quinta-feira, 30 jun 2011
Já observou como a mídia relata a intolerável
natureza das medidas de austeridade na Grécia?
Já leu alguma matéria elogiosa a essas medidas de austeridade e pedindo
por ainda mais austeridade? Pois aqui
vai.
A austeridade de que se fala é um código para
"cortes nos gastos do governo". Em uma
mídia controlada por keynesianos, a ideia de cortes nos gastos governamentais é
um pesadelo. Keynesianos acreditam que
os gastos do governo são a fonte tanto da estabilidade quanto do crescimento da
economia. Qualquer sugestão de que o
governo tenha gasto muito dinheiro é imediatamente considerada herética.
A ideia de que é um benefício econômico impor uma
maior austeridade sobre todos os governos baseia-se em uma pressuposição que é,
por si só, contrária ao keynesianismo — a saber, que o gasto privado é o gasto
que deveria ser amplamente predominante em uma economia, ao passo que os todos
os gastos governamentais — nacional, estaduais e municipais — deveriam preferencialmente
não chegar aos dois dígitos. Em uma era
na qual esse número está sempre acima de 40%, e até maior em alguns países da
Europa Ocidental, uma austeridade desta magnitude é considerada economicamente
insana.
Entretanto, um nível de tributação abaixo dos dois
dígitos era algo universal em todo o período anterior à Primeira Guerra
Mundial. A guerra justificou uma maciça
ampliação na tributação e no endividamento, uma ampliação que nunca mais foi
revertida.
Para os keynesianos, impor austeridade para os
governos é o equivalente a impor austeridade sobre as pessoas. A ideia de que o governo deveria tributar
menos, se endividar menos e inflacionar menos a moeda é anátema para os
keynesianos. Supostamente, tal
austeridade iria cortar o fluxo de riqueza das pessoas. Sem o estado atuando como fonte de fundos
para comprar bens e serviços, a economia iria entrar em uma espiral de
desemprego e desespero. Ou é isso o que
dizem.
Uma
situação de teste
As notícias que vêm da Grécia são ruins para o
ponto de vista keynesiano e para o sistema bancário. Nos dias 18 e 19 de junho, o esperado pacote
de socorro criado pelos políticos do norte da Europa, para benefício único dos
grandes bancos europeus, não se concretizou.
Durante toda a semana anterior, a mídia relatou que a chanceler alemã
Angela Merkel vinha amolecendo, se tornando cada vez mais disposta a aceitar a
ideia de mais um pacote de socorro. No
ano passado ela havia resistido à ideia, mas acabou cedendo no último
minuto. O pacote de socorro 2010 foi
aprovado. Desta vez, sem aviso, sua aceitação
de último minuto não produziu o resultado esperado. O encontro ocorrido no fim de semana entre os
ministros das finanças europeus não gerou o esperado prolongamento dos
empréstimos dos governos europeus para o governo grego.
As bolsas vinham subindo à medida que o fim de
semana se aproximava. Os investidores
acreditaram nas manchetes dos jornais.
Eles achavam que os políticos europeus iriam conduzir outro assalto aos
cofres dos seus respectivos países para que o governo grego pudesse continuar
pagando regularmente juros aos bancos do norte europeu. O pacote de socorro, como sempre, era apenas
mais um pacote de socorro aos bancos, só que disfarçado de pacote de socorro ao
governo grego. Porém, sem qualquer
aviso, os ministros das finanças decidiram não aprovar o pacote. Eles emitiram uma declaração:
"A sustentabilidade da
dívida depende criticamente de o governo grego aderir firmemente ao acordado pacote
de consolidação fiscal, aos planos de coletar 50 bilhões de euros de receitas
de privatização até 2015, e à agenda de reformas estruturais que irão promover
um crescimento de médio prazo".
Ainda na semana passada, manifestantes gregos
tomaram as ruas para protestar. Eles
estavam enviando uma mensagem ao governo grego: nada de cortes no
orçamento. De certa forma, a decisão dos
ministros das finanças durante o fim de semana enviou uma mensagem em resposta. Se os cortes não ocorrerem
como prometido pelo governo grego, não haverá um novo pacote de socorro.
Ontem, o congresso grego aprovou um pacote de
austeridade. Resta saber se irá
implantá-lo.
Chegou a hora da verdade. O governo grego está encurralado. Os manifestantes parecem representar a
maioria dos eleitores gregos. Se o governo
de fato fizer os cortes de gasto, ele provavelmente perderá a próxima
eleição. Se ele se recusar a fazê-lo, pode
não receber a próxima rodada de empréstimos.
Os políticos do norte da Europa podem estar blefando. Eles estão colocando em risco grandes bancos
europeus detentores de títulos da dívida grega.
Se a Grécia der o calote na sua dívida, os grandes bancos terão
prejuízos substanciais. O mesmo ocorrerá
com os bancos americanos, que venderam aos bancos europeus seguros contra
calotes.
Trata-se de um jogo político para ver quem é o
covarde. O destino do euro está em jogo.
Se o governo grego decidir sair da União Monetária
Europeia e retornar à sua própria moeda, os governos de Portugal e Espanha
também começarão a ver a luz no fim de seus respectivos túneis fiscais.
Governos sempre resistem à austeridade. Políticos compram votos com os gastos
governamentais. Porém, como na Europa
eles não controlam diretamente seus sistemas monetários domésticos, eles acabam
tendo de recorrer ao endividamento e aos impostos para financiar seus
gastos. Eles não podem pedir aos seus
respectivos bancos centrais para darem ordens aos bancos para criarem moeda
fiduciária e comprar títulos públicos.
Isso deixa os governos à mercê dos investidores que compram títulos, os
quais são notoriamente inclementes. Esses
investidores podem vetar planos de políticos ao simplesmente se recusarem a
continuar emprestando a juros baixos. Ao
fazer isso, eles obrigam os políticos a pagarem juros mais altos. E os políticos odeiam isso. Se os juros subirem muito, isso pode causar
uma recessão. Por isso, políticos
preferem ocultar essa situação fazendo com que o banco central se torne o
emprestador de última instância. Porém,
o Banco Central europeu vem se recusando a jogar esse jogo.
A Grécia é agora a situação de teste. A Islândia ludibriou os bancos europeus e deu
o calote na sua dívida externa. Até
agora, isso fez com que a economia
islandesa
ressuscitasse, algo que a mídia não discute em detalhes. A Islândia
se saiu melhor que a Irlanda, que se curvou à União Europeia e ao Banco Central
Europeu.
A Islândia possuía essa enorme vantagem: ela nunca
se juntou à União Monetária Europeia.
Ela agora desfruta baixas taxas de juros sobre seus títulos. Isso indica que a Grécia pode escapar da
armadilha caso se retire de União Monetária Europeia e declare moratória sobre
sua dívida externa. Isso mandaria uma
mensagem para Portugal e Espanha: a libertação é uma opção. Ludibrie os credores estrangeiros e abandone
o euro.
Quanto à austeridade governamental, ela é boa para
o setor privado. E péssima para os
sindicatos de funcionários públicos.
Sindicatos não gostam de medidas de austeridade.
Os
esquecidos
Vemos os sindicalistas nas ruas de Grécia. Vemos — ou pelo menos ouvimos — os
ministros das finanças da União Europeia.
Porém, a famosa maioria silenciosa permanece em silêncio.
Os eleitores alemães não querem ouvir falar de
mais um pacote de socorro. Eles não
quiseram o primeiro ano passado. Mas
isso não restringiu o governo Merkel. A
Alemanha continua sendo a tesoureira, como tem sido por uma geração.
Os eleitores do Ocidente, através de uma educação
controlada pelo estado, foram treinados a acreditar na economia
keynesiana. Não obstante, eles estão
ficando cada vez mais irritados e impacientes com essas infindáveis convocações
para socorrer governos perdulários e os credores que emprestaram dinheiro para
esses governos a juros baixos.
O homem esquecido é aquele que paga seus impostos,
paga suas contas, paga suas dívidas e aparece pontualmente no trabalho todas as
manhãs. Ele sabe o que é
austeridade. Austeridade para ele
significa fazer seu trabalho bem feito e pagar suas contas. Significa abrir mão de prazeres que ele não
pode bancar. Para ele, austeridade
significa ater-se rigidamente a um orçamento mensal.
E então ele ouve que austeridade é algo impensável
para os políticos gregos. Ele pode
acreditar nisso no que concerne ao seu próprio governo; ele já absorveu as máximas do
keynesianismo. Mas o keynesianismo
sempre teve problemas para explicar aos eleitores por que eles devem pagar
impostos mais altos para socorrer governos estrangeiros perdulários. É por isso que ajudas estrangeiras de
governos para governos sempre foram algo impopular. Quando os eleitores ouvem políticos dizer que
eles precisam pagar mais impostos para socorrer governos estrangeiros, eles se
rebelam. Não há lábia política que os
convençam dessa necessidade.
Dado que o real motivo para o pacote de socorro é
salvar os investimentos feitos pelos grandes bancos protegidos pelo governo, os
políticos têm dificuldades em persuadir os eleitores de que outra rodada de
pacotes de socorro é uma boa ideia. Se
os políticos forem sinceros e disserem que não socorrer o governo grego
provocaria a falência de alguns bancos específicos, isso poderia —
provavelmente iria — provocar uma corrida a esses bancos, com os correntistas
sacando todo o seu dinheiro. E os
políticos não querem correr esse risco.
Os grandes bancos europeus colocaram os políticos
de seus respectivos países em uma armadilha.
Os políticos estão tendo de lidar com a ira dos eleitores, que já estão
fartos de financiar pacotes de socorro.
Mas os políticos estão com medo de prejudicar os grandes bancos, dado
que esses bancos são a fonte do financiamento dos gastos de seus governos. Se os bancos pararem de comprar títulos da
dívida doméstica, os políticos terão de elevar impostos — ou, ainda pior para
eles, terão de sofrer a indignidade suprema: austeridade. E eles querem evitar ambas as opções.
O homem esquecido é a espinha dorsal de toda a
ordem social. Em seu nome, políticos e
burocratas gastam os tubos. Ao homem
comum cabe o papel de pagar a conta, e ele deve resignar-se a essa função, e
de cara boa. Os pacotes de socorro saem
integralmente do seu couro, e no entanto os políticos insistem em dizer que
estão socorrendo o governo grego para o benefício desse próprio cidadão. E ele não está mais caindo nessa conversa, se
é que já caiu algum dia.
E assim, políticos e ministros profissionais irão
fingir que estão sendo firmes nas negociações.
Eles vivem para isso. Se fossem sérios,
diriam ao governo grego que não haverá mais pacotes de socorro, aconteça o que
acontecer. Isso acabaria com esse
constante adiamento do evento que a maioria dos analistas crê ser o mais
provável: um calote grego. As únicas
questões são: (1) descobrir em qual momento específico ocorrerá o calote, (2) o
total da dívida pendente quando isto ocorrer, e (3) o truque semântico que o
governo grego irá utilizar para mascarar o calote.
Os esquecidos permanecerão esquecidos. Eles não controlam as decisões tomadas nos
mais altos escalões. O passo rumo à
unificação política e monetária da Europa não foi o resultado de um movimento
das massas. Tudo ocorreu porque Jean Monnet trabalhou para
isso desde 1918. Ele fez isso em nome de
interesses corporativos, bancários e políticos que defendiam a centralização do
dinheiro e do poder. Monnet, Robert Schuman e toda a
turma que arquitetou essa centralização por detrás dos bastidores nunca foram
vistos pelo cidadão comum de Europa como os reais arquitetos da destruição da
velha Europa. Eles próprios, também, se
tornaram esquecidos, exceto por um punhado de especialistas em história, a
maioria dos quais aprova o que eles fizeram.
Hilaire du
Berrier
Houve apenas um homem que relatou tudo o que vinha
ocorrendo. E ele fez isso durante meio
século. Hilaire du Berrier,
o "espião de Dakota do Norte". Ele
morreu em 2002. Ele editava um boletim
informativo de pequena circulação, HduB
Reports, narrando cronologicamente estes eventos e os falando sobre os
agentes que arquitetavam tudo. Tenho um
conjunto desses excelentes boletins em um CD-ROM. Esse material nunca foi
publicado. Algum dia, espero poder
disponibilizá-lo para pesquisadores sérios.
Em uma entrevista concedida em 1999 a outro
notável historiador, Jim Lucier, discutiu-se o advento do euro. Du Berrier fez algumas observações que se perderam
na memória. E elas precisam ser
resgatadas.
Bom, em 1º de janeiro,
os europeus supostamente adotarão o euro e perderão suas moedas nacionais. Quando os proponentes da integração europeia
fundaram esse movimento europeu ao final da Segunda Guerra Mundial, eles
disseram aos europeus que se tratava apenas da criação de um mercado comum com
o intuito de derrubar barreiras comerciais e eliminar tarifas alfandegárias. Então, quando eles já haviam atraído e levado
os países europeus a um envolvimento do qual eles não mais podiam recuar, esses
proponentes simplesmente falaram que a ideia agora era formar uma República da
Europa — um país, uma super-nação, com um parlamento em Estrasburgo e outro em
Bruxelas, e um banco central na Alemanha.
Atualmente, eles já se encontram em um estágio tão avançado, que 11
nações já se comprometeram a adotar essa nova moeda — e a elas está sendo dito
que se trata de um lance político, e que serão governadas por um parlamento
central.
Os homens que armaram
isso, fizeram tudo em encontros secretos na Embaixada Americana em Paris pouco
tempo depois da guerra. David K. Bruce
era o embaixador americano da época, e sua mulher, Evangeline, em suas
memórias, disse que testemunhou todo o movimento europeu sendo criado na frente
de seus olhos. Disse ela: "Tudo poderia
ter sido feito em outro lugar, mas foi feito lá, e foi realmente possível ver a
ideia sendo cristalizada. As conversas
ocorriam diariamente e, no final de tudo, eles simplesmente descartaram aquilo
que realmente era o plano original para o Mercado Comum".
Dean Acheson, dos
Estados Unidos, e Jean Monnet e Robert Schuman, da França, fizeram o
planejamento. George Ball, um americano,
era o advogado de Monnet. John Foster
Dulles também participou de tudo.
Nesta época, em 1999, Du Berrier já vinha
escrevendo há 40 anos, documentando tudo o que ocorria. Ele resumiu:
Bem, esses países que
entrarem nesse arranjo verão suas soberanias lhes serem arrancadas, pois o
Parlamento da Europa, essa Europa super-estado, terá prioridade sobre os
parlamentos, leis e constituições nativas.
E assim, países até então independentes, irão se tornar províncias.
Esse processo ainda está se desenrolando. Mas os gregos jogaram uma chave-inglesa nas
engrenagens.
Lucier: O que irá
ocorrer com o euro? Vai ser uma moeda
forte ou irá causar uma depressão na Europa?
HduB: As melhores
autoridades da Europa estão divididas.
Alguns dizem que irá gerar problemas; outros dizem que o euro será tão
forte que irá provocar uma perda de confiança na libra esterlina e no
dólar. O que ocorrerá é que o euro irá
atacar a tradição. Ao mesmo tempo em que
a Europa será atingida no plexo solar de suas tradições, veremos o início da
guerra islâmica. Espremida entre esses
dois fenômenos, a Europa vivenciará tempos difíceis.
O euro não irá se manter. A crise doméstica dos muçulmanos
desempregados, que não se integraram às nações européias que os acolheram, está
se acelerando. Os melhores planos concebidos
por burocratas proponentes de um governo mundial não se concretizarão. Mas será necessário um grande abalo nas
fundações econômicas para se retirar o poder de Bruxelas. E esse abalo já começou.
Conclusão
A não aprovação do pacote de socorro dois
fins-de-semana atrás indica que a crise da dívida grega é pior do que o público
foi levado a crer. Os ministros das
finanças decidiram esperar o governo da Grécia tomar atitudes. Isso forçou a aprovação das medidas de
austeridade. Resta saber se elas serão
de fato implementadas.
Em minha opinião, não há a menor chance de os
políticos gregos de fato imporem as medidas de austeridade exigidas pelos
políticos e burocratas europeus. Assim,
um dos lados irá se render. Dado o
sucesso dos políticos da Islândia, os gregos parecem estar no controle.
O keynesianismo doméstico da Grécia irá triunfar
sobre o keynesianismo internacional da União Europeia. Cedo ou tarde, os políticos europeus irão
dizer não a outro pacote de socorro. Os
políticos gregos também irão dizer não à austeridade. Isso irá marcar o início do fim do euro.
Hilaire du Berrier teria adorado ver tudo
isso. Eu estou.