O
estado, sendo essencialmente um inimigo parasita da fatia trabalhadora e
produtiva da sociedade, estimula naturalmente o comportamento parasítico de
seus membros. No entanto, há situações
— raras — em que o estado voluntariamente é obrigado a conter e até mesmo a
reverter algumas de suas depredações.
Quando
o estado voluntariamente limita seu parasitismo, as motivações desta contenção
são quase que totalmente pragmáticas. Os
franceses rotularam esse pragmatismo de raison
d'etat: quando algo é de vital importância para a sobrevivência do estado,
abandona-se a ideologia e adota-se o mais puro pragmatismo para proteger a
existência da máquina.
Ou
seja, quando o estado — por algum motivo — voluntariamente se restringe e
limita seu parasitismo sobre indivíduos produtivos, ele o faz visando ao seu
próprio interesse, e não em decorrência de algum princípio ético ou de algum
reconhecimento dos direitos desses indivíduos.
Em
épocas normais, o estado irá depredar tanto quanto a opinião pública assim o
permitir. Por isso, quando o estado
restringe suas depredações, ele o faz com o intuito de evitar uma resistência
em massa da população, e também para manter a percepção de legitimidade junto
ao público. Exemplos práticos disso
podem ser observados quando o estado anuncia a intenção de criar algum novo
imposto ou alguma nova lei, e a população protesta em massa, obrigando-o a
voltar atrás.
Políticos
ou burocratas que porventura falem sobre "liberdade" ou "princípios", e que de
fato tomem medidas práticas para reduzir o escopo do estado, também estão
apenas tentando manter a legitimidade do estado. Suas atitudes não são expressões de uma
genuína solidariedade para com as vítimas do estado.
Todo
esse preâmbulo foi para dizer que não há necessidade de libertários íntegros e
probos entrarem no estado e se corromper, ou tentarem modificar sua estrutura
por meio do voto. Se o objetivo é fazer
o estado reverter sua marcha predatória, essas duas medidas serão praticamente
inócuas.
Por
isso, o que deve ser feito com urgência é uma alteração na percepção das
pessoas quanto à eficiência e à legitimidade do estado. Acima de tudo, as pessoas têm de ser educadas
sobre economia. Quando houver uma
mudança ideológica que eleve o potencial de resistência do púbico a medidas
econômicas insensatas e a ações invasivas do governo tanto no campo econômico
quanto no social, e que intensifique a demanda do público por mais demandas
libertárias, aí então os parasitas mais prudentes dentro do estado (ou que
querem ser eleitos para geri-lo) certamente irão tomar a dianteira e
implementar medidas que irão limitar o estado com o exato intuito de
preservá-lo e protegê-lo.
Não
há necessidade de libertários genuínos se apresentarem para preencher essa vaga
e sujarem suas mãos. E, ainda que tais
libertários sejam bem-sucedidos no processo eleitoral, iniciar uma mudança
dentro da máquina sem que a população esteja educada a esse respeito e esteja
preparada para tais mudanças resultará em um retumbante fracasso.
Reformas
liberalizantes não são feitas por "servidores públicos" dentro do estado que estão
"defendendo a liberdade". Antes,
reformas liberalizantes são uma manobra tática do próprio estado visando à sua
auto-preservação; trata-se de um parasita que está pragmaticamente retirando um
apêndice para não provocar, de maneira contraproducente, o hospedeiro. A função dos libertários é induzir tais
reformas, fazendo com que o hospedeiro se torne cada vez mais alérgico ao seu
parasita. E isso deve ser feito por meio
de um contínuo esforço visando a uma mudança ideológica e estimulando a
resistência potencial das pessoas produtivas.
Quando isso ocorrer, os estatistas mais prudentes irão se apresentar para
conter os ímpetos daqueles estatistas imprudentes que estão dentro do
estado.
Libertários
sujando as mãos para reformar o estado não apenas é desnecessário, como também
é muito perigoso. Sempre há o risco de
serem corrompidos e, com isso, sujarem em definitivo o movimento.
Como
certa vez relatou Lew Rockwell:
Todos nós já vimos isso milhares de
vezes. Dificilmente são necessários mais do que alguns poucos meses para
que um intelectual libertário que tenha ido para o governo
"amadureça" e se dê conta de que seus ideais eram 'muito pueris' e
'insuficientemente realistas'. Um político prometendo tornar o governo
mais manso e mais submisso rapidamente se torna um proeminente especialista em
criar novas maneiras de tornar o estado mais eficiente no confisco da riqueza
alheia. Tão logo este fatídico passo é tomado, não há mais limites.
Conheço pessoalmente um burocrata americano que havia jurado fidelidade à
filosofia libertária e, mais tarde, ajudou a implantar lei marcial no Iraque.
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Para
um artigo ainda mais completo sobre esse assunto:
O que os amantes da liberdade devem fazer?
e também:
Como o mundo irá mudar