segunda-feira, 20 jan 2014
A
economia nos fornece algumas leis verdadeiras, do tipo: se temos A, então temos
necessariamente B, que gera C, que provoca D, etc. Algumas destas leis são
verdadeiras em qualquer ocasião, isto é, A sempre é válida (a lei da utilidade
marginal decrescente, as preferências temporais, etc.).
Já
outras leis requerem que A seja considerada a priori como verdadeira antes que
seus efeitos possam ser afirmados na prática.
A
pessoa que identifica as leis econômicas e as utiliza para explicar fatos
econômicos complexos está agindo como um historiador econômico,
e não como um teórico econômico. Ele é
um historiador quando procura a explicação causal dos fatos passados; e ele é
um prognosticador quando ele tenta prever os fatos futuros.
Em
ambos os casos, ele faz uso de leis absolutamente verdadeiras, mas precisa
saber determinar quando alguma lei em particular se aplica a uma determinada
situação. Adicionalmente, as leis econômicas são necessariamente qualitativas,
e não quantitativas. Assim, quando o
prognosticador tenta fazer previsões quantitativas, ele está indo muito além do
conhecimento fornecido pela ciência econômica.
Algo
que raramente é entendido é o fato de que as funções do economista em um livre mercado são nitidamente
distintas daquelas do economista em um mercado regulamentado. O que pode um economista fazer em um mercado
totalmente livre? Ele pode explicar como
realmente funciona a economia de mercado (uma função vital, principalmente
porque os leigos tendem a considerar a economia de mercado como sendo um caos
absoluto), mas ele pouco pode fazer além disso.
Contrariamente
às pretensões de muitos economistas, ele seria de pouca serventia aos empreendedores
em um livre mercado. O economista não
pode prever as futuras demandas do consumidor e os custos futuros tão bem
quanto os empreendedores; afinal, se ele pudesse, então ele seria
o empreendedor. Sabemos que o empreendedor
está onde está precisamente por causa de sua superior habilidade de previsão do
mercado.
As
pretensões dos econometristas e de outros "modeladores" de que eles
podem prever com precisão e acurácia a economia irá sempre soçobrar perante a
simples, porém devastadora, indagação: "Se você pode prever tão bem, por
que você não está no mercado de ações, onde previsões acuradas geram ricas
recompensas?"
Não
adianta rejeitar tal pergunta — como muitos têm feito — alegando que ela é
"anti-intelectual"; este é exatamente o teste rigoroso a ser
enfrentado pelo pretendente a oráculo econômico.
Ludwig
von Mises demonstrou a falácia do termo "modelagem", que é muito
popular e que surgiu erroneamente (junto com muitas outras falácias
cientificas) de uma analogia com as ciências físicas — nesse caso, a
engenharia. Os modelos de engenharia fornecem a exata dimensão quantitativa —
em uma miniatura proporcional — do mundo real. Porém, nenhum
"modelo" econômico pode fazer algo parecido.
Nos
últimos anos foram desenvolvidas novas disciplinas matemáticas e estatísticas cujas
pretensões eram ajudar os empreendedores a tomar decisões concretas. Não é o objetivo aqui estipular se tais
pretensões são válidas ou não; o objetivo é dizer que tais disciplinas não
podem jamais fazer parte da ciência econômica, mas sim de um tipo de
tecnologia de gerenciamento. O economista,
nunca é demais repetir, não é um tecnólogo comercial.
Portanto,
o papel do economista em uma sociedade livre é puramente educacional.
Mas
quando o governo — ou qualquer outra agência usando de violência — intervém
no mercado, a "utilidade" do economista se expande. A razão é que ninguém sabe, por exemplo, quais
serão as demandas dos consumidores no futuro, em uma determinada
área. Como explicado acima, em um
ambiente de livre mercado, o economista será naturalmente substituído pelo
prognosticador empreendedorial. Porém,
quando o governo se intromete no mercado, criando várias intervenções e
regulamentações, as coisas ficam muito diferentes, pois o problema agora é
saber precisamente quais serão as consequências dos atos do
governo.
Em
resumo, o economista pode ser capaz de dizer quais serão os efeitos de um
aumento na demanda por manteiga; mas isso será de pouca serventia, pois o empreendedor
está majoritariamente interessado não nas consequências — as quais ele sabe
muito bem para seus propósitos —, mas sim em saber se tal
aumento irá ocorrer. Por outro lado,
quando se trata de uma intervenção governamental, o "se" passa a ser
exatamente o que os cidadãos irão decidir coletivamente. E é nessa situação que o economista, com seu
conhecimento das várias consequências alternativas, ganha seu reconhecimento.
Ademais,
as consequências de um ato governamental, sendo indiretas, são muito mais
difíceis de serem analisadas do que as consequências de um aumento na demanda
do consumidor por um produto. Isso
requer que o raciocínio seja desenvolvido de forma dedutiva e em cadeias cada
maiores, particularmente ao se considerar os objetivos dos criadores das políticas
econômicas. A decisão do consumidor de
comprar manteiga e a decisão do empreendedor de entrar no ramo da fabricação de
manteiga não requerem um raciocínio dedutivo, mas sim uma compreensão clara dos
dados concretos. Por outro lado, o
julgamento e a avaliação de um ato governamental requer cadeias maiores de
raciocínio dedutivo.
Assim,
por duas razões — devido ao fato de os dados iniciais lhe serem fornecidos e
pelo fato de as consequências terem de ser analiticamente exploradas —, o
economista é bem mais "útil" na condição de economista político do que na condição de
conselheiro comercial ou um tecnólogo. Em
uma economia regulamentada, o economista frequentemente se torna útil aos
empresários, uma vez que um raciocínio econômico mais elaborado se torna
importante, por exemplo, para analisar os efeitos da expansão do crédito ou de
um aumento nos tributos ou nas tarifas de importação. No geral, o economista irá se tornar
importante apenas para espalhar esse conhecimento ao mundo externo.
O
economista político, com efeito, é
indispensável para qualquer cidadão que queira formular julgamentos éticos na
política. A economia por si só jamais pode fornecer soluções éticas, mas ela
pode sim fornecer leis existenciais que não podem ser ignoradas por qualquer um
que esteja querendo formular conclusões éticas — da mesma forma que ninguém
pode decidir racionalmente se o produto X é uma comida boa ou ruim antes de as consequências sobre o corpo
humano serem apuradas e levadas em consideração.