quinta-feira, 2 0aio 2013
Uma
das razões de nossa moral estar hoje tão deturpada é porque, vários anos atrás,
nossos pais, avós e bisavós fizeram várias concessões aos inimigos da liberdade
justamente em termos morais. Para ser
mais específico, eles permitiram que os inimigos da liberdade pudessem se
arvorar os únicos detentores da superioridade moral.
Aqueles
que defendiam o socialismo, o comunismo e o fascismo ganharam credibilidade
perante o nascente movimento progressista, e o movimento progressista ganhou
credibilidade perante todas as gerações de lá pra cá.
Essas
ideias, cujo centro irradiador foi a Alemanha do século XIX, afirmavam defender
a compaixão e o esclarecimento. O objetivo,
obviamente, era transformar a estrutura do mundo, o que levou àquele pensamento
mais moderno e progressista de que poderes totais deveriam ser dados ao governo
para que este — desde que, obviamente, sob o comando destes progressistas
iluminados — controlasse, direcionasse e alterasse as pessoas, tudo para
torná-las seres humanos melhores.
Obviamente,
o que eles fizeram foi substituir o mais benevolente e radical sistema que o
mundo já viu pelo mais diabólico e destrutivo dos ideais — a ser implementado
pela mais antiga das ferramentas: a força bruta.
Se
quisermos recuperar a superioridade política na batalha pela liberdade, temos
também de resgatar, de maneira clara e inequívoca, a superioridade moral. Eis a seguir, portanto, parte do que vejo
como a defesa moral do capitalismo e daqueles princípios de livre mercado que
permitem que as forças produtivas e criativas do capitalismo floresçam e
prosperem em sua totalidade.
1) O capitalismo cria valor
Toda
a função e finalidade do capitalismo é facilitar a criação e produção de valor
— bens e serviços que contribuem para a vida de uma pessoa e para seu
bem-estar. O capitalismo estimula que os
esforços criativos e produtivos sejam direcionados para a satisfação dos
desejos e das necessidades dos outros.
Costumamos
aceitar como natural, como um presente da natureza, o formidável processo de criação
de valor — algo que nos foi legado por gerações anteriores — que ocorre por
meio da livre troca de bens e serviços.
Nós nos acostumamos de tal modo às nossas atuais condições de vida, que
a maioria das pessoas jamais parou para considerar como tudo seria caso não
houvesse capitalismo.
Se
o fizessem, constatariam o óbvio: ainda estaríamos vivendo e manuseando uma
única ferramenta de pedra, a mesma que os ancestrais da humanidade utilizaram
por milhões de anos. E o nosso único
modo de adquirir riqueza seria por meio de guerras, as quais seriam mais brutais
do que a maioria de nós poderia imaginar.
2) O capitalismo estimula o planejamento de
longo prazo, desestimula a impulsividade e não permite que os indivíduos se
entreguem ao deleite excessivo de suas tentações e desejos. Isso facilita o desenvolvimento da
civilização, da paz e da prosperidade
Se
você quer criar algo de valor, você tem de pensar, tem de utilizar suas
faculdades mentais. Você tem de estar
disposto a dedicar muito tempo para aprender novas habilidades e saber como
praticá-las; tem de saber conectar longas relações de causa e efeito a fim de
trazer ao mundo algo que não existia antes.
E esse algo de tem de ser proveitoso ou desejável para outras pessoas.
Como
você tem de considerar as necessidades e desejos de terceiros, isso significa
que você tem de criar empatia. Você tem
de se tornar capaz de perceber e entender o que vai dentro das outras pessoas, o que significa que você tem de desenvolver habilidades que lhe permitam
entrever o que outras pessoas pensam, sentem e desejam.
Você
tem ser capaz de estabelecer contato com outras pessoas de maneira pacífica, o
que significa que você deve saber ter bons modos e desenvolver outras
habilidades sociais. O capitalismo
estimula um comportamento mais extrovertido, uma maior cautela quanto aos seus modos e mais
atenção a como seu comportamento afeta os outros.
