quarta-feira, 22 dez 2021
Eu
sou um libertário. Não sou afiliado a nenhum partido político. Não sou progressista nem
conservador. Não sou de esquerda nem de direita. Não sou moderado nem
radical. Não sou um fusionista. Não estou aberto a concessões.
Sou
um libertário puro e inflexível. Para
mim, há apenas uma única forma de libertarianismo: aquela que se baseia única e
exclusivamente no Princípio da Não-Agressão. Isso significa que, para um genuíno libertário, a lei deveria proibir a
iniciação de violência contra pessoas inocentes (tanto as que não cometeram
crimes quanto as que querem apenas empreender) e contra sua propriedade. Ponto.
O libertarianismo é apenas isso e nada mais do que isso. Não há nada mais no libertarianismo do que as
implicações desse axioma básico — o que já é muita coisa.
Por
que estou dizendo isso? Porque, de uns
tempos para cá, tem havido algumas tentativas, tanto da esquerda quanto da
direita, de sequestrar o movimento libertário.
A
esquerda vem tentando sequestrar o movimento libertário acrescentando ao Princípio
da Não-Agressão sua típica agenda progressista. Daí surgem bizarrices como dizer que um libertário tem de ser
publicamente contrário ao patriarcalismo, ao machismo, a uma hierarquia de
poderes dentro das famílias, à homofobia, ao racismo, ao preconceito, ao brutalismo etc.
Outros
vão ainda mais longe e dizem que um libertário deve ser abertamente feminista,
pró-movimento gay, e deve fazer apologia de movimentos contra-culturais e ser
adepto de estilos de vida alternativos. Alguns chamam isso de libertarianismo humanitário, outros de libertarianismo denso (porque engloba
várias características), e ainda há aqueles que chamam isso de "Novo
Libertarianismo".
O
que essas pessoas não entendem é que ser libertário significa única e
exclusivamente se opor à iniciação de
agressão contra inocentes. Ponto. É só isso e nada mais do que
isso.
É perfeitamente possível você ser
um racista abjeto, ter total aversão a gays e ainda assim ser libertário:
basta você guardar para si sua visão de mundo e não implantá-la sobre
terceiros. Você pode ser totalmente
contra a prática do homossexualismo e totalmente avesso a qualquer ideia
feminista; o que você não pode fazer
é iniciar agressão contra essas pessoas. Aja assim e você será um libertário.
Quão
difícil é entender isso?
Mas
o problema não vem apenas da esquerda. Uma tentativa de guinar o libertarianismo para a direita também
vem ocorrendo de maneira igualmente intensa. Há alguns direitistas que, assim como os esquerdistas, também querem criar sua própria forma de
"libertarianismo denso", exortando libertários a aceitar ideias conservadoras.
Daí
a necessidade de fazer estes esclarecimentos.
Sou
um libertário. Não sou um libertário "denso" nem "diluído". Não sou
brutalista nem
humanista. Não sou holista ou
solipsista. Não sou moralista nem consequencialista. Não sou aberto
nem fechado. Não sou um libertário modal, nem cosmopolita, nem cultural, nem
sofisticado. Tampouco sou um "libertário de bom coração". Não sou
neo, nem milenar, nem de segunda onda. Sou simplesmente um libertário, do
tipo que não precisa de rótulos, não cria advertências, não faz concessões e
nem pede desculpas.
Sou
libertário. O libertarianismo é uma filosofia política que se preocupa
exclusivamente com o uso da coerção e da violência. Não se trata de uma
filosofia política que diz que o melhor tipo de governo é um governo limitado. Não se trata de uma filosofia política socialmente liberal e economicamente
conservadora. Não se trata de uma filosofia política que diz que o governo
é menos eficiente do que o setor privado. Não se trata de uma filosofia
política que diz que a liberdade pode ser alcançada por meio da promoção de determinadas
políticas governamentais em detrimento de outras. Não se trata de uma
filosofia política que advoga um "liberalismo com impostos baixos".
