Nota do editor: o artigo a seguir foi originalmente publicado em maio de 2015. Como o assunto voltou à tona e está sendo debatido muito mais com emoção do que com razão e lógica, vale a pena revisitá-lo.
Por um motivo simples, sempre desconfiei da estatística da diferença
salarial.
Se as mulheres de fato ganhassem menos que os homens para realizar as mesmas
tarefas, empresas que buscam o lucro só
contratariam mulheres. Diante de dois candidatos com o mesmo potencial, o
patrão, é claro, contrataria o mais barato.
Mas o que ocorre é o contrário: os homens ainda são maioria dos empregados
do Brasil.
Portanto, ou os donos de empresas são tolos, e colocam o machismo acima do
lucro, ou a estatística é furada.
Um novo
estudo da Fundação de Economia e Estatística, do governo do Rio Grande do
Sul, confirmou essa suspeita. Os economistas Guilherme Stein e Vanessa Sulzbach
analisaram 100 mil salários e concluíram que as mulheres brasileiras ganham 20%
menos que os homens — mas só 7% não
podem ser explicados pela diferença de produtividade.
A pesquisa enfureceu
feministas gaúchas, que escreveram artigos e "textões" no Facebook acusando os
autores de machismo e pediram a demissão dos diretores da Fundação.
Em resposta, dezenas de economistas assinaram um manifesto
defendendo os pesquisadores. "Ficamos surpresos com uma reação tão forte a um
estudo que já foi replicado tantas vezes", me disse o economista Guilherme
Stein.
A conclusão do estudo converge com os dados
da economista Claudia Goldin, de Harvard, a grande especialista em diferença
salarial. Para os Estados Unidos, Goldin encontrou uma porcentagem um pouco
menor (5%) que não é explicada pela produtividade.
De acordo com os pesquisadores gaúchos, há principalmente dois fatores puxam
o salário das mulheres para cima, mas há outros três que o empurram para baixo. Veja a tabela.

As mulheres têm em média mais anos de estudo e começam a trabalhar mais
tarde. No entanto, interrompem a carreira com mais frequência, têm uma jornada
um pouco menor que a dos homens e tendem a se concentrar em ocupações que
remuneram menos.
Dos 20% de diferença salarial, 13 são explicados por essas razões. Ou seja:
se homens e mulheres trabalhassem as mesmas horas e tivessem o mesmo perfil,
ainda assim as mulheres ganhariam 7% menos. Como explicar essa diferença?
Pode ser preconceito e discriminação por parte dos patrões, ou algum
outro fator ainda não revelado. O que se pode dizer é que o machismo dos
empregadores diminui o salário das mulheres em no máximo 7%.
A pesquisa não contraria bandeiras feministas, pelo contrário. "Os dados
sugerem que a diferença salarial diminuiria se os homens dividissem os afazeres
domésticos com as mulheres", diz Stein.
Complemento do IMB
Em um mercado de trabalho com liberdade de contratação e demissão, é
impossível haver divergências salariais entre homens e mulheres em decorrência
unicamente de discriminação.
E isto por um motivo puramente econômico: se houvesse tal discriminação,
qualquer empregador iria obter lucros fáceis contratando mulheres e dispensando
homens, uma vez que as mulheres poderiam receber um salário menor para fazer
exatamente o mesmo trabalho. A concorrência entre os empregadores iria,
então, elevar os salários das mulheres e, assim, abolir qualquer diferença
salarial que porventura exista.
Logo, sempre e em qualquer ocasião que houver qualquer tipo de discriminação
salarial — e isto vale não apenas para gêneros, mas também para cor de pele,
religiões, etnias etc. —, o capitalismo irá abolir tal situação, e não
aprofundá-la. E o motivo essencial é que um empregador que permite que
seus preconceitos turvem seu juízo de valor estará assim criando uma
oportunidade de lucro para seus concorrentes.
Uma mulher que produz $75.000 por ano em receitas para seu patrão, mas que
recebe, digamos, $20.000 a menos que um empregado masculino igualmente
produtivo, poderá ser contratada por um concorrente por, digamos, $10.000 a
mais do que recebe hoje e ainda assim permitir que este novo empregador embolse
os $10.000 de diferença.
À medida que este processo concorrencial for se aprofundando ele irá, ao fim
e ao cabo, elevar os salários femininos ao ponto de paridade com os salários
masculinos caso a concorrência salarial seja vigorosa o bastante.
Mas há outros fatores indeléveis nessa questão da divergência salarial entre
homens e mulheres. Por exemplo, como já dito, em
termos gerais, a probabilidade de as mulheres saírem da força de trabalho por
um período de tempo — por causa de gravidez, criação e educação de filhos e
outras tarefas (das quais a maioria dos homens se esquiva) — é maior que a dos
homens. As mulheres são muito mais propensas que os homens a se ausentar
do mercado de trabalho por um período de tempo (anos) para se dedicar à
família. E mesmo que não façam isso, elas tendem a gastar muito mais
tempo que os homens cuidando das crianças e das tarefas domésticas. Consequentemente, elas ficam atrás de seus colegas homens em termos de
acumulação de capital, produtividade e salários.