O
capitalismo também estimula a transmissão de habilidades intelectuais,
emocionais e sociais que foram duramente conquistadas ao longo de gerações. O que você aprendeu, você quer repassar aos
seus filhos e netos, alunos, amigos e colegas, de modo que eles continuem a
desenvolver no futuro tudo o que você aprendeu.
É
sobre esses fundamentos que se constrói a civilização, e esta é exatamente
a definição de cultura. A humanidade
possui uma característica singular em todo o mundo: ela possui cultura. Lobos, uma manada de búfalos e um conjunto de
golfinhos também são organizações sociais; mas somente nós humanos transferimos
conhecimento e expressões tangíveis desse conhecimento ao longo de gerações.
Fazemos
isso porque temos a capacidade mental para fazê-lo. Porém, é o capitalismo que nos estimula a
utilizar essa capacidade mental, e a utilizá-la de tal maneira que sabemos como
aperfeiçoar tudo o que já foi criado anteriormente.
3) O capitalismo facilita o incremento da
satisfação pessoal de longo prazo, bem como a capacidade de se ter felicidade
na vida. Isso, por sua vez, estimula as
pessoas a se empenharem na excelência pessoal — que é a virtude da
felicidade.
Temos
dentro de nós os impulsos e os desejos que podem nos levar a prazeres de curto
prazo e a ações que podem causar grandes danos para nós mesmos e para
outros. Podemos ser violentos, podemos
ser insultuosos, podemos ser absortos, e podemos ser totalmente desatentos para
com os efeitos que temos sobre os outros.
Ceder
a estes impulsos e desejos regularmente significa criar uma vida destrutiva,
perigosa, dolorosa e curta. Estimular
tal estilo de vida como cultura é
criar um autêntico inferno na terra.
O
capitalismo faz com que seja supremamente recompensador e lucrativo fazermos
algo completamente diferente. Afinal, também
temos dentro de nós a capacidade de pensar, de planejar, de antever as
potenciais consequências de nossas ações, de aprender com nossos erros e com as
respostas de terceiros.
Quanto
mais utilizamos essa capacidade, mais desenvolvemos uma apreciação pela grande
felicidade e satisfação pessoal que pode advir do fato de sermos muito atentos
ao que fazemos; e aprendemos, com uma profundidade continuamente maior, como
aquilo que nós fazemos afeta a nós mesmos e aos outros.
O
capitalismo cria as circunstâncias externas que faz com que utilizar essa
capacidade seja um benefício. São essas
qualidades empáticas, recíprocas, de longo prazo e voltadas para o nosso exterior que
tornam possível uma grande diversidade de virtudes — gratidão, coragem,
empatia, produtividade, criatividade, perdão, bondade, integridade, compaixão e
perseverança, para citar apenas algumas.
4) O capitalismo nos estimula a cooperar
A
noção da "competição selvagem", em que impera a "lei do mais forte", é uma
antiga, duradoura e permanente imagem criada pelos inimigos do
capitalismo. No entanto, é justamente o
tipo de força bruta empregada pelo estado e pelos defensores do estatismo que
estimula tal comportamento violento.
A
competição dentro do capitalismo pode ser intensa e difícil, e insucessos (como
falências) são parte integrante deste sistema.
Porém, para ser bem sucedido em qualquer empreendimento, você tem de
aprender a cooperar com outras pessoas, saber trabalhar em conjunto com elas e
aprender com seus próprios erros e fracassos.
Quanto melhor você se tornar nisso, maior será o potencial que você
criará para o futuro.
São
os seus concorrentes que lhe obrigarão a aprimorar suas habilidade, a preservar
suas melhores práticas e a fornecer os melhores produtos e serviços para os
seus consumidores. Neste sentido, seus
concorrentes são seus aliados — eles não estão no ramo para destruir você
pessoalmente; eles estão concorrendo com você, envolvidos em uma relação ativa
que irá manter cada um de vocês dentro de suas margens de crescimento.
