Anualmente,
o instituto conservador
Heritage
Foundation publica um
ranking de todas
as nações do mundo de acordo com seu próprio critério de liberdade
econômica. Em 2012, a nação #1 foi Hong
Kong. A nação #2 foi Cingapura. Ambas têm sido #1 e #2 desde que o relatório
começou a ser divulgado no
início de
1995.
Ambas são
nações integralmente voltadas para o comércio.
Elas possuem apenas um único recurso natural: sua população. O resto é tudo importado. A ética do trabalho é robusta nas duas
economias.
O que
costuma surpreender as pessoas é a nação que vem em terceiro: a
Austrália. A sexta posição ficou com o
Canadá. Os EUA estão em décimo. [O Brasil é o 99º]. O ranking completo está aqui.
Antes da
turbulência da crise de 2008/2009, um dólar de Cingapura comprava 80 ienes
japoneses. Após o tumulto e uma
subsequente desvalorização perante o iene, o dólar de Cingapura voltou a se
valorizar e atingiu seu pico em relação ao iene no início de 2010. Ali, um dólar de Cingapura comprava 69
ienes. Depois, ele voltou a cair em
relação ao iene, chegando ao mais baixo nível no final de 2011, quando um dólar
cingapuriano comprava menos de 60 ienes.
No início de 2012, ele voltou a se valorizar. Lá pelo meio do ano, caiu de novo. Desde então, o dólar de Cingapura vem
lentamente, porém de maneira contínua, se valorizando em relação ao iene
japonês.

Eu vinha
esperando pela confirmação desse fenômeno há um bom tempo. Explico.
A economia
de Cingapura desacelerou este ano. Não
está nem perto de entrar em recessão, mas não há dúvidas de que as coisas
desaceleraram por lá. No entanto, o
dólar de Cingapura valorizou-se tanto em relação ao dólar americano quanto, no
segundo semestre, em relação ao iene.
O Banco
Central do Japão (BoJ), como comentei recentemente, anunciou
que iria inflacionar o iene para conter sua forte valorização. Trata-se de uma medida puramente
mercantilista: tentar desvalorizar a moeda para estimular as exportações das
grandes empresas japonesas. O BoJ terá
de ser bastante ativista para impedir que o iene se valorize. Mas ele já decidiu que o fará. As exportações japonesas estão
diminuindo. A recessão na Europa está
afetando o Japão.
O Federal
Reserve, por sua vez, também anunciou que iria embarcar em um programa de expansão ilimitada da base
monetária. Porém, ao contrário do que vem dizendo a
mídia financeira, ele ainda não implementou esta política, a qual ele anunciou dois
meses atrás. Não tenho dúvidas de que
ele irá intensificar suas compras de títulos. Mas ele ainda não começou a fazer isso.

