Nos
últimos meses, o Banco Central do Japão ampliou seu programa de compra de
títulos da dívida, inclusive títulos do Tesouro americano. Mas para se ter uma melhor ideia do que
antecedeu este programa, vejamos alguns gráficos publicados pela sucursal do
Federal Reserve em St. Louis. Eles podem ser encontrados
aqui.
Primeiro,
há o gráfico da base monetária. Cada barra
do gráfico abaixo mostra a taxa de crescimento da base monetária para um
trimestre em relação ao mesmo trimestre do ano anterior — ou seja, o
crescimento anual. O gráfico da base
monetária mostra exatamente qual a política monetária adotada por um banco
central.
O
próximo gráfico é o do M1 (papel-moeda em poder do público + depósitos à vista).
E
então há o gráfico do M2 (M1 + depósitos a prazo). É a ele que economistas recorrem quando
querem adivinhar qual será o efeito da política monetária sobre os preços dos
bens de consumo. O M2 é um melhor
prognosticador do comportamento dos preços futuros do que o M1.
O
Banco Central do Japão anunciou, em setembro passado, que iria aumentar o ritmo
de compra dos títulos da dívida do governo japonês. Por que isso foi necessário? Não foi porque o governo japonês não consegue
vender sua dívida.
O
presidente do Banco Central do Japão, Masaaki Shirakawa, foi bastante claro em um discurso
proferido este mês. Ele está
apenas seguindo ordens do governo. O governo
japonês é mercantilista. Ele teme a
valorização do iene.
No que diz respeito a intervenções no mercado de câmbio, na
Suíça, o Banco Central suíço tem o poder de intervir quando e se quiser. Já no Japão, o governo — e não o Banco
Central — é obrigado por lei a conduzir tais intervenções. O Banco Central do Japão está ciente dos efeitos
que uma rápida apreciação do iene pode ter sobre a economia do Japão e sobre as
perspectivas de inflação, e conduz sua política monetária em conformidade a
estas perspectivas. Preocupações em
relação a estes efeitos gerados pelo comportamento da taxa de câmbio foram um
dos fatores que influenciaram as várias decisões do Banco Central de afrouxar
um pouco mais sua política monetária.
No
entanto, tudo o que ouvimos da mídia financeira é o seu alarido espalhafatoso a
respeito da crescente relação dívida/PIB do Japão.
Então
por que o iene não pára se valorizar?
Por que ele está se valorizando há décadas?
O
trecho a seguir é de uma reportagem da Bloomberg.
"Os Bancos Centrais querendo ou não, o fato é que há uma competição
ao redor do mundo para ver quem afrouxa mais a sua política monetária", disse
Izuru Kato, economista-chefe da Totan Research Co., em Tóquio, e um dos
analistas que prevê mais afrouxamento.
[O presidente do Banco Central japonês] Shirakawa não quer ser visto
como "relutante em participar da corrida" porque o risco de uma valorização do
iene irá prejudicar a economia, disse Kato.
A valorização do iene levou a moeda japonesa ao seu valor
mais alto dos últimos sete meses, chegando a 77,13 ienes por dólar no dia 13 de
setembro, após o Fed anunciar seu plano de uma terceira rodada de afrouxamento
quantitativo.
"Estamos preocupados com um aumento na velocidade da
apreciação do iene, e nossa sensação de crise está se intensificando", disse
Akio Toyoda, presidente da Associação de Fabricantes de Automóveis e
executivo-chefe da Toyota, no dia 14 de setembro. "Esperamos sinceramente que o governo e o
Banco Central possam cooperar à risca e agir rapidamente para
corrigir este valor historicamente forte do iene".
O
mercantilismo governa o Japão. O
mercantilismo governa quase todos os países do mundo. Nenhuma novidade aí.
E
então vem a pérola. A imprensa diz que
chegará o dia — muito em breve — em que o mundo não mais irá comprar títulos
do Japão. Como é que é? O Japão detém US$1,1
trilhão em títulos americanos. Se há
um país que está na iminência de perder compradores para seus títulos, esse
país é os EUA.
Se
o Japão entrasse em uma crise e não mais fosse capaz de importar petróleo (o
país não produz uma gota) por não estar conseguindo exportar seus bens, ele
simplesmente iria abrir o cofre — mais especificamente, iria vender os títulos
americanos e utilizar os dólares para continuar importando. Vejamos: se houver uma enorme despejo de
títulos de uma nação no mercado (o que, consequentemente, leva a um despejo da
moeda desta nação no mercado) e um correspondente aumento na demanda pela moeda
da nação que está despejando estes títulos, qual moeda você preferiria ter?
Qual
nação irá sofrer uma fuga de investidores?
A nação que está despejando títulos estrangeiros no mercado para
arrecadar dinheiro ou a nação cujos títulos estão sendo despejados?
Isso
é tão óbvio que somente colunistas especialistas em economia não conseguem
entender.
Ano
após ano, sempre digo aos meus leitores assinantes que o iene é uma boa
alternativa ao dólar americano. Ano após
ano, sou perguntado por que defendo o iene.
Sempre recebo esta pergunta de assinantes que ainda não compraram iene e
seguem tentando buscar conforto para esta atitude. Este artigo é a minha mais recente tentativa
de explicar minha posição.
Quantos
ienes um dólar comprava em janeiro de 1985?
Aproximadamente 250. O dólar era
forte. Quantos ienes um dólar comprava
em janeiro de 2002? Aproximadamente
135. O dólar ainda era forte, mas já se
notava uma tendência de queda. Quantos
ienes um dólar compra hoje? Menos de 80.

http://www.tradingeconomics.com/japan/currency
Veja
também o comportamento da inflação de preços no Japão durante este mesmo
período.

Nenhuma
outra nação industrializada possui esta estabilidade de preços.
Mas
as perguntas sobre o Japão continuarão.
"Mas Dr. North, acabei de ler na mídia que..." Sim, e algum suposto
especialista no iene escreveu essencialmente a mesma coisa em 2002.
Esqueça
a relação dívida/PIB do Japão. O Japão
não tem um Bernanke no comando de seu Banco Central.
O
Japão dará o calote em sua dívida e em suas obrigações para com seus
aposentados e idosos? Sim. Todos os países eventualmente farão
isso. O Japão dará o calote antes do
governo americano? Duvido muito. Até hoje, nenhum governo foi mais rigoroso no
pagamento de suas dívidas do que o governo japonês. Ele pagou até mesmo os títulos que emitiu
para financiar seu esforço de guerra.
Assim
como hoje está havendo uma competição entre os países nas políticas de inflação
monetária e desvalorização da moeda, cada um se esforçando ao máximo para não
ficar para trás, haverá futuramente uma competição de calotes, cada um se
esforçando ao máximo para não ficar na frente.
Entre confiar nos títulos do Japão e confiar nos títulos de qualquer
outra nação, confio mais nos títulos do Japão.
E também em sua moeda.
Leia
também:
Por que não houve inflação
de preços no Japão?
Notícias deflacionárias (e
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