Nossos
antepassados cometeram o erro de aceitar as reivindicações morais do
socialismo. Eles aceitaram as virtuosas
reivindicações de compaixão feitas pelos progressistas, e foram seduzidos pela
visão que lhes foi apresentada de um mundo melhor, com pessoas melhores. Mas podemos perdoá-los por isso, uma vez que
eles não tiveram — ao contrário de nós — o benefício de poder olhar para os
últimos cem anos e testemunhar os resultados de tais visões idealistas.
Recordo-me
vivamente de minha (conservadora) avó dizendo que "o socialismo pode ser uma
boa ideia na teoria, mas ele
simplesmente não funciona." O que ela —
e milhões de outras pessoas — não entenderam é que a teoria é também igualmente péssima e nojenta.
O
que eles não entenderam é que os progressistas, os socialistas, os comunistas,
os fascistas... os estatistas de todas as matizes — aqueles que defendem o uso
da força do governo para moldar e construir os seres humanos à imagem e
semelhança daqueles que detêm o poder — não tinham absolutamente nada que
pudesse ser comparado ao poder benevolente das trocas voluntárias.
O
contraste entre o capitalismo e todas as formas de estatismo é tão nítido
quanto a diferença entre o que acontece quando uma madeireira é dona de sua
própria terra vis-à-vis quando ela faz uma locação de curto prazo para explorar
uma terra cujo dono é o estado.
Quando
uma empresa é dona de sua própria terra, ela possui vários incentivos para
cuidar muito bem daquela terra. Sua
preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, ela vai ceifar apenas um número
limitado de árvores, pois não apenas terá de replantar todas as que ceifou,
como também terá de deixar um número suficiente para a colheita do próximo ano.
Já
quando a madeireira possui um arrendamento de curto prazo, seu incentivo é
ceifar o máximo de árvores o mais rápido possível antes que o período de locação
expire.
O
capitalismo leva à civilização, ao planejamento de longo prazo, à empatia e à
contínua e crescente criação de valores.
O
estatismo gera em termos pessoais e culturais algo comparável a uma devastação
florestal.
O
capitalismo estimula o homem ambicioso a pensar: "O que eu posso criar ou
produzir que viria a ser de grande valor e benefício para as outras pessoas, de
modo que elas iriam voluntariamente e com prazer abrir mão de seu dinheiro
arduamente ganho em troca desta minha criação?
Como eu poderia me comunicar com elas e persuadi-las de que minha
criação possui esse valor? Como elas
poderiam fazer o melhor uso possível desta minha criação?"
Já
o estatismo estimula o homem ambicioso a pensar: "Como eu posso adquirir mais
poder para satisfazer minhas vontades, para utilizar a força para impor meus
ideais — bem intencionados ou perversos — sobre as outras pessoas?"
Em
uma disputa honesta para se determinar qual arranjo possui uma superioridade
moral incontestável — o capitalismo ou qualquer outra forma de estatismo —,
simplesmente não haveria disputa. Foi o
capitalismo o que nos tornou humanos.
É
o capitalismo que nos estimula a apresentarmos nossas melhores qualidades, a
utilizar o que há de melhor em nossa natureza humana, a considerar e respeitar
toda a experiência de terceiros e a trabalhar conjuntamente, e de maneira
pacífica, para fazer com que as boas coisas aconteçam.
A
defesa moral do capitalismo não é ambígua.
Muito menos se trata de uma questão de opinião. Ela é tão clara e nítida quanto a diferença
entre guerra e paz, liberdade e escravidão, sacrifício humano e empatia e amor.
Aprendamos
com os erros de nossos antepassados e corajosamente passemos a afirmar a
benevolência desta que é a maior força social que transforma para o bem: as relações
de troca possibilitadas pelo capitalismo.