Mas eis o
que me chamou a atenção. O Banco Central de Cingapura está se
recusando a expandir a base monetária.
Ele não quer desvalorizar a sua moeda. Capital do mundo todo está fluindo para
Cingapura, aumentando a demanda pela moeda local, mas o Banco Central de lá não
quer fazer nada para impedir a valorização de sua moeda. O Wall
Street Journal publicou isso em
meados de outubro:
A pequena e extremamente aberta economia de
Cingapura foi uma das primeiras a serem atingidas pela onda de liquidez que
está sendo derramada sobre a economia global à medida que os grandes bancos
centrais vão intensificando suas políticas expansionistas para estimular suas
economias. As autoridades monetárias de
Cingapura estão especialmente preocupadas com a hipótese de que esse dinheiro
especulativo irá aumentar ainda mais os já elevados preços dos imóveis.
"O dinheiro que está sendo impresso pelos bancos
centrais de todo o mundo irá eventualmente acabar sendo direcionado para portos
seguros, e Cingapura é um dos principais beneficiários deste fluxo", disse
Bhaskar Laxinarayan, chefe de investimentos da Pictet Wealth Management, que possui
US$377 bilhões em ativos em sua carteira global.
É
justamente a falta de resistência da autoridade monetária de Cingapura para
contrabalançar este fluxo de capital o que tem me espantado. Essa política de "negligência salutar" está
valorizando o dólar de Cingapura. Isso,
por sua vez, reduz as exportações do país.
E Cingapura é uma nação exportadora.
Era de se esperar uma reação mercantilista do governo. Mas não houve nenhum. O artigo iniciou com este relato:
O Banco Central de Cingapura surpreendeu os
mercados na sexta-feira ao afirmar que não iria afrouxar sua política
monetária, pois preocupações com a inflação de preços em um cenário de mercado
de trabalho apertado e preços dos imóveis em alta são mais importantes do que uma
inesperadamente forte desaceleração econômica.
De fato,
foi legítima esta surpresa. Não é o que
os bancos centrais asiáticos costumam fazer: deixar suas moedas se valorizar.
Eu vinha
esperando por algo que testasse a determinação do Banco Central de Cingapura havia
dois anos. E os eventos de 2012
propiciaram 3 testes de uma só vez: (1) uma economia morosa, (2) exportações em
queda, e (3) valorização constante da moeda.
Se o Banco Central não se comovesse com isso, então é porque ele de fato
levava a sério sua atribuição de estabilidade de preços. E ele realmente parece inflexível: nada de
política contracíclica de inflação monetária.
E a coisa
vai além disso. A ata de
outubro do Banco Central, que publica
duas atas por ano, faz uma lista de 11 políticas definitivas. Eis a conclusão:
A Autoridade Monetária de Cingapura (MAS) irá,
portanto, manter a atual política de modesta, porém gradual, apreciação da
banda cambial da moeda. Não haverá
mudança nem na curva e nem na amplitude da banda cambial, tampouco no nível no
qual ela está centrada. Esta postura
política é avaliada como sendo a mais apropriada para conter as pressões
inflacionárias e para manter a economia no caminho de reestruturação para o
crescimento sustentável. A MAS irá
continuar atenta às ocorrências econômicas e financeiras internacionais bem
como ao seu impacto na economia de Cingapura (p. vi).
Ou seja, o
Banco Central quer que a moeda aprecie.
Isso é anti-mercantilista. É uma
postura rara entre os bancos centrais de todo o mundo, mas especialmente na
Ásia. O Banco Central de Cingapura não
está disposto a expandir a base monetária como forma de desvalorizar a moeda e
estimular as exportações, mesmo diante de uma desaceleração econômica mundial e
de uma redução doméstica das exportações em seu país.
Eu vinha
esperando pelas condições para testar essa determinação. Creio que tais condições já se apresentaram.
Por causa
disso, estou mudando minha recomendação em relação ao iene. Continuo acreditando que o iene seja uma
moeda confiável e continuo acreditando que ela possui uma economia doméstica
grande o bastante para vir a se tornar uma substituta parcial do dólar americano como moeda internacional de
reserva. (Não haverá nenhuma moeda que
faça isso). Mas o Banco Central do Japão
ainda está comprometido com uma política mercantilista de estímulo às exportações
por meio da expansão de sua base monetária e da (tentativa de) redução do valor
internacional do iene.
Não estou
dizendo que o BoJ irá inflacionar desmesuradamente. Já expliquei aqui que não há hipótese de ele
fazer isso. O iene ainda é visto como um
porto seguro. Mas o BoJ está ativamente
lutando contra isso. Ele não está
permitindo a valorização do iene. Em
contraste, o Banco Central de Cingapura deixou claro que quer que sua moeda se
aprecie pelo menos marginalmente.
Portanto,
estou agora recomendando a investidores que querem proteger sua poupança e que
querem manter em suas carteiras alguma moeda internacional a comprar dólares de
Cingapura em vez do iene. Você pode
fazer isso pelo Everbank. O fundo de moedas MerkFund's Asian já possui
24% investido no dólar de Cingapura.
Eis o histórico cambial de
Cingapura em relação ao dólar americano (dólares de Cingapura necessários para
se comprar 1 dólar americano):

E o
histórico da taxa de inflação de Cingapura acumulada em 12 meses.
Dá pra entender a atual preocupação de seu Banco Central e sua postura
inflexível em relação a não querer desvalorizar a moeda:
