As
recentes eclosões de violência indiscriminada na Europa realçam uma
perturbadora tendência que há muito vem sendo alertada por filósofos e
estudiosos das civilizações: o retrocesso da civilização ocidental. Palpiteiros e "especialistas" destilam na
televisão e em artigos de jornais inúmeras teorias para tentar explicar o que
está acontecendo. Algumas soam
suficientemente plausíveis, mas somente aqueles dentre nós que possuem um
sólido conhecimento da teoria econômica têm as ferramentas necessárias para
decifrar o significado destes atuais eventos.
Aqueles
que utilizarem essas ferramentas irão descobrir que o estado não apenas causou
diretamente estes distúrbios de várias maneiras (via assistencialismo,
militarismo, inflação monetária, escolas públicas e muito mais), como também
impediu as pessoas de defenderem a si próprias e a sua propriedade. Estou me referindo, é claro, às leis do
desarmamento.
Inglaterra
Primeiro,
consideremos os distúrbios que irromperam ao longo da Inglaterra na semana
passada. Vândalos e saqueadores, de
maneira arbitrária e petulante, saíram destruindo propriedades, incendiando,
roubando bens de lojas de família e assaltando transeuntes. Pessoas inocentes ficaram compreensivelmente
assustadas, temendo pelo seu bem-estar, especialmente quando viram que a
polícia era evidentemente inepta para colocar fim às badernas. Um repórter, após ser assaltado e espancado,
chamou as autoridades, e ouviu delas apenas a seguinte frase: "vá
pra casa".
Não
deveria ser nada surpreendente o fato de estas pessoas serem tão
indefesas. Em 2007, no ranking
de países listados de acordo com a posse de armas, Inglaterra, País de Gales e
Escócia estavam abaixo de praticamente todos os outros países desenvolvidos. As leis de desarmamento britânicas podem ser
descritas, no mínimo, como draconianas.
O Decreto das Armas de Fogo, de 1997, baniu
todas as armas do Reino Unido, inclusive revólveres e pistolas, permitindo
no máximo o porte de pistolas a ar.
(Curiosamente, essa legislação não foi aplicada à Irlanda do Norte, onde
a posse de armas é muito mais difundida.)
Todas
as armas de fogo "legais" requerem licença estatal para serem adquiridas. As pessoas que possuem licenças devem
comunicar à polícia todas as suas compras de armas, além de serem obrigadas a
enfrentar vários trâmites burocráticos para renovar suas licenças, sempre em um
curto intervalo de tempo. As delegacias
de polícia locais podem impor restrições adicionais ao porte de armas dentro de
suas jurisdições. A polícia tem o poder
de revogar a licença caso suspeite que o usuário violou uma regra dentre todo esse
emaranhado.
Todas
essas barreiras e burocracias elevam significativamente o custo de se comprar
uma arma de fogo, mesmo que seja apenas para guardá-la em casa.
A ciência econômica ensina que, quando o custo e a
burocracia de se obter algo aumentam, haverá menos desses bens nas mãos das
pessoas comuns. No caso inglês, o
resultado foi menos armas nas mãos de cidadãos decentes e menos maneiras de
pessoas inocentes defenderem a si próprias, suas famílias e suas propriedades.
Como
resultado desse recente surto de violência, os britânicos que quiseram defender
suas propriedades tiveram de recorrer a meios alternativos de autodefesa. A Amazon.co.uk relatou que as vendas
de porretes e de tacos de beisebol de alumínio dispararam mais de 5.000% na
noite do terceiro dia de badernas. Um
cliente escreveu no site a seguinte crítica:
Este taco tem um peso perfeito, é bem equilibrado e vai
servir otimamente a qualquer proprietário de loja no Reino Unido que queira
proteger sua propriedade. Graças ao seu
cabo ergonômico, um simples movimento de tacada já deve ser o suficiente para
destroçar rótulas, crânios ou qualquer outro osso que você queira estraçalhar
no vândalo que está lhe atacando.
Pessoalmente, recomendaria também investir em algumas luvas sem dedos,
apenas para melhor a aderência de sua mão ao taco.
Outra
questão a ser mencionada sobre a débâcle da Inglaterra envolve o assassinato
que desencadeou tudo isso. Um rapaz de
29 anos, chamado Mark Duggan, foi morto a tiros por agentes do estado no dia 4
de agosto de 2011, em Tottenham, onde os tumultos começaram logo em seguida. Os policiais rapidamente
acusaram a vítima de disparar contra eles, mas a Comissão Independente de
Queixas da Polícia relatou,
no dia 10 agosto, que não há nenhuma evidência de que a arma da vítima
encontrada no local do crime tenha sido disparada uma só vez.
