quarta-feira, 20 jan 2016
Um
dos principais debates econômicos atuais entre a esquerda e a direita é sobre
se um aumento dos gastos do governo — principalmente na forma de estímulos —
funcionam para aditivar a economia.
A
esquerda diz "sim, sempre". A direita
diz "somente sob as circunstâncias corretas".
Não
é nada surpreendente constatar que tanto a esquerda quanto a direita estão
completamente por fora — um aumento dos gastos governamentais é a maneira mais
rápida de empobrecer uma economia.
O
pecado original dos keynesianos é que eles acreditam que o gasto do governo
possui um milagroso "efeito multiplicador" que enriquece a todos. Todas as outras falácias do keynesianismo
decorrem deste erro central.
Essa
doutrina do "enriquecendo pela gastança" obviamente não funciona na vida real:
se você é pobre, a solução para a sua pobreza não é tomar dinheiro emprestado e
sair fazendo farra em cima dessa dívida; a solução, infelizmente, passa por
sacrifícios como trabalhar duro e poupar.
Não é nenhuma ciência astronáutica.
Mas,
então, por que tal teoria tem tanto apelo?
Por que praticamente todos os economistas, de esquerda e de direita, são
na prática keynesianos?
A
ideia de que a gastança nos enriquece é bem antiga. Ela não foi criada por Keynes, que aliás
nunca foi um pensador original. Keynes
simplesmente remodelou e regurgitou aquela antiga falácia conhecida como
"consumo insuficiente".
O "consumo insuficiente"
A
teoria do "consumo insuficiente" afirma que as economias funcionam muito bem
enquanto o dinheiro estiver "circulando".
A princípio, parece algo bem intuitivo quando se analisa de cima para
baixo: se as pessoas estão gastando dinheiro, então a situação está boa; se
elas não estão gastando dinheiro, então deve haver algum problema.
Não
surpreendentemente, esse raciocínio está exatamente invertido. O gasto é algo que acontece quando você
enriquece. O gasto não enriquece você;
você tem de enriquecer para gastar. Logo, se uma economia está indo bem, então as
pessoas realmente irão comprar mais piscinas para suas casas. Mas, obviamente, não é a compra de piscinas o
que as enriqueceu.
E
o que as enriqueceu? Poupança e investimento. Mais especificamente, investimentos orientados
por uma genuína demanda de mercado. Por
que tem de ser "orientado por uma genuína demanda de mercado"? Porque, ao contrário do que afirmam os
burlescos burocratas do governo, os gastos do governo para construir pontes que
ligam o nada a lugar nenhum e para financiar pesquisas sobre a menstruação dos
esquilos não são "investimentos".
Isso
não significa que absolutamente todos os gastos do governo são inúteis — eles
podem construir sarjetas e estações de tratamento de esgoto. Mas o fato é que realmente não há como saber se
um "investimento" conduzido por um burocrata está fazendo a economia
crescer. Sendo assim, seria tentador
dizer que apenas "investimentos privados" importam, mas serei cabeça aberta e
direi que apenas "investimentos conduzidos por uma genuína demanda de mercado"
interessam.
Isso
significa que se o governo realmente descobrisse uma genuína demanda de mercado
(como uma estrada ligando duas cidades até então incomunicáveis) isso poderia
ser classificado como "investimento conduzido por uma genuína demanda de
mercado", e as consequências poderiam ser positivas.
É
possível entender o papel do investimento privado na clássica história de
Robinson Crusoé. O pobre Robinson acorda
com fome, todo molhado e com frio.
Choveu a noite toda, e ele amanheceu com uma gripe forte. Robinson olha para o céu e ergue seu punho
contra os Deuses da Pobreza.
Como
Robinson pode melhorar sua situação?
Investindo, é claro. Para se
alimentar, ele tem de construir anzóis de pesca, redes de pesca, e gravetos
para colher frutas. Para se abrigar, ele
tem de coletar madeira, primeiro para construir uma cabana, e depois para fazer
uma fogueira para se aquecer. Tudo isso
é investimento.
E
aí entra o keynesiano e diz em tom de deboche: "Por que tanto trabalho duro,
Robinson? Para quê todo esse
investimento, se você pode simplesmente aumentar seus gastos?" Lembre-se de que são economistas prestigiosos
que seguem esse ideia.
Como
é que esse raciocínio fatal se traduz nas políticas governamentais atuais? O ponto-chave é se lembrar de que, quando o
governo aumenta seus "gastos", ele está na prática criando dinheiro e
aumentando a quantidade de dinheiro na economia.
(O
raciocínio é simples: para aumentar seus gastos, o governo incorre em déficits. E os déficits são financiados
pela emissão de títulos do Tesouro, os quais são majoritariamente comprados
pelos bancos por
meio da criação de dinheiro. E tudo
isso é acomodado pelo Banco Central.)
Ou
seja, não está havendo fabricação de anzóis.