O
libertarianismo não é a ausência de racismo, de machismo, de homofobia, de
xenofobia, de nacionalismo, de nativismo, de classismo, de autoritarismo, de patriarcado,
de desigualdade ou de hierarquia. Libertarianismo não é diversidade ou
ativismo. Libertarianismo não é igualitarismo. Libertarianismo não
é tolerância ou respeito. Libertarianismo não é uma atitude social,
estilo de vida, ou sensibilidade estética.
Sou um libertário. Sou seguidor do Princípio da Não-Agressão, o qual diz
que o único papel adequado para a violência é o de defender o indivíduo e a
propriedade contra agressões, e que qualquer uso da violência que vá além de
tal defesa é em si mesma agressiva, injusta e criminosa. O
libertarianismo, portanto, é uma teoria que afirma que todos devem estar imunes
a agressões, que todos têm o direito de se proteger de agressões, e que todos devem ser livres para fazer o que lhes aprouver, desde que
isso não signifique agredir a pessoa ou a propriedade de outro.
Meu
interesse é nas ações; não estou preocupado com os pensamentos. Estou interessado apenas nas consequências
negativas de pensamentos. Acredito que o Princípio da Não-Agressão tem de
ser estendido ao governo. Os libertários devem, portanto, se opor à — ou
tentar limitar ao máximo a — intromissão dos governos tanto em nível doméstico
quanto internacional, pois os governos são os maiores violadores do Princípio
da Não-Agressão.
Sou um libertário. Acredito na regra de ouro. Acredito na filosofia
do "viva e deixe viver". Acredito que uma pessoa deve ser livre para
fazer o que quiser, desde que sua conduta seja pacífica. Acredito que os
vícios não são crimes.
Sou um libertário. Nosso inimigo é o estado. Nossos inimigos não são
a religião, as corporações, as instituições, as fundações ou as
organizações. Elas só têm hoje o poder de nos fazer mal por causa de sua
ligação com o estado. Retire os subsídios, as medidas protecionistas, e
as regulações que as protegem da concorrência, e elas rapidamente passarão a
ser inócuas. Mais ainda: serão
inteiramente subservientes a nós consumidores.
Sou um libertário. Acredito no laissez-
faire. Qualquer indivíduo deve ser livre para incorrer em qualquer
atividade econômica, sem licença, permissão, proibição ou interferência do
estado. O governo não deve intervir na economia de nenhuma forma. Acordos de livre comércio,
vouchers educacionais e a
privatização da Previdência Social não são de forma alguma ideias libertárias.
Sou um libertário. O único governo bom é aquele que não existe. O
segundo melhor governo é aquele que menos governa. Como disse Voltaire, governo,
em seu melhor estado, é um mal necessário e, no seu pior estado, é
intolerável. A melhor coisa que qualquer governo poderia fazer seria
simplesmente nos deixar em paz.
Sou um libertário. Imposto é roubo praticado pelo governo. O
governo não tem direito a uma determinada porcentagem da renda de ninguém. O código tributário não tem de ser simplificado nem reduzido, e não precisa ser
mais justo ou menos intrusivo. As alíquotas de imposto não têm de ser nem
diminuídas, nem igualadas e nem se tornar menos graduais. O imposto de
renda não precisa de mais e maiores deduções, e nem de lacunas, abrigos,
créditos ou isenções. Todo esse sistema pútrido tem de ser abolido.
As
pessoas têm o direito de manter para si tudo o que ganharam e decidir por si
mesmas o que fazer com seu dinheiro: gastá-lo,
desperdiçá-lo, torrá-lo, doá-lo, legá-lo, guardá-lo, investi-lo, queimá-lo,
apostá-lo.
Sou um libertário. Não sou um libertino. Não sou um hedonista. Não sou um relativista moral. Não sou
devoto de algum estilo de vida alternativo. Não sou um
revolucionário. Não sou um niilista. E não desejo me associar a
ninguém que tenha essas características; mas também não desejo agredir aqueles
que têm. Acredito na liberdade absoluta de associação e discriminação.
Eu sou um libertário.
Espero
não haver mais dúvidas.