No
entanto, explicações muito mais explosivas sobre diferenças salariais podem ser
encontradas no livro do professor James T. Bennett, do departamento de economia
da George Mason University, intitulado The
Politics of American Feminism: Gender Conflict in Contemporary Society.
Neste
livro, o professor Bennett enumera mais de vinte motivos por que os homens
ganham mais que as mulheres. Cumulativamente, tais explicações respondem
por completo a existência de qualquer "disparidade salarial", embora
o próprio Bennett acredite que a discriminação salarial por gênero não seja
algo inexistente.
Os
motivos, baseados em generalizações respaldadas por volumosas estatísticas,
são:
- Homens têm mais interesse
por tecnologia e ciências naturais do que as mulheres.
- Homens são mais propensos a
aceitar trabalhos perigosos, e tais empregos pagam mais do que empregos
mais confortáveis e seguros.
- Homens são mais dispostos a
se expor a climas inclementes em seu trabalho, e são compensados por isso
("diferenças compensatórias" no linguajar econômico).
- Homens tendem a aceitar
empregos mais estressantes que não sigam a típica rotina de oito horas de
trabalho em horários convencionais.
- Muitas mulheres preferem a
satisfação pessoal no emprego (profissões voltadas para a assistência a
crianças e idosos, por exemplo) a salários mais altos.
- Homens, em geral, gostam de
correr mais riscos que mulheres. Maiores riscos levam a recompensas
mais altas.
- Horários de trabalho mais
atípicos pagam mais, e homens são mais propensos que as mulheres a aceitar
trabalhar em tais horários.
- Empregos perigosos
(carvoaria) pagam mais e são dominados por homens.
- Homens tendem a
"atualizar" suas qualificações de trabalho mais frequentemente
do que mulheres.
- Homens são mais propensos a
trabalhar em jornadas mais longas, o que aumenta a divergência salarial.
- Mulheres tendem a ter mais
"interrupções" em suas carreiras, principalmente por causa da
gravidez, da criação e da educação de seus filhos. E menos
experiência significa salários menores.
- Mulheres apresentam uma
probabilidade nove vezes maior do que os homens de sair do trabalho por "razões
familiares". Menos tempo de serviço leva a menores salários.
- Homens trabalham mais
semanas por ano do que mulheres.
- Homens apresentam a metade
da taxa de absenteísmo das mulheres.
- Homens são mais dispostos a
aturar longas viagens diárias para o local de trabalho.
- Homens são mais propensos a
se transferir para locais indesejáveis em troca de empregos que pagam
mais.
- Homens são mais propensos a
aceitar empregos que exigem viagens constantes.
- No mundo corporativo,
homens são mais propensos a escolher áreas de salários mais altos, como
finanças e vendas, ao passo que as mulheres são mais predominantes em
áreas que pagam menos, como recursos humanos e relações públicas.
- Quando homens e mulheres
possuem o mesmo cargo, as responsabilidades masculinas tendem a ser
maiores.
- Homens são mais propensos a
trabalhar por comissão; mulheres são mais propensas a procurar empregos
que deem mais estabilidade. O primeiro apresenta maiores potenciais
de ganho.
- Mulheres atribuem maior
valor à flexibilidade, a um ambiente de trabalho mais humano e a ter mais
tempo para os filhos e para a família.
Portanto,
movimentos feministas genuinamente interessados em entender a questão salarial deveriam prestar mais atenção a
estes determinantes e se concentrar menos em cruzadas quixotescas como
legislações sobre "diversidade e igualdade" que demonizam empregados
e patrões homens.
A
sugestão de que atributos sexuais são utilizados na escolha de um empregado, ou
que eles são determinantes para o contra-cheque, nada diz a respeito dos gostos
sexuais do empregador. Diz apenas sobre escassez. Por quê? Empregadores não
têm como saber qual a produtividade de um empregado antes de sua
contratação. A produtividade deste empregado pode não ser
prontamente perceptível após sua contratação. Adicionalmente,
o período de teste e adaptação é custoso; ele também consome recursos da
empresa na forma de monitoramento, supervisão e materiais. E empregadores
têm um incentivo para economizar todos estes custos.
Logo, uma
contratação não pode ser algo guiado unicamente pelo sexo do indivíduo. Vários outros possíveis atributos e possíveis ocorrências futuras têm de ser
considerados pelo empregador.
Porém,
a lógica econômica é normalmente suprimida por grupos politicamente corretos
que julgam ser muito mais fácil e produtivo simplesmente difamar aqueles que
tentam explicar que há motivos economicamente racionais para a existência de
eventuais divergências salariais entre homens e mulheres.