Não está havendo coleta de madeira.
Não está havendo
construção de abrigo. Não está havendo
criação de fogueira. Está havendo apenas
criação de dinheiro.
E
por que o governo faz isso? Em parte,
para conseguir apoio e votos: se eu pudesse criar dinheiro do nada, garanto a
você que teria vários amigos no Facebook.
Em parte, para "estimular" a economia com mais gastos.
Criar dinheiro não significa criar riqueza
O
problema é que dinheiro criado do nada (tanto na forma de pedaços de papel
quanto na de dígitos eletrônicos) não representa recursos reais. Você não come papel ou dígitos
eletrônicos. A criação de dinheiro
simplesmente faz com que alguns recursos sejam retirados de um setor e
desviados para outras áreas.
Suponha
que eu possua alta influência perante o governo e o Banco Central cometa um "erro"
e deposite trilhões de reais na minha conta.
O que eu faria? Obviamente,
compraria ou construiria várias mansões e, todas as noites, daria as maiores e
mais estrondosas festas de arromba para meus amigos.
A
questão, no entanto, é que o Banco Central apenas me deu dígitos
eletrônicos. Ele não me deu bebidas, não
me deu DJs, e não me deu nem madeira, nem concreto, nem tijolos, nem vergalhões
e nem latas de tinta para construir (ou redecorar) as casas.
Sendo
assim, como é que eu consegui construir as mansões e fazer as festas de
arromba? Ora, utilizei o dinheiro que o
BC criou para mim e, antes de você, me apropriei de todos os recursos
disponíveis na economia. Sim, cheguei
antes de você.
Você
é um empreendedor e queria construir uma fábrica? Lamento, já utilizei o dinheiro que o BC me
deu para comprar todo o concreto antes de você.
Você queria construir um prédio?
Desculpe-me, os vergalhões e os tijolos já estão comigo. Queria construir estradas? De novo, o concreto já é meu. Queria simplesmente reformar sua casa?
Desculpe-me, mas já me apropriei de toda a madeira e de todas as latas de
tinta.
Você
pode até encontrar estes recursos, mas a preços muito maiores. E por causa dos meus gastos.
Estou
dando uma festa, não sabia? É uma festa keynesiana.
E
aí eu pergunto: toda essa minha gastança, que está consumido vários recursos
escassos, está fazendo a economia crescer?
Está enriquecendo todas as pessoas?
Quando tudo acabar, tudo o que terei feito é exaurir recursos escassos. As pessoas que me forneceram serviços e
materiais terão mais dígitos eletrônicos em suas contas bancárias, isso é
fato. Mas como isso se traduz em
benefício para todos? Não haverá
fábricas construídas. Não haverá prédios. Não haverá estradas. Não haverá reformas de casas. E tudo está mais caro. Todos estamos mais pobres.
E aqueles que não participaram da minha festa
estão ainda mais pobres do que antes da minha festa. Para eles, sobrou apenas aumento generalizado de preços.
Mas
os políticos foram reeleitos, pois as pessoas que estavam recebendo meu
dinheiro gostaram desse "estímulo".
Isso,
resumidamente, é um "estímulo" keynesiano.
Recursos escassos foram retirados da população, desviados para alguns
privilegiados, e foram exauridos nesse processo.
Conclusão
"Aumento
de gastos governamentais" e "estímulos" não funcionam como se gnomos mágicos
surgissem e distribuíssem sorvetes igualmente para todos; "aumento de gastos" e
"estímulos" são simplesmente uma política de redistribuição de recursos. No final, tudo se resume a tirar de todos e
redistribuir para alguns poucos privilegiados.
Portanto,
perguntar se um "aumento dos gastos governamentais" funciona é uma mera
distração. Deixando de lado a injustiça
do roubo redistributivo — em que recursos escassos são retirados do acesso dos
menos privilegiados —, a questão passa a ser se os privilegiados que receberam
o dinheiro recém-criado fizeram mais "investimentos orientados por uma genuína
demanda de mercado" do que as pessoas que ficaram apenas com a carestia.
Não
há nenhuma razão econômica para crer que esquemas de redistribuição tornem
todos mais ricos. Com efeito, há
excelentes razões para crer que redistribuição afeta negativamente a
economia. Um aumento de gastos
governamentais, por si só, nada mais é do que um esquema de empobrecimento
maciço que permite a vários políticos comprar amigos durante esse processo.
[Nota
do IMB: nós brasileiros já temos experiência prática nisso. O governo Dilma elevou os gastos em 59% em termos nominais
e gerou apenas carestia, aumento da desigualdade e estagnação econômica. Sendo assim, temos uma experiência empírica
com essa teoria.]
___________________________________
Leia
também:
Por que é crucial o governo cortar seus gastos
Por que o "efeito multiplicador" é uma brutal falácia keynesiana
Déficits orçamentários não
devem ser corrigidos com aumentos de impostos