. Nem seu local e nem muito menos seu tempo.
Pergunto-me
se o Brasil pode estar próximo de um terremoto de grandes proporções.
Vejamos
os principais pontos que afastam a hipótese.
Em
primeiro lugar, temos um povo predominantemente conservador e pacífico. Adicionalmente, há uma democracia estável, com
instituições consolidadas. Por fim, os principais agentes históricos executores
de mudanças radicais no Brasil parecem imobilizados: a elite de esquerda, por
ser e exercer o poder; a da direita, pelo imobilismo da derrota acachapante das
últimas décadas; e os militares, sem prestígio para qualquer manifestação de
ordem política.
No
entanto, alguns sinais parecem apontar na direção oposta. Os governantes
parecem fracos e isolados, e suas tentativas de reformas, modestas e tardias.
Alguns setores da elite não-governamental estão deixando de dar seu histórico
suporte ao governo, embora ainda não veiculem com veemência seu
descontentamento com as políticas públicas desastrosas.
Em
uma sociedade em equilíbrio
de Nash, a) os governantes dão segurança e serviços em troca de impostos,
b) os diversos grupos de elite, no governo e fora dele, dão suporte aos
governantes em troca de prestígio e recompensas políticas e financeiras, e c) a
massa é deixada livre para viver sua vida em relativa segurança e para produzir
para si, em troca de obediência e impostos.
No
atual cenário brasileiro, as condições do equilíbrio social não mais parecem
prevalecer. A segurança pública é um desastre. As elites não-governamentais
estão se sentindo mal recompensadas e perseguidas pelos contínuos aumentos no
intervencionismo e nos impostos. A elite governamental está ganhando em
importância à custa da população e das demais elites. Por último, as massas estão sofrendo com
insegurança, inflação e alta de impostos, e tendo seus sonhos — frutos da
estabilização —sonegados pelas políticas públicas.
O
coquetel para o terremoto de revoltas e até mesmo de revolução está na mesa.
Onde e quando? Impossível dizer.
Por
enquanto, as elites apóiam reformas graduais. Porém, na base, a percepção de
injustiça social cresce, os protestos são notícia de primeira página, e agora
estudantes e ruralistas parecem estar se unindo aos descontentes.
O
papel e a responsabilidade dos libertários são fundamentais para a estabilidade
e o avanço, com ou sem tremor. Somos os únicos com uma sólida narrativa da injustiça
da opressão de todos pelas elites estatais, e com uma cristalina visão de um
futuro melhor e como chegar lá.
O
libertário responsável aprendeu, com ajuda dos críticos ingleses, as lições dos movimentos
revolucionários, desde a Revolução Francesa, passando pelas revoluções
marxistas na Rússia e China: excessos, caos, sangue, e genocídio. As revoluções
tendem a ser ruins.
Mas
não vejo hoje força política além dos libertários (e alguns liberais) que tenha
credibilidade real para contestar o status
quo de injustiça, de populismo e de favorecimento de elites que giram em
torno do establishment.
Quando
menciono o desejo — ou a meta, se preferir — de que o Brasil venha a ter um
presidente liberal ou libertário, e uma banca liberal pujante, costumo
mencionar a década de 2030. Muitos de pronto me contestam alegando que eu posso
me surpreender com a velocidade da mudança. Após a reflexão sísmica, suspeito
que possam ter razão.