Talvez
a polícia estaria menos propensa a assassinar cidadãos a sangue frio caso ela
estivesse lidando com uma população armada.
Noruega
Também
nada surpreendentemente, a Noruega é também um bastião do fanatismo
desarmamentista, embora a posse de armas seja mais prevalecente entre os
noruegueses do que entre os britânicos.
(A posse de armas em ambos os países é bem mais baixa do que nos
EUA). As leis norueguesas baniram todas
as armas automáticas. Revólveres e
pistolas só são permitidos caso sejam de um determinado calibre, e há
restrições sobre os tipos e quantidades de munição que um indivíduo pode
comprar. Andar nas ruas portando armas
ocultas é ilegal. (Nos EUA, isso é legal
em vários estados, sendo que Alaska, Vermont, Arizona e Wyoming permitem que
seus cidadãos carregam armas sem exigir qualquer registro).
Como
lamentavelmente é a regra em nosso mundo, todos os pretensos proprietários de
armas têm primeiro de requerer licenças, as quais normalmente são concedidas apenas
a caçadores e a atiradores profissionais.
Se você for sortudo o suficiente para obter uma licença, a polícia
automaticamente adquire o direito de inspecionar sua casa para averiguar se
suas armas estão adequadamente armazenadas.
Como
bem sabemos, essas rígidas leis de nada adiantaram para impedir Anders Behring
Breivik de massacrar 69 pessoas na minúscula ilha de Utøya. Com efeito, se apenas um orientador daquele
acampamento possuísse uma arma de fogo, talvez a tragédia teria terminado de
maneira diferente, certamente com muito menos sangue e mortes.
É
incompreensível para mim o fato de os organizadores de um acampamento juvenil
ocorrendo em um local deserto e descampado não terem planejado antecipadamente meios
de defender as crianças. Isso é o ápice
da irresponsabilidade. É realmente
alguma surpresa que o acampamento tenha sido organizado pelo esquerdista
Partido Trabalhista?
Mais
uma vez, os agentes do estado comprovaram sua incompetência. A polícia só chegou a Utøya uma hora depois
de o maníaco ter começado sua carnificina.
É isso o que ocorre quando se dá a um grupo estatal — a polícia — o
monopólio prático da propriedade de armas.
Aqueles
de nós familiarizados com a teoria misesiana sabemos que o estado sempre
reagirá às desastrosas consequências do intervencionismo com ainda mais
intervencionismo. Como se estivessem
ansiosos para dar razão a Mises, políticos finlandeses rapidamente anunciaram,
após os ataques na Noruega, que irão acelerar a imposição de políticas
desarmamentistas muito mais rígidas na Finlândia. Essas novas regras farão com que revólveres e
pistolas passem a ser muito menos acessíveis, irão elevar a idade mínima para a
posse de armas e irão impor aos requerentes de licenças que se submetam a
"testes para averiguar sua adequação".
Os
políticos, sem dúvida, estão prometendo que tais leis deixarão as pessoas mais
seguras. Os seguidores da 'Lei de
Rockwell', entretanto, já sabem exatamente o que esperar e como devem reagir: "Sempre
acredite no oposto daquilo que o governo diz, e sempre faça o oposto daquilo
que ele recomenda."
Conclusão
A
sociedade ocidental está claramente se degradando. À medida que as pessoas e os governos vão se
afundando em dívidas, o crescimento econômico permanecerá, na melhor das
hipóteses, estagnado. As classes
dependentes, que vivem do assistencialismo, verão seu padrão de vida se
deteriorando rapidamente à medida que a crise vai se desdobrando. Se a história nos serve de guia, ondas de
crimes e inquietações sociais não estão muito longe no horizonte. Já estamos testemunhando o início dessa
tendência em países como Inglaterra e Noruega, onde restrições à posse de armas
estimulam a violência, a destruição e a pilhagem, além de deixarem cidadãos de
bem completamente desarmados, sem proteção policial e totalmente à mercê de
vândalos.
A
principal lição a ser retirada de tudo isso é a importância de ser ter meios de
se proteger a si próprio, a sua propriedade e a seus parentes amados nessas
épocas vindouras de pânico e incerteza.
Se você confiar no governo, poderá perder tudo o